Para um alcoólatra em recuperação, as recordações associadas ao consumo do álcool, como o cheiro característico de bares e o som do gelo estralando no copo, estão entre as maiores ameaças à sobriedade. E se o acesso a essas lembranças pudesse ser bloqueado?
Com o uso de um medicamento geralmente fornecido a pacientes transplantados, pesquisadores da Universidade da Califórnia, em São Francisco, reduziram a incidência de recaídas em ratos pelo bloqueio da memória associada ao hábito de beber.
Por diversas semanas, os pesquisadores permitiram que ratos se fartassem de bebidas alcoólicas. Depois os roedores passavam 10 dias abstinentes e eram expostos a apenas uma gota de álcool - o suficiente para despertar a lembrança do hábito de beber.
Com exames de imagem cerebrais, os pesquisadores identificaram os mecanismos neurais responsáveis por desencadear a memória, conhecidos como via de sinalização de mTORC1. Em seguida, os ratos receberam rapamicina, medicamento conhecido por bloquear essa via. Os ratos que receberam o medicamento estavam significativamente menos propensos ao consumo de bebidas alcoólicas.
- Uma aplicação apenas do medicamento evitou recaídas durante duas semanas - afirmou Dorit Ron, neurologista da universidade e um dos autores do estudo, publicado no periódico Nature Neuroscience. É difícil afirmar quanto tempo os ratos permaneceriam sem álcool, acrescentou o cientista, porque o estudo foi encerrado após duas semanas.
A rapamicina é administrada normalmente a pacientes transplantados para inibir o sistema imunológico e é regulamentada nos Estados Unidos. Entretanto, mais estudos são necessários para determinar se o medicamento pode ajudar as pessoas a ficarem longe do álcool, afirmou Ron, acrescentando que a droga também possui efeitos colaterais importantes, incluindo o aumento da suscetibilidade a infecções.