Reeleito para o triênio 2019-2022 com quase a totalidade dos votos (menos um, em branco), o porto-alegrense Bruno Eizerik, 53 anos, começará oficialmente o seu terceiro mandato como presidente do Sindicato do Ensino Privado (Sinepe/RS) na noite desta quinta-feira (12), em cerimônia de posse na sede da entidade, na Capital. O Sinepe/RS reúne cerca de 500 escolas, instituições de Ensino Superior e mantenedoras de todo o Rio Grande do Sul.
Em entrevista a GaúchaZH, Eizerik falou, entre outros temas, sobre o impacto da crise econômica no setor e de suas preocupações quanto às políticas de educação da atual administração federal:
— A educação não está sendo tratada como prioridade, e isso não é desse governo. Não consigo entender que os governos não enxerguem a educação como prioridade. Não tem outra maneira de o Brasil sair de onde está. Se não tiver produção científica, se não tiver produção intelectual, se não tiver pessoas com mais conhecimento... Podemos até começar a pensar que é interesse dos governos que a população não tenha conhecimento. Sou um eterno otimista, prefiro acreditar que é má gestão.
Como a crise econômica vem afetando o setor do ensino privado no Estado?
Na Educação Básica, vínhamos num crescente de alunos até 2016. Em 2017, tivemos uma queda, e no ano passado o setor se recuperou. Muitos alunos que estudavam em uma escola onde a mensalidade era de R$ de 1,5 mil migraram para uma escola onde a mensalidade era R$ 1 mil. Tivemos uma migração dentro do próprio setor. Infelizmente, a escola pública deve muito em qualidade, então a família faz um último esforço para manter seu filho na escola privada, nem que seja em uma de custo menor. No Ensino Superior (presencial), a crise demorou para chegar, mas quando chegou, aí sim, tivemos uma queda muito grande no número de alunos. Gente abandonando o curso, aluno que fazia cinco disciplinas passando a fazer três, aluno que fazia três passando a fazer uma... Aquele aluno que fazia uma acabou abandonando. Outro problema foi a questão do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil). Hoje, se um aluno contrata o Fies e, depois de formado, não paga, a instituição tem que pagar por ele. Qual é a instituição que vai prestar um serviço e depois ter que pagar? As instituições foram abandonando o financiamento. Hoje há muito mais instituições oferecendo financiamentos próprios do que o Fies.
O que as escolas estão fazendo para reagir à crise?
As escolas têm que se reinventar a cada dia. No ano que vem, já teremos a nova Educação Infantil e o novo Ensino Fundamental começando. Tem uma mudança bastante profunda para os próximos anos com os novos currículos. As escolas precisam investir, e elas têm investido: em qualidade, em formação de professores, em estrutura física. Temos uma clientela cada vez mais exigente e um aluno que mudou muito. A gente não pode mais falar naquela escola de quando eu era pequeno, com o professor falando e os alunos ouvindo. Essa escola não tem mais espaço. Hoje o professor está falando e o aluno está no celular, consultando o Google, para ver se o professor não está falando uma coisa errada. Quanto à crise, as escolas estão investindo em qualificação para que a família saiba que está fazendo um investimento. Toda vez que você oferece um serviço de qualidade, com bons professores, estrutura física, currículo atraente, a família vai procurar, claro que dentro da sua capacidade financeira. E nós temos a esperança de que a economia volte a crescer, todos nós queremos, independentemente da cor partidária. O que muito nos incomoda, e essa é uma batalha diária, é o excesso de regulamentação. Com o Estatuto da Pessoa com Deficiência, toda escola tem que receber qualquer aluno com qualquer deficiência em qualquer momento. Olha a infraestrutura que precisa ser criada para se cumprir uma lei dessas.
Mas a inclusão efetiva depende disso.
Claro que depende disso. Mas vamos imaginar uma escola que tenha, em uma sala de aula, um deficiente visual, um deficiente auditivo e um com síndrome de Down. Como você faz para dar aula numa sala dessas? ? Ninguém é contra a inclusão, vamos deixar bem claro, mas é preciso se dar conta de que cada vez se criam mais exigências para as escolas e não se tem uma contrapartida. Você precisa de uma pessoa que vai ficar o tempo inteiro ao lado desse aluno e não pode cobrar a mais. O custo poderia ser diluído entre todos os alunos, ok, mas quando são abertas as matrículas você não sabe quantos alunos de inclusão vai ter. E se você prevê menos alunos de inclusão e aparecem mais? Ou se você prevê mais alunos (de inclusão), coloca uma mensalidade (mais alta) e perde alunos por isso? A lei das mensalidades diz que, uma vez fixada a mensalidade, não se pode mexer. Temos uma série de regulamentações, e a cada dia surge uma coisa nova. Isso preocupa muito. Muitas vezes, as pessoas que elaboram essas normas não estão no dia a dia da escola. Quero deixar bem claro: ninguém é contra a inclusão. A gente é a favor de uma inclusão responsável. Senão é largar a criança na escola.
Uma das escolas mais tradicionais de Porto Alegre, o Colégio Americano, tem enfrentado um problema crônico no pagamento da folha de professores e funcionários — este mês, o atraso está se repetindo. Como o Sinepe está acompanhando esse caso?
Lamentamos muito. Jamais vamos concordar com esse tipo de coisa, mas temos certeza de que, se a direção está tomando esse tipo de atitude, é porque efetivamente não deve ter dinheiro para pagar os salários. Não consigo imaginar um gestor que, tendo dinheiro em caixa, não vai pagar os salários dos seus empregados, em qualquer lugar que seja — uma escola, uma indústria, um time de futebol. Eles têm passado por muitas dificuldades. A situação do Ipa (Centro Universitário Metodista IPA, administrado pela mesma rede) também é bastante complicada. Entendemos que escola não é só ensino, precisa ter gestão. Esperamos que se resolvam os problemas. Há algum tempo, era a Ulbra, que parece estar mais estabilizada agora, e não temos conhecimento de outras escolas nessa situação.
Toda vez que você oferece um serviço de qualidade, com bons professores, estrutura física, currículo atraente, a família vai procurar, claro que dentro da sua capacidade financeira. E nós temos a esperança de que a economia volte a crescer, todos nós queremos, independentemente da cor partidária.
BRUNO EIZERIK
Presidente reeleito do Sinepe/RS
O que o senhor pensa a respeito da condução do Ministério da Educação no governo de Jair Bolsonaro?
Já foi feita uma troca de ministro, nunca é bom trocar ministro. Sou sempre a favor de dar um pouco de tempo para as pessoas poderem trabalhar e mostrar o que querem fazer. Se você perguntar se estou concordando com tudo que está sendo dito, (digo que) não. Tem coisas que nos preocupam. A educação não está sendo tratada como prioridade, e isso não é desse governo. Não consigo entender que os governos não enxerguem a educação como prioridade. Não tem outra maneira de o Brasil sair de onde está. Se não tiver produção científica, se não tiver produção intelectual, se não tiver pessoas com mais conhecimento... Podemos até começar a pensar que é interesse dos governos que a população não tenha conhecimento. Sou um eterno otimista, prefiro acreditar que é má gestão. É muito cedo, mas até agora o governo federal não se manifestou sobre o novo Ensino Médio. Vamos ter o novo Ensino Médio ou não vamos? Isso gera insegurança para as escolas, que têm que se planejar. Em 2023, tem que acontecer. Como fica? E a questão do Fies? Esperávamos que um governo mais liberal entendesse a importância do Fies para o país. O Fies ainda é um financiamento que o aluno paga. Se estamos em uma nação que acredita em educação, o Fies tinha que ser a fundo perdido, estamos investindo no jovem que vai fazer um Brasil melhor. Mas acho que é muito cedo para poder ter uma opinião definitiva. Temos que acreditar que as pessoas querem fazer o melhor. Óbvio que preferíamos que (o ministro) fosse um educador, é um economista, mas o fato de ser um economista não quer dizer que ele não possa fazer um bom trabalho.
É época de os pais começarem a procurar escola para os filhos para o próximo ano, planejar trocas, prever o orçamento de 2020. Já é possível antecipar algo sobre o reajuste nas mensalidades?
O Sinepe não tem nenhuma ingerência nisso. Conversamos com as escolas: vocês têm que olhar para a planilha de custos, ver os investimentos previstos, ver quanto deu de aumento e olhar para a comunidade onde estão inseridas. A minha comunidade suporta esse reajuste? Suporta, então vou aumentar x porcento. Se não vai suportar, vou cortar um investimento, não vou fazer tal coisa e vou aumentar um pouco menos. Quando uma escola fixa um valor de mensalidade, ela olha para a qualidade do ensino, para os investimentos que são feitos e, acima de tudo, para a comunidade onde está inserida. Nossos diretores são muito parcimoniosos na hora do reajuste.
Qual o seu maior desafio para os próximos três anos?
São vários, mas diria que um muito importante é a defesa intransigente da liberdade na educação. Que a família possa escolher uma escola privada, uma escola pública e que possa ser uma escola de qualidade. A defesa intransigente da liberdade de ensinar. Isso é democracia. O Sinepe, por toda a estrutura que tem, tem que servir como um farol para mostrar, não só para a escola privada, mas para a pública também, caminhos novos, novas ideias, uma nova escola, uma escola que tenha mais a ver com o nosso tempo. Temos esse compromisso.