Óleo de cozinha usado, garrafas PET, água, álcool e soda cáustica. Com as quantidades ideais, os ingredientes estão ajudando gaúchos que tiveram as casas invadidas pela água de enchentes. Esta é a receita utilizada por diferentes grupos da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) para a produção de sabão líquido, posteriormente doado para a limpeza das residências. Além desta, surgem outras iniciativas de instituições de ensino do Estado, como a confecção de rodos de madeira planejados, xampu e até repelente com extrato de citronela.
No caso do sabão, já são cerca de 2,5 mil litros fabricados em unidades da Uergs em Porto Alegre, Bento Gonçalves, Três Passos, Erechim e Santa Cruz do Sul nas últimas semanas, com distribuição em cidades como Muçum, Roca Sales, Cruzeiro do Sul, Lajeado e Encantado. Só na Capital, em um dia de produção, foram 200 litros. O material foi entregue em abrigos e levado a regiões atingidas dos bairros Cidade Baixa, incluindo o entorno do Pão dos Pobres, além da Vila Assunção, na Zona Sul.
— O projeto Mãos Solidárias teve início na pandemia, na época em que o sabão era utilizado visando a lavagem das mãos. Agora, a retomada está focada na limpeza das superfícies e utensílios domésticos, no retorno das pessoas para as suas casas. Aqui em Porto Alegre, começamos a ação na última terça-feira (21), e a demanda está muito grande. Vamos seguir enquanto tivermos pedidos — detalha a professora Lucia Ries, coordenadora do projeto na Capital.
Para isso, o grupo conta com a doação de óleo de oliva cedido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) após rejeição no controle de qualidade, assim como óleo de cozinha usado, em boas condições. Os demais insumos são de estoques da própria universidade e, também, doados pela comunidade via PIX. Uma gráfica da cidade colabora com a impressão de rótulos gratuitos para a identificação das garrafas.
— O nosso objetivo maior é ajudar a população metropolitana, que foi severamente atingida pelas enchentes. A universidade não tem apenas o viés do ensino. Nos últimos anos, tem se dado muito enfoque à extensão, que significa levar para a comunidade aquilo que é desenvolvido dentro da instituição — conta Lucia Ries, sobre a ação integrada também por Lilian Hickert, Ana Lúcia Kern, Andrea da Silva, Arethuza Dornelles, Cristiane Pibernat e Victoria dos Santos.
A universidade não tem apenas o viés do ensino. Nos últimos anos, tem se dado muito enfoque à extensão, que significa levar para a comunidade aquilo que é desenvolvido dentro da instituição.
LUCIA RIES
Coordenadora do projeto Mãos Solidárias em Porto Alegre
Quem desejar auxiliar, a contribuição pode ser feita pelo PIX da professora Lilian, no número 51 99374-3107.
Rodos de madeira
Para a produção de rodos de madeira planejados, a Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) contou com dois princípios: colaboração e inovação. Em uma integração entre alunos da pós-graduação, professores, laboratórios da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e empresas, já foram confeccionados 800 unidades. No momento, o trabalho está no segundo lote, de mais 2 mil equipamentos de limpeza.
— Ao ver vídeos de moradores fazendo o árduo trabalho de remoção do lodo e entulhos, quando a água baixou, percebemos que os rodos precisavam ser fortes, resistentes à umidade e leves. Por isso, em parceria com a arquiteta e doutoranda Barbara Lorenzoni, desenvolvemos protótipos e o processo de fabricação digital. Nos pareceu a solução, já que a demanda é alta e, o prazo, curto — explica Léia Bruscato, professora da graduação em Arquitetura e do programa de pós-graduação em Design da UFRGS.
As chapas de compensado naval e ripas de eucalipto são encomendadas e depois enviadas para o corte computadorizado em uma marcenaria parceira. Já cortadas, são entregues na universidade, onde ocorre a etapa de lixar os cabos e montar os rodos.
Segundo a professora Léia, a distribuição do material já iniciou, com foco em famílias afetadas na Capital e Região Metropolitana. Por ser um rodo resistente, também pode ser aproveitado em mais de uma residência.
O modelo para a confecção do rodo foi disponibilizado e pode ser conferido clicando aqui.
Xampu, sabonete e repelente
Na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), há ações focadas na higiene das comunidades atingidas. Xampu, sabonete e até repelente estão sendo produzidos pelo Projeto de Extensão Pró-Saúde nos laboratórios da instituição.
Por meio da ação, já foram doados 160 litros de xampu, 200 unidades de sabonete e 120 litros de repelente com extrato de citronela.
As entregas tiveram como foco as cidades de Rio Pardo, Sinimbu, Venâncio Aires, Sobradinho e Arroio do Meio, nas regiões do Vele do Rio Parto e Vale do Taquari. O grupo pretende seguir com o trabalho.