Esta obra de João Cabral de Melo Neto estabelece um ousado projeto de ruptura com a tradição lírica ocidental, criando uma espécie de antilírica. A subjetividade, que predominou no gênero por cerca de dois milênios e meio, cede lugar a mais absoluta objetividade. E os temas universais da inquietação do indivíduo diante das paixões sombrias ou luminosas, das pulsões eróticas, das angústias existenciais, do fluir do tempo, da rebelião ou do lamento humano frente aos deuses e ao destino, e do terror da morte, são substituídos por um registro rigoroso e tecnicamente perfeito de objetos e seres. Sua poesia, portanto, não busca o fundo do coração do homem, mas propõe uma engenhosa (e por vezes gélida) aventura intelectual. Trata-se da obra de leitura mais difícil entre todas as indicadas para o vestibular.
O que observar
1) O texto apresenta uma rígida planificação já que é composto por 48 poemas, distribuídos em quatro partes iguais. Nas duas primeiras partes, os poemas sempre têm 16 versos, divididos em duas estrofes, de maneira diversa (8+8), (6+10), (10+6).
Nas duas últimas partes, os poemas são constituídos por 24 versos, igualmente divididos em duas estrofes (12+12), (8+16), (16+8).
2) Um dos assuntos preferidos de João Cabral é o da própria construção poética. Por isso, preste atenção no poema que dá título ao livro: A Educação pela Pedra. Na primeira estrofe, o autor relaciona a sua escrita com a ausência de ênfase, a condensação e a concretude da pedra. Já na segunda estrofe, a mesma pedra é deslocada para o sertão, para a alma do sertanejo, indicando que esta alma pétrea, a exemplo do que ocorrerá nos versos de Cabral, não exporá sua interioridade nem seus dramas íntimos, mantendo-se no plano da pura objetividade.
3) Na mesma linha de metalinguagem insere-se o poema Catar Feijão. Releia este poema com atenção e repare que, na primeira estrofe, há uma relação visível entre o catar feijão e o escrever, pois em ambas as atividades é preciso jogar fora as impurezas, livrar-se de tudo aquilo que não for essencial. Na segunda estrofe, contudo, aparece uma pedra no feijão, mas em vez de retirá-la, o poeta deve mantê-la, porque ela é a metáfora de uma recusa ("obstrui a leitura fluviante, flutual"), isto é, a pedra, na poesia, representa uma ruptura com a melodia, o embalo e a enganosa doçura do texto.
Última dica
Não esqueça de reler dois dos poemas famosos do livro, Tecendo a Manhã e Num Monumento à Aspirina. No primeiro, há o registro de como a participação coletiva de todos os galos propicia o amanhecer. No segundo, ocorre a louvação da aspirina (o poeta tinha dor de cabeça crônica), apontada como "o mais prático dos sóis / o sol de um comprimido de aspirina".