A música clássica que ecoa pelos corredores de uma universidade de Santa Maria é o reflexo da transformação que a Associação Orquestrando Arte proporciona na vida de mais de 130 crianças e jovens do município em situação de vulnerabilidade social.
— Aqui eu aprendi a cultura de dança, essas coisas. Violino e outros instrumentos eram algo que eu nunca tinha visto. Aqui é muito legal porque eu conheci (isso). Antes de estar na Orquestrando Arte eu não fazia nada, eu tinha uma mente muito fechada para opiniões e a associação ajudou a me abrir — disse Endrik Roubuste, 15 anos, participante do projeto.
O projeto oferece aulas gratuitas de orquestra, canto coral, dança, teatro, apoio pedagógico e atividades de formação humana. No ano passado, 96% dos participantes do projeto foram aprovados na escola. A diretora da Associação, Mírian de Agostine Machado, explica que a missão é ofertar novas possibilidades de conhecimento e cultura aos alunos:
— Quem diz que a gente precisa ser de uma família bem abastada financeiramente para ser um bom violinista ou um bom músico? Temos ideia de que favela só produz funk, só produz músicas mais simples, por uma questão métrica, mais técnica. Na realidade, o que a gente sabe é que a comunidade produz o que está à disposição dela. E essas crianças querem, sim, fazer música clássica. E quando percebemos essa nuance deles de um interesse por Beethoven, Mozart e Vivaldi, pensamos: porque não?
A origem
Ainda em 2013, o projeto começou de forma bastante informal ao garantir para os estudantes apenas aulas de música com foco em três instrumentos – violinos, violas e violoncelos – a pouco mais de 30 crianças e adolescentes. No ano seguinte, a Orquestrando Arte foi oficialmente fundada como associação sem fins lucrativos e ampliou os atendimentos com base nos pedidos da própria comunidade.
De um ano para outro, a quantidade de alunos mais que dobrou. Hoje, as aulas ocorrem em uma sala improvisada, cedida pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), que fica às margens da BR-287, em Santa Maria.
O custo mensal para pagar apenas o transporte e alimentação dos estudantes é de cerca de R$ 13 mil. A associação se mantém somente por meio de doações ou ainda através da inscrição em projetos sociais.
No início do ano, recebeu um terreno da prefeitura para construção de uma sede própria. Desde agosto, está em busca de recursos para a obra que se tornará ponto de referência para concretização de sonhos e de ainda mais oportunidades. O endereço fica no Alto da Boa Vista, região oeste da cidade, localidade que recebeu as primeiras atividades desenvolvidas pela Orquestrando Arte.
— Queremos abrir mais opções de atendimento e chegar a um número de mil alunos diariamente. Esse espaço que queremos ter lá no Alto da Boa Vista contempla desde um auditório para que as pessoas possam ter a cultura levada para dentro da comunidade e não só no centro da cidade — destacou a diretora.
Atualmente, as atividades ocorrem de segunda a sexta-feira nos turnos da manhã e da tarde e, aos sábados, pela manhã, sempre no turno inverso da escola. São 53 voluntários entre professores, funcionários e diretoria, que atuam na formação de crianças e jovens como Laura Mayer, 19 anos. Ela afirma que existe um divisor que delimita a realidade antes e após a participação no projeto:
— A maior mudança foi trazer amor para minha vida, de achar amor na música, na orquestra. Coisa que antes eu não tinha. E, se alguém falasse para mim, há dois anos, que eu estaria tocando na orquestra é algo que eu diria nunca. Acho que é refúgio, de um monte de coisa do mundo lá fora. Acho que aqui é a realidade de muitas crianças daqui. Aqui, é um refúgio muito gostoso de que às vezes em casa as coisas não andam bem, na escola, no mundo lá fora e aqui temos muito carinho e amor.
Como ajudar:
Contato:
(55) 98114-9042 - Mírian de Agostine Machado
Doações:
Banco Banrisul
Agência: 0350
Conta: 06.140694-06
Caixa Econômica Federal
Agência 0501
Conta 250892-9 Op 013
Banco do Brasil
Agência: 8114-0
Conta: 2923-8