Marcada por polêmicas, ânimos acirrados e disputas políticas, a nomeação do novo reitor ou reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) deve ser definida em menos de um mês. A lista tríplice encaminhada ao Ministério da Educação (MEC) pelo Conselho Universitário (Consun) da maior universidade do Estado, contendo os nomes de Rui Vicente Oppermann — o atual reitor —, Karla Maria Müller e Carlos André Bulhões Mendes ainda está sob análise do governo, e o presidente Jair Bolsonaro tem até 20 de setembro para nomear o comando da reitoria na gestão 2020-2024.
Na data se encerra o mandato de Oppermann e Jane Tutikian, atuais reitor e vice-reitora, que foram nomeados em 20 de setembro de 2016 pelo presidente da Câmara dos Deputados e então presidente em exercício Rodrigo Maia. A lista tríplice é analisada pelo MEC, mas a decisão final cabe ao presidente da República. O ministério informou que começou a avaliação técnica dos nomes, e, após essa fase, será encaminhado um relatório para Bolsonaro, que, então, definirá o nome.
Mesmo a consulta acadêmica que indicou preferência maior pelos nomes de Oppermann e Tutikian, em um sistema que dá maior valor aos votos dos professores do que dos alunos e servidores da universidade, e a eleição no Consun, em que a mesma chapa foi referendada com 45 dos 77 votos dos conselheiros, não significam que esses devem ser os nomes escolhidos para a reitoria.
Como explicou o professor da UFRGS Geraldo Pereira Jotz, em artigo publicado em Zero Hora: "O regramento é claro: a comunidade acadêmica vota entre postulantes; depois, o Conselho Universitário legitima uma lista tríplice; por fim, o presidente escolhe um dos três nomes da lista. Todos os candidatos estavam cientes disso e concordaram com a legitimidade da escolha presidencial".
Depois da nomeação, caberá ao MEC marcar uma data de posse do novo reitor ou reitora. Após a cerimônia, a UFRGS deverá conduzir uma cerimônia interna para a transmissão do cargo e início — ou reinício — do mandato.
Questionado pela reportagem, o MEC não respondeu se, diante da polêmica, é possível que o mandato da atual gestão seja encerrado sem que a chapa seguinte seja nomeada. A UFRGS, por sua vez, explicou que isso nunca aconteceu — e, portanto, a nomeação do novo comando da UFRGS é esperada para os próximos 25 dias.
Estudantes organizam protesto contra "intervenção"
A possibilidade de Bolsonaro escolher o terceiro colocado da lista tríplice, mais alinhado com o Planalto, para ser o novo reitor tem levado a manifestações favoráveis e contrárias entre alunos, servidores e docentes da UFRGS. Enquanto defensores explicam que essa é uma prerrogativa totalmente legal do governo federal e algo com que os candidatos concordaram ao concorrerem à reitoria, os críticos defendem que a chapa do professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) Carlos André Bulhões Mendes — que conta com o apoio, entre outros, do deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS), atuando como interlocutor junto ao governo pela indicação — foi a menos votada tanto na consulta acadêmica quanto no Conselho Universitário.
Integrantes do Diretório Central de Estudantes (DCE) da UFRGS convocaram um ato "em defesa da autonomia e democracia" para esta quarta-feira (26), às 9h30min, em frente à Faculdade de Educação. Entre as demandas do protesto, organizado pela Associação de Pós-Graduandos, pela Assufrgs, que representa os técnicos administrativos ligados à universidade, e pelo próprio DCE, estão o fim dos cortes às instituições públicas de Ensino Superior e a paridade nas eleições da UFRGS, com peso igual para cada votante, independentemente de sua categoria.
— Compreendemos que a disputa pela paridade foi feita e seguirá até que tenhamos um sistema paritário. Mas agora precisamos defender a autonomia universitária. Os problemas da universidade resolvemos na UFRGS, e não com um interventor. Já estamos organizando a mobilização interna na UFRGS para barrarmos a possível intervenção — define Ana Paula Santos, estudante de Matemática e coordenadora-geral do DCE.