A cocaína está longe de ser inofensiva para quem a usa, e isso inclui, é claro, gestantes usuárias da droga. Entre os malefícios que causa, estão o aumento na pressão arterial da gestante, a indução de parto prematuro e outras complicações. No entanto, diversos estudos realizados na Filadélfia ao longo dos últimos vinte anos concluíram que a pobreza é mais prejudicial para a inteligência de bebês do que o consumo de cocaína por suas mães durante a gravidez.
Em 1989, quando a neonatalogista Hallam Hurt começou a trabalhar com o tema, um em cada seis nascidos vivos nos hospitais da Filadélfia era filho de mãe usuária de cocaína. Era grande o alarde na imprensa sobre os "crack babies" - filhos do crack que estariam condenados a uma vida de problemas mentais.
Desde aquela época, Hallam vem publicando resultados de sua pesquisa em revistas científicas e apresentou um resumo de suas conclusões no Children's Hospital da Filadélfia em junho. A cientista concluiu que os "filhos do crack" têm desempenho similar aos filhos de mães não usuárias provenientes do mesmo extrato social em testes de inteligência. Só que ambos os grupos obtiveram resultados inferiores à média da população da mesma idade, o que levou à conclusão de que as condições sociais são mais importantes para o desenvolvimento infantil.
É claro que o uso de crack e cocaína pelos pais pode levar a um ambiente doméstico ruim para a criança. Aos sete anos, 81% das crianças pesquisadas por Hallam já tinham visto alguém ser preso; 74% tinham ouvido tiros; 35% tinham visto alguém ser baleado e 19% tinham visto um cadáver na rua.