Se no Acampamento Farroupilha o cheiro de churrasco paira no ar ao som da música tradicionalista, na Escola Estadual de Ensino Fundamental William Richard Schisler, localizada no bairro Menino Deus, em Porto Alegre, não é diferente. Alunos, professores e a comunidade escolar se mobilizaram para construir um piquete no pátio do colégio e promover as tradições gaúchas. Desde que a churrascada começou no piquete William, em 2 de setembro, o espaço já foi usado 24 vezes pelas turmas, que trazem de casa a bebida, o tipo de carne que desejam comer e ficam meio turno dedicadas aos festejos Farroupilhas.
Enquanto o salsichão e o pão de alho eram assados por pais e professores, Gabriel Moreira, 10 anos, riscava o chão do salão embalado por um vaneirão.
— Eu gosto muito de dançar. Na minha cidade, em Uruguaiana, já gostava dançar música gaúcha, me divirto bastante quando toca — diz o guri.
Com outro objetivo, mas igualmente focado em aproveitar, Érico de Almeida, 11 anos, admitia:
— Eu gosto da comida. Comi salchipão e cuca.
Vestida de prenda, a professora Lucia Claser, idealizadora do projeto, relembra um ritual feito desde 2016. Basta o mês de setembro ter início para ela separar a cuia, a garrafa térmica, alguns bancos e tomar lugar no espaço que, hoje, abriga o piquete William. Junto a ela, sentam alunos e pais no intervalo ou final das aulas para uma rodada de mate e declamação de poema. Este ano, ela decidiu inovar:
— Decidi que queria fazer algo ainda mais acolhedor. Separei uns pallets que tínhamos aqui na escola e decidi montar um cercado por minha conta. Deixava as madeiras unidas com a ajuda de arames.
O piquete – com direito a porteira de madeira, cobertura e decoração que rementem à cultura gaúcha, como gaita, indumentária gaudéria, pelego entre outros itens – é fruto do esforço de muitas mãos. Alunos e pais levaram objetos de adorno, e o advogado Delson Iranzo, 71 anos, comprou os materiais de construção e contratou a mão de obra para erguer a edificação. A boa ação é resultado da relação de proximidade que ele tem com a escola.
— São 25 anos de casamento. Meus netos estudaram aqui, e acabei me tornando um amigo da instituição. Quando vi a professora Lucia tentando erguer, praticamente sozinha, o piquete, me senti na obrigação de ajudar. Por ser um pouco perfeccionista, quis fazer uma estrutura de madeira e, como passamos por um período de muita chuva, comprei a lona para proteger as crianças e para o baile não parar — conta Iranzo enquanto afrouxa o lenço vermelho do pescoço.
Enquanto cortava pedações de cuca que seriam distribuídos, a mãe e promotora de ventos Vanise Bittencourt, 45 anos, diz que a atividade reavivou o senso de pertencimento dos estudantes:
— Esse projeto envolveu a comunidade, as crianças se mobilizaram para decorar, para trazer os lanches para fazer tudo isso acontecer. Vendo toda essa disposição, também quis ajudar como pude.
A orientadora educacional Taís Tomasi afirma que a ação é fundamental para reavivar a cultura gaúcha entre a nova geração:
— Nosso propósito é resgatar nossa tradição e nossos valores, mas essa atividade é importante porque ela reaviva nos estudantes valores como a amizade, cooperação e solidariedade, porque eles se ajudam e trabalham em equipe para fazer o festejo da turma acontecer.
A proposta, de acordo com Taís, é que o piquete se torne permanente na escola, como espaço de confraternização, mas também de oficinas de dança e declamação de poemas.