Esta segunda-feira (1º) marca o retorno às atividades em escolas estaduais de maneira remota no Rio Grande do Sul. No entanto, há ainda muitas indefinições e problemas de acesso para parte dos educadores e estudantes.
A Secretaria Estadual de Educação garante que estes primeiros dias são somente de capacitação e ambientação às plataformas – em especial o Google Classroom, que será usado para atividades e avaliações. Os professores podem seguir com outros recursos para alcançar os estudantes, como Facebook e WhatsApp, utilizados em março e abril. É obrigatória, no entanto, uma padronização:
— Eles podem usar a ferramenta que quiserem, mas terão que seguir as diretrizes do Classroom porque é por ali que serão feitas as avaliações, as orientações. A programação de aula vem dali. É preciso haver um padrão — explica o secretário estadual de Educação, Faisal Karam.
Ciente dos problemas, o secretário afirma que ainda levará um tempo para que todos os ajustes sejam concluídos.
— Serão necessários cerca de 15 dias para todos os ajustes. Hoje iniciamos todo o processo, e sabemos que haverá dúvidas. Os professores poderão resolver os questionamentos por telefone ou pela própria plataforma. Tecnologia não é algo que acontece a partir do estalar de dedos. Precisa de recurso, precisa atropelar o planejamento, precisa de rapidez, neste caso — lamenta.
Alunos sem internet
Uma das preocupações é com os alunos que não têm acesso à internet. Na primeira etapa do ensino remoto, em março e em abril, cerca de 300 mil – quase 37% – ficaram sem participar do ambiente online por falta de acesso. Para estes, as atividades estavam sendo levadas e buscadas em casa.
As 30 coordenadorias estaduais da Educação estão finalizando um levantamento dos alunos que não têm acesso, mas ele ainda não foi concluído – a expectativa é de que seja finalizado nesta semana. Os grupos envolvem, principalmente, estudantes de escolas rurais ou localizadas em áreas indígenas e quilombolas.
Uma das alternativas é ampliar o sinal para parte dos estudantes por meio de uma parceria com a Assembleia Legislativa, que irá repassar R$ 450 mil mensais, por um ano. Com o plano, que terá velocidade de 50 megabits por segundo, será possível somente acessar conteúdos educativos. O contrato com as operadoras, que deveria ter sido assinado na última semana, deve ser fechado até sexta-feira, conforme Karam. A Seduc estima que pelo menos 600 mil alunos terão acesso a esse plano.
As outras ideias envolvem abrir laboratórios e bibliotecas de escolas para um revezamento de alunos ou, se não for possível, seguir com o envio de atividades para as casas dos estudantes.
— É passo a passo. Teremos este cenário mais claro a partir do momento em que tivermos o levantamento concluído — diz Karam.
A Seduc também estuda adquirir Chromebooks, dispositivos semelhantes a notebooks usados para aprendizagem. O governo chegou a fazer um levantamento do preço em abril, mas, com a mudança do valor do dólar, os gastos terão que ser revistos. A previsão é de que sejam necessárias 60 mil unidades para educadores e outras 60 mil para as escolas, onde os alunos acessariam em forma de rodízio.
Dificuldades no primeiro dia
Professora de história na Escola Antão de Faria, no bairro Bom Jesus, na zona leste de Porto Alegre, Rosilene dos Santos Coitinho se destaca pelo conhecimento na área de tecnologia. Ela conta que passou boa parte da manhã atendendo a dúvidas de colegas que não conseguiram acessar os treinamentos:
— A maioria dos colegas não conseguiu abrir a plataforma ou acessar com o e-mail. A gente tem um grupo e, como eu mexo mais, a gente se liga, se fala. Sem informação, não tem como fazer nada.
A professora deu a ideia de criar, ainda antes do recesso, diferentes grupos de WhatsApp para manter os alunos em contato. Agora, depois de um mês sem comunicação, teme que eles demorem para voltar à rotina:
— Por enquanto, estamos somente nos capacitando, sem passar atividades para eles. Com o recesso, houve um corte no hábito dos alunos. Vamos ter que recomeçar do zero — lamenta.
Fernanda Hernandes Rieffel, professora de duas turmas do primeiro ano do Ensino Fundamental, é uma das educadoras que enfrenta dificuldades. Ela chegou a comprar um notebook para conseguir dar conta das tarefas online:
—A Rose (professora Rosilene) tem nos ajudado bastante. Inclusive marcamos para hoje à noite uma conversa para falar sobre a plataforma, porque eu não acessei hoje. Está sendo bem complicado. Todo mundo fala que os alunos não têm acesso, mas os professores também não têm. Estou aguardando meu notebook chegar e, enquanto isso, conto com a ajuda de colegas. É difícil trabalhar com o primeiro ano porque os alunos têm seis anos e precisam da ajuda dos pais. A gente se doa muito para fazer acontecer.
A diretora Angela Maria Pinto garante que seguirá oferecendo a possibilidade de buscar as atividades presencialmente na escola, que atende 915 alunos dos ensinos Fundamental e Médio:
— Temos uma comunidade muito carente, e parte dos alunos não tem nenhum tipo de acesso. Antes do recesso, eu abria a escola todas as quintas-feiras para que os pais e estudantes viessem buscar atividades planejadas pelos professores. E vou seguir abrindo. Em abril, chegava a formar fila de tanta gente que vinha buscar.
Já o colégio Cândido Godói, que atende cerca de 600 alunos no bairro Navegantes, tem uma realidade um pouco diferente, com educadores mais habituados a plataformas do Google. No entanto, o temor é o mesmo: falta de acesso dos alunos aos ambientes digitais.
Segundo a vice-diretora do colégio, Clarice Dal Médico, o objetivo deste ano será manter contato com os estudantes:
— A maioria dos alunos sabe mexer nas plataformas, mas muitos têm planos limitados e, por enquanto, não tem como passar muita coisa. Nossa intenção agora é manter um contato vivo. Não é só conteúdo. Eles precisam aprender sobre humanidade, solidariedade. Quem não tem acesso pode seguir vindo na escola para buscar material.