Ao longo desta terça-feira (20), dia em que a rede estadual pôde novamente abrir as portas para receber alunos do Ensino Médio em um retorno gradual às aulas presenciais, um movimento incomum levou diversos pais e alunos às escolas não para voltar aos estudos, mas para entregar um termo de responsabilidade dizendo justamente o contrário: que gostariam de seguir estudando em casa.
São estudantes e familiares receosos com a reabertura de parte das escolas – isso porque algumas, sem receber os equipamentos de proteção prometidos (EPIs) nem promover manutenção nos espaços, sequer abriram os portões para o público. Entre os motivos declarados para a baixa adesão nesse retorno das aulas presenciais estão medo, insegurança e preocupação com o cumprimento adequado dos protocolos de segurança.
Mãe de um estudante do Ensino Médio, Marinei Galvão, 51 anos, foi até o Colégio Marechal Floriano Peixoto, no bairro Floresta, em Porto Alegre, apenas para entregar o termo em que demonstra a sua insatisfação e insegurança com a retomada das aulas:
— Não tenho segurança alguma em mandar meu filho para a escola sabendo que não há suporte e o mínimo para os protocolos de segurança serem seguidos. Seria um risco desnecessário. Não é o ideal, mas prefiro que ele continue com as aulas online.
Acompanhada da mãe, Vitória Santos, 16 anos, foi ao Colégio Dom João Becker, no bairro Passo D'Areia, na zona norte da Capital, também para informar que não vai frequentar as atividades presenciais.
— Na escola, aprendemos mais, só que em casa é mais seguro — afirma.
Já Yan Ramos Viana, 18 anos, chegou ao Instituto Rio Branco, no bairro Santa Cecília, querendo frequentar as aulas presenciais, apesar de temores quanto à segurança dessa volta à escola. Mas o que ele encontrou foram portões com cadeados e janelas cerradas. Aluno do último ano do Ensino Médio, ele vê com preocupação um possível retorno.
— A estrutura é precária, é perigoso. Por mim, não voltaria — avalia.
O Cpers-Sindicato mantém a posição contrária ao retorno às aulas. Na manhã desta terça-feira, a presidente da entidade, Helenir Schürer, visitou escolas da região central da Capital e recebeu relatos de diretores quanto à falta de EPIs. Representantes da Escola Técnica Ernesto Dornelles afirmaram que, diferentemente do afirmado pela Secretaria Estadual da Educação (Seduc), não houve tentativa de entrega dos produtos.
— A direção está em regime de plantão desde 5 de outubro, mas até agora não chegaram os EPIs. Além disso, ainda não tem plano de contingência. Ninguém quer se responsabilizar por assinar o atestado para a volta das aulas. Nossa posição segue a mesma. Não dá pra voltar sem testagem em massa. Estão somente medindo a febre dos alunos — pontua Helenir.
Segundo o governo do Estado, a previsão era de que 30% das 1.108 instituições teriam atividades já nesta terça. No entanto, nesta manhã, a Seduc ressaltou, por meio de nota, que o dia 20 "significa um ponto de partida": "A partir do dia 20, as escolas estão autorizadas a abrir, mas só se estiverem absolutamente adaptadas com as regras definidas pelas secretarias da Educação e da Saúde".