Se é possível dizer que algo de bom pode resultar de um conflito entre dois países, ainda que sem armas, a corrida espacial foi um grande legado da Guerra Fria. Estados Unidos e União Soviética eram rivais até fora da Terra: quem chegaria primeiro na Lua, exploraria um asteroide ou pisaria em Marte?
Os investimentos pesados na tecnologia espacial foram uma das estratégias para que um país tentasse se mostrar superior ao outro. Mas, com o fim do bloco comunista, o esforço de mandar o homem para o espaço sofreu uma pausa.
Leia todas as notícias do Planeta Ciência
Leia as últimas notícias de Zero Hora
- A corrida espacial durante a Guerra Fria tinha motivação política, então qualquer despesa se justificava. Hoje, o orçamento espacial disputa com obras de infraestrutura, programas sociais e, por uma questão de prioridades, acaba ficando em segundo plano - avalia o físico Antônio Bertachini, doutor em Ciências de Engenharia Aeroespacial e pesquisador na Divisão de Mecânica Espacial do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Este cenário de estagnação espacial pós-guerra já acabou. Assim como a dicotomia. Estaria ensaiando-se uma nova corrida espacial? Além de EUA e Rússia, China, Japão, países da União Europeia e Índia (que em setembro fez história ao colocar uma sonda na órbita de Marte, com um orçamento mínimo) estão se esforçando para isso.
Houve uma mudança de cenário e a briga para ser "dono do campinho" foi substituída pela percepção de que as futuras descobertas só serão possíveis se as nações trabalharem em conjunto. Assim, os problemas científicos e de engenharia deste projeto ambicioso, arriscado e caro de ir a Marte podem ser superados menos penosamente.
Depois do trampolim da Guerra Fria, os especialistas consideram que um salto ainda maior pode ser dado quando as empresas privadas entrarem no jogo. Um exemplo é americana Space X, que em janeiro lançou a cápsula não tripulada Dragon até a Estação Espacial Internacional. Em 11 de fevereiro, ela chegou de viagem. Aterrissou trazendo equipamentos, lixo e amostras de experimentos científicos. O grande trunfo da empresa é o foguete Falcon 9, que promete reduzir os curstos das viagens espaciais, pois é capaz de retornar, pousar e ser reutilizado.
Mas o desafio é monstruoso para essas empresas. No final de 2014, a SpaceShipTwo, da Virgin Galactic, que promete fazer turismo espacial em voos suborbitais, explodiu durante um teste. Mesmo assim, passagens são vendidas a US$ 250 mil, e celebridades como Tom Hanks e Brad Pitt já compraram.
Os investimentos privados, julgam os cientistas, não vão ser o suficiente para impulsionar a ciência. As alianças internacionais, sim. A Nasa reconhece isso:
- É bem provável que a missão para Marte seja multinacional, de modo que nenhum político de um só país coordene o projeto inteiro.Isto vai requerer muita cooperação das nações ao redor do globo - afirma o coordenador do Programa de Pesquisa em Humanos da Nasa, doutor William Paloski.
Na Lua ou em Marte
Novas conquistas espaciais estão ligadas a alianças internacionais, dizem especialistas
Empresas privadas também podem entrar no jogo para impulsionar novas descobertas
GZH faz parte do The Trust Project