Gaste um minuto do seu dia freneticamente ocupado para considerar a vida bem diferente da preguiça-de-três-dedos.
É verdade que a preguiça, que habita as selvas da América Central e América do Sul, quase não prevaleceria em uma corrida contra um caracol; porém, ela não é preguiçosa porque é lenta. Pelo contrário, ela conquistou um modo de vida surpreendentemente engenhoso na copa das árvores, só que um que impõe certas restrições a sua velocidade e nível de energia.
A preguiça não é somente um animal como também um ecossistema ambulante. Esse conjunto apertado consiste em a) a preguiça; b) uma espécie de mariposa que não vive em nenhum lugar senão nos pelos da preguiça; e c) uma espécie dedicada de alga que nasce em canais especiais nos pelos cheios de ranhuras da preguiça.
Limpe uma preguiça-de-três-dedos e mais de cem mariposas podem sair voando. Quando a preguiça se limpa, os seus dedos se movem tão lentamente que as mariposas não têm dificuldade em fugir.
A provável interação desses três componentes agora foi compreendida por uma equipe de biólogos liderada por Jonathan N. Pauli e M. Zachariah Peery da Universidade de Wisconsin. O primeiro passo deles foi ponderar sobre um mistério de 35 anos acerca do comportamento da preguiça.
Todas as semanas, ou perto disso, a preguiça desce de sua árvore predileta para defecar. Ela cava um buraco, cobre o excremento com folhas e, se tiver sorte, sobe novamente a sua árvore.
A preguiça é altamente vulnerável no chão e é uma presa fácil para as onças nas florestas, e para os coiotes e cães selvagens nas plantações de cacau produtoras de chocolate que ela aprendeu a colonizar. Metade de todas as mortes das preguiças ocorre no chão. O outro perigo sério à vida da preguiça é um predador aéreo, a harpia.
Por que, então, o bicho preguiça se arrisca todas as semanas? Os primeiros pesquisadores que prestaram atenção a esse enigma, em 1978, sugeriram que o bicho preguiça buscava fertilizar a sua árvore predileta. Ao mesmo tempo, presumiu-se que a alga que dava uma cor esverdeada ao pelo do animal, funcionava como camuflagem.
Escrevendo em janeiro na revista Proceedings of the Royal Society B, os pesquisadores de Wisconsin montaram todas essas peças de uma maneira diferente. Eles começaram tentando entender o que compeliria a preguiça a encarar os perigos de uma visita semanal ao chão.
A sua prima evolucionária distante, a preguiça-de-dois-dedos, permanece segura na copa, fora dos olhos da onça. A visita ao chão, os pesquisadores concluíram, não poderia ser para o benefício da árvore, porque o excremento da preguiça não faria muita diferença na sua nutrição.
Em vez disso, os cientistas concluíram que era para favorecer um componente crítico do ecossistema da preguiça, a mariposa da família pyralidae. A descida proporciona às mariposas gestantes no seu pelo uma oportunidade de pôr os ovos.
As lagartas da mariposa são coprófagas ou, para falar sem rodeios, são consumidoras de excremento.
Elas crescem à maturidade nas pelotas de estrume da preguiça e, ao incubar, sobrevoam até a árvore para encontrar uma preguiça anfitriã. Usando o pelo do animal como casa, elas na maioria das vezes mudam as asas e moram lá felizes para o resto dos seus dias, acasalando e morrendo em um ambiente seguro e protegido.
Após morrerem, os corpos são decompostos pelo exército de fungos e bactérias no pelo da preguiça. Os produtos metabólicos dessa decomposição, especialmente o nitrogênio, são a matéria-prima para as algas exclusivas que crescem nos sulcos dos pelos da preguiça. Os pesquisadores imaginaram que as preguiças podem se alimentar com alga do próprio pelo, e que isso poderia ser o propósito de todo o sistema.
Folhas são fontes fracas de nutrição, e os animais que dependem delas, como os gorilas, sempre precisam de grandes intestinos para armazenar todas elas. A preguiça, tendo de subir em galhos finos, não pode ter um intestino grande. Ela se movimenta devagar porque cada caloria despendida é muito importante, e pode desacelerar o metabolismo. Contudo, a invenção de ceder o seu pelo para a cultura de algas resolveria o seu problema de nutrição limitada.
Pauli e os seus colegas imaginaram que a preguiça poderia superar a deficiência da sua dieta de folhas comendo as algas no seu pelo, e que as mariposas eram o fertilizante essencial para as algas.
No estudo, eles relatam muitos indícios apoiando a hipótese. Quanto maior a infestação de mariposas, mais nitrogênio uma preguiça-de-três-dedos carrega em seu pelo e maior a quantidade de algas. Uma análise do conteúdo do estômago demonstrou que, de fato, as preguiças comiam a alga.
As preguiças-de-dois-dedos, que defecam das árvores, também abrigam mariposas, embora em menor escala. Mesmo assim, elas parecem estar se aproveitando do mutualismo entre a preguiça, a mariposa e a alga sem compartilhar risco algum. O que poderia ser mais baixo na escala moral do que uma preguiça parasita?
Pauli contou que ele e Peery começaram o projeto com as preguiças em 2009 em uma plantação de cacau na Costa Rica, com o intuito de ver se as preguiças podiam colonizar as plantações quando suas florestas nativas fossem destruídas. Estudar os movimentos de uma preguiça pode parecer tão empolgante quanto assistir tinta secando, mas, segundo Pauli, os pesquisadores evitaram esse tédio rastreando as preguiças com a utilização de colares eletrônicos.
Os engenheiros genéticos às vezes sonham em inserir moléculas de clorofila nas células da pele humana para que as pessoas possam sintetizar o próprio alimento. O bicho preguiça teve a ideia primeiro, provavelmente, milhões de anos atrás.
Ok, de volta aos seus horários irritantes e corridos. Porém, não se esqueçam da preguiça, que resolveu todos os seus problemas em um ritmo bem mais vagaroso.
Sobrevivência lenta
Equipe de biólogos estuda comportamento do bicho-preguiça
O estudo, liderado por dois pesquisadores da Universidade de Wisconsin, pode ter respondido o mistério sobre o motivo do animal se aventurar pelo chão
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