Há tanta coisa a ser descoberta na adolescência que, muitas vezes, pensar no futuro fica para depois. Mas a proximidade da formatura no Ensino Médio traz a reboque a pressão por uma pergunta que, de um jeito ou de outro, a gente se faz desde criança: o que vou ser quando crescer? É uma escolha pesada: decidir tão jovem o que fazer pelo resto da vida.
— Mas esta não é uma escolha para o resto da vida, e pensar isso já facilita a decisão — garante a psicóloga Manoela Ziebell de Oliveira, coordenadora do Grupo de Estudos de Desenvolvimento de Carreira da PUCRS.
Sabe-se que é cada vez mais comum que profissionais transitem por diferentes áreas ao longo da trajetória profissional. Pensando assim, a escolha fica mais leve e pode-se avaliar com mais serenidade os fatores e forças envolvidos na decisão.
— Não existe escolha certa. Existem escolhas mais bem pensadas e menos bem pensadas, que têm mais probabilidade de levar a frustração — explica Marco Antônio Pereira Teixeira, psicólogo do Serviço de Orientação Profissional (SOP) da UFRGS.
Recorra a ajuda especializada
Muitas universidades disponibilizam serviços de orientação profissional e direcionamento de carreira para alunos e público externo. São realizados encontros, individuais ou em grupos, que têm em seu cerne o estímulo ao autoconhecimento. A partir da identificação de seus valores, desejos e habilidades, os estudantes escolhem graduações que lhes interessem e passam a investigar as áreas de atuação.
— Se eu sei quais forças desejo ver realizadas através da atividade profissional e se eu conheço o contexto em que isto pode acontecer, minhas decisões serão mais adequadas — explica a psicóloga Maria Célia Lassance, especialista em aconselhamento de carreira.
Na trilha do seu propósito
Confira as dicas de orientações de especialistas para facilitar a sua escolha, e as informações sobre um serviço gratuito disponível em Porto Alegre.
1) Autoconhecimento
Conhecer-se é o passo inicial da decisão sobre a carreira.
— Até para escolher uma roupa tenho que me conhecer. Para escolher uma profissão, antes de buscar informações, preciso saber quais meus interesses, o que é valor para mim, do que abro e não abro mão, o que me motiva, me movimenta — explica a psicóloga Manoela Ziebell de Oliveira.
Os serviços de orientação profissional estimulam os participantes a fazer um recorrido da própria história.
— A carreira começa quando nascemos. As experiências a que nos expomos e seus resultados dizem muito sobre nossas forças e nossos pontos fracos. Avalie estes resultados e identifique contextos em que estas forças serão requeridas — aconselha a psicóloga Maria Célia Lassance.
2) Às vezes, um hobby é só um hobby
Todo mundo tem uma multiplicidade de interesses, atividades e aptidões. A graduação – e a carreira profissional – não precisam acomodar todas elas.
– Às vezes a pessoa pode tocar muito bem violão mas não quer dizer que vá cursar Música. Pode ser um advogado e tocar violão – pondera César Karnal, psicólogo do Programa de Gestão de Carreira da Unisinos.
Do mesmo modo, explica Karnal, não se deve descartar um curso que desperte seu interesse por conta de alguma habilidade que não se tenha desenvolvido.
– Digamos que a pessoa desista de um curso por não gostar de matemática. Pode investigar mais isso. Às vezes, teve um professor que não ajudou, mas não necessariamente não goste. São caminhos que podem ser investigados – diz.
3) Qual o seu propósito?
Pense em que contribuição você quer dar ao mundo.
— O trabalho é algo que fazemos para o outro, para a sociedade. Identifique um propósito que realize suas forças e seus valores — aconselha Maria Célia Lassance.
Outra dica é refletir sobre que problemas e assuntos são instigantes para você:
— Trabalhar é resolver problemas. Identifique que assuntos o interessam mais, quando busca uma notícia, um livro. Sobre o que gosta de conversar com seus amigos? Que tipo de atividades produtivas realiza e não vê o tempo passar — exemplifica.
4) Teste vocacional como referência
Tem dificuldade de pensar sobre o que gosta? Faça um teste vocacional. Segundo Marco Antônio Teixeira, os testes são úteis porque dão uma referência inicial
— Têm de ser bem construídos. Pelo nome, pode parecer que vão testar para qual área a pessoa deveria ir. Na verdade, o que o teste faz é mostrar as áreas de interesse da pessoa — explica o psicólogo da UFRGS.
5) Investigue as profissões
Frequente feiras de profissões, converse com vários profissionais das carreiras que lhe interessam, já que cada um traz vivências diferentes na área que escolheu. Maria Célia Lassance lembra que a internet dispõe de muita informação, como vídeos do YouTube e TEDs. Vasculhe a rede e empolgue-se!
6) Não tenha medo de errar
Em caso de frustração com a escolha, pode-se buscar uma nova graduação. O tempo passado em um curso “errado” não é tempo perdido.
— O jovem se cobra muito, mas as pessoas que vão para o segundo curso, normalmente, vão mais maduras — avalia o psicólogo César Karnal.
7) Não se limite a estereótipos
Evite pensar em suas qualidades de forma determinística.
— Tem jovens que pensam “se tenho tal característica, vou me dar bem em tal área”.As profissões estão cada vez mais híbridas, tirando os conhecimentos específicos de cada área, muitas competências comportamentais são desejáveis em todas as áreas. Não é porque a pessoa é extrovertida que vai ser professora de educação física ou advogada — pondera Marco Antônio Teixeira.
Outro equívoco, conta o psicólogo, é pensar profissões em termos dos estereótipos:
— “Advogado tem de ter desenvoltura para falar em público”, “psicólogo tem de gostar de ouvir o sofrimento alheio.” Não necessariamente. Deixe de lado o senso comum. Há várias caminhos.
8) Busque visão de conjunto
— Se eu sei quais forças desejo ver realizadas através da atividade profissional e conheço o contexto em que isto pode acontecer, tomarei decisões mais adequadas — afirma Maria Célia Lassance.
Segundo Manoela de Oliveira, deve-se buscar uma visão do conjunto de fatores:
— O risco de só olhar para o mercado é que ele está em transformação constante. O risco de olhar só para o que eu gosto é me apropriar de algo muito específico que talvez não tenha sustentação ao longo do tempo. Se fizer o que meus pais sugerem, corro o risco de fazer todos os dias algo que outro escolheu — pondera.
Serviço gratuito
O Serviço de Orientação Profissional da UFRGS realiza atendimentos para jovens e adultos. Para os jovens, são oferecidas maratonas de orientação em grupo, aos sábados ou em edições mais compactas durante a semana, trabalhando o autoconhecimento e a investigação sobre profissões e carreiras. Ao fim do processo coletivo, pode-se marcar atendimento individualizado. O serviço é gratuito.
Endereço: Rua Ramiro Barcelos, 2.777, sala 314
Telefone: (51) 3308-5453 e (51) 3308-5310
Site: ufrgs.br/sop