Os estudantes de Guaíba, na Região Metropolitana, Brenda Nascente Guterres, 18 anos, e Kayki Alves da Silva, 19, vão representar o Brasil na Infomatrix 2025, na Romênia. O evento busca incentivar a inovação em jovens cientistas com projetos de ciências, tecnologia e robótica.
A dupla de alunos do curso Técnico em Informática da QI Faculdade & Escola Técnica desenvolveu um dispositivo eletrônico de adaptação de sistemas de alerta capaz de auxiliar pessoas com deficiência auditiva e visual. Batizado de “GuardTI”, o projeto surgiu a partir da enchente e da necessidade de construir soluções voltadas à inclusão e acessibilidade.
— Vimos muitas reportagens sobre pessoas com deficiência visual e auditiva que ficaram sabendo da enchente apenas com o cheiro da água. A Defesa Civil criou um sistema que envia alertas por SMS, mas não é algo inclusivo. A ideia surgiu assim, nosso objetivo principal é ajudar as pessoas com deficiência — afirma Brenda, que mora em Barra do Ribeiro e faz o curso técnico em Guaíba.
Os alunos não imaginavam o impacto que o projeto teria quando embarcaram para a Infomatrix Brasil, um dos maiores concursos de projetos científicos da América Latina. A dupla foi chamada ao palco três vezes para receber prêmios de destaque na 10ª edição da feira, que aconteceu entre 25 e 28 de setembro em Florianópolis (SC).
Na ocasião, eles receberam o Prêmio "Orama" da Revista Iberoamericana de Divulgación y Cultura Científica, que dá direito a publicação de um artigo científico, o troféu "Lenda Solacyt" e medalha de platina, que são entregues ao melhor projeto da feira. Com isso, os jovens conquistaram um lugar na próxima final mundial da Infomatrix.
— Já estávamos empolgados para conhecer Florianópolis. Nunca ganhei algo tão grande. Nós criamos o projeto com o intuito de ajudar as pessoas e foi bem divertido fazer o trabalho. Nunca imaginamos que teria toda essa repercussão — diz Kayki, que pretende cursar uma graduação ligada à área de Tecnologia da Informação (TI).
Momento de preparação
Agora, os estudantes se preparam para tornar a viagem realidade. A final internacional será em Bucareste, na Romênia, entre 22 e 26 de maio de 2025. Além de fazer uma vaquinha, os alunos vão em busca de parcerias com empresas e recursos públicos, de modo a viabilizar o deslocamento.
Somente o custo das passagens para Brenda, Kayki e o professor irem à premiação seria de pelo menos R$ 19 mil. Segundo o orientador do projeto, Rodrigo Moreira Barreto, que já levou outro grupo para participar do evento, a experiência é transformadora.
— Temos que envolver os jovens nessa área da pesquisa, mostrar que é um caminho possível. Nosso maior papel como educadores não é ensinar como fazer relatórios e trabalhos, mas sim trazer oportunidades, fazer com que eles acreditem no potencial deles e fazê-los acessarem esses outros mundos — diz o professor e coordenador do Centro de Pesquisa e Inovação Joseph Elbling, da QI Faculdade e Escola Técnica.
Após o primeiro dia, em que os finalistas participam de atividades de integração, os grupos apresentarão seus trabalhos a uma banca composta por avaliadores especializados em cada área. Os jovens também têm a oportunidade de apresentar os projetos ao público geral e a representantes de empresas parceiras e patrocinadores da Infomatrix.
O grupo de Guaíba vai participar da categoria Ciência Aplicada. Eles concorrem a certificados, troféu e medalha, sendo que o prêmio dá a possibilidade de ganhar bolsa de estudos em universidade estrangeira. A dupla também vai participar da Mostratec, feira de ciência e tecnologia realizada anualmente pela Fundação Liberato, em Novo Hamburgo, que ocorre de 21 a 25 de outubro.
Conheça a solução
Conforme Rodrigo, a ideia é que a solução criada pelos alunos possa ser utilizada pelas pessoas na prática. O dispositivo criado é acessível, barato e fácil de utilizar. Todo o projeto custou R$ 230 para ser construído.
Após os eventos, com os feedbacks de especialistas, o grupo pretende criar uma segunda versão do dispositivo, que será produzido em larga escala por um custo mais baixo. Depois disso, a solução será disponibilizada de forma gratuita – tanto as instruções de como montar a caixa como o código, que será liberado de maneira open source.
Algumas unidades ainda serão distribuídas para associações que atuam na luta pela inclusão, como a Associação de Cegos do Rio Grande do Sul (Acergs) e a Sociedade dos Surdos do RS. O dispositivo é capaz de converter alertas recebidos de sistemas de controle de desastres naturais em feedbacks multissensoriais personalizados.
A caixa eletrônica pode emitir sinais sonoros, visuais, táteis e hápticos, garantindo segurança e acessibilidade em situações de emergência climática. O dispositivo é capaz de se conectar ao smartphone do usuário por Bluetooth e identificar mensagens e chamadas, como os alertas da Defesa Civil.
O GuardTI conta com motor, sirene própria e tomadas para que o usuário possa ligar outros aparelhos eletrônicos. Com isso, a solução permite que pessoas com deficiência visual ou auditiva recebam as informações sobre eventos climáticos de forma nítida e eficiente.