Em tubo de ensaio, foram acrescentados os seguintes ingredientes: currículo acadêmico bem estruturado, ótimas habilidades práticas e de pesquisa dos estudantes, corpo docente de qualidade e infraestrutura dos laboratórios em boas condições. O resultado dessa mistura inventada pelo Instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) resultou na conquista do reconhecimento internacional da qualidade dos cursos de bacharelado em Química e Química Industrial da instituição gaúcha pela Royal Society of Chemistry (RSC), em janeiro deste ano.
Ou seja, a instituição de ensino foi chancelada como uma universidade capaz de formar pesquisadores e profissionais de altíssima qualidade pela organização do Reino Unido que realiza e apoia a investigação científica, publica revistas e livros sobre ciências químicas e disponibiliza bases de dados.
Fazer parte desse seleto grupo de entidades de ensino significa que esses dois cursos apresentam estrutura curricular comparada, por exemplo, à Universidade de Oxford, que é a quarta melhor do mundo, conforme o ranking Quacquarelli Symonds, de 2019, explica Marcelo Gil, vice-diretor do Instituto de Química:
— Agora, nossos alunos e professores têm a chancela de que o diploma que eles carregam é de um dos melhores cursos de Química do mundo. Não serão pedidas as credenciais da UFRGS no Exterior porque já somos credenciados pela autoridade máxima na área, estamos entre as melhores. Além disso, essa validação facilita a nossa participação em congressos internacionais, publicações em revistas editadas pela RSC, interação com outros centros de pesquisa e mobilidade acadêmica.
É a segunda vez que o instituto recebe a certificação da RSC — a primeira foi em 2014. Assim como na oportunidade anterior, somente a UFRGS e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) conquistaram, no Brasil, esse reconhecimento da comunidade científica internacional.
O processo de avaliação das duas graduações foi extenso. Passou por análise curricular, foi verificado o contato com a pesquisa, a interação entre alunos e professores, as instalações e condições de aprendizado e trabalho. Lívia Streit, professora do Instituto de Química, afirma que o que mais chamou atenção da comissão inglesa de avaliação, quando seus integrantes visitaram a universidade, foi a robustez do conteúdo ministrado aos estudantes ainda na graduação.
— O nosso corpo docente é muito forte e de qualidade, desenvolvemos muitas pesquisas relevantes. Além disso, as nossas aulas contemplam todas as áreas da química de maneira aprofundada logo na graduação, e isso só é visto na pós-graduação no Exterior. Isso foi algo que eles pontuaram como benéfico porque desenvolvemos essas habilidades ainda no início da carreira dos estudantes — observa Lívia.
Os diferenciais dos cursos de graduação
Para a professora, o processo de internacionalização pelo qual os docentes passaram em anos anteriores fez reflorescer o ambiente inovador do instituto. O curso de bacharelado em Química é elogiado pela estrutura curricular, condições de pesquisa e proatividade de alunos e professores, que lideram pesquisas inovadoras. Contudo, ela faz a ressalva para o momento vivido pela educação no Brasil:
— Encaramos tempos sombrios na educação com ameaças e cortes no Ensino Superior. Contudo, estamos tentando manter nosso padrão de pesquisa.
O curso de Química Industrial ganhou atenção dos avaliadores também em função da interação com o mercado, avalia o vice-diretor.
— Os estudantes fazem estágio na indústria. O trabalho de conclusão de curso pode ser voltado para a pesquisa industrial. E esse é um dos nossos diferenciais, porque formamos não somente profissionais técnicos, mas químicos que trabalham na indústria, pensando o desenvolvimento dela e de novos produtos — pontua.
Foco na sustentabilidade
Uma nova diretiva do centro são as pesquisas direcionadas à sustentabilidade. Materiais, fármacos e herbicidas têm sido desenvolvidos tendo como foco a redução de sua toxicidade.
A mestranda Flávia Sonaglio, 27 anos, que criou um gel para curar queimaduras e problemas de pele feito a partir de casca de siri e da genipina, composto encontrado no fruto jenipapo, afirma que o selo da RSC funciona como um combustível para os cientistas:
— É bom ter o reconhecimento de todas as pesquisas e trabalhos que realizamos aqui. E é importante mostrar que temos pesquisadores de qualidade, que podemos ir para fora e podemos receber gente do Exterior porque estamos em pé de igualdade.
Camila Reginatto, 24 anos, estudante do sexto semestre de Química Industrial e bolsista de iniciação científica no projeto de Flávia, faz coro à afirmação:
— Essa certificação abre as portas da UFRGS e do Brasil para o mundo.