Recém-formados em universidades privadas e que usaram financiamento estudantil durante seus estudos estão comprometendo uma parcela da renda maior do que o recomendado com os pagamentos do Fies, segundo levantamento do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp). Pesquisa com ex-alunos, a maioria formado há menos de dois anos, identificou que, para 41% deles, a parcela do financiamento corresponde a mais de 20% da renda.
O comprometimento de renda de no máximo 20% foi o critério utilizado na formulação do novo Fies, segundo a última versão do projeto que está em discussão no Congresso. No novo modelo, esse seria o porcentual máximo a ser descontado na folha de pagamento de usuários do Fies que estejam empregados após concluir os estudos. Os alunos que se formaram nos últimos dois anos, no entanto, contrataram o Fies sob as regras antigas e não havia restrições.
Para o diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, o alto comprometimento de renda dos recém-formados ajuda a explicar os indicadores de inadimplência no Fies até o momento. Dados de junho do Ministério da Fazenda apontam que mais de 50% dos contratos do Fies têm algum atraso e 30% da carteira em fase de amortização é considerada de baixa probabilidade de recuperação (inadimplência superior a 90 dias).
A avaliação do Semesp, no entanto, é que o alto comprometimento da renda é reflexo de um cenário de crise econômica, em que os recém-formados entram no mercado de trabalho com salários baixos.
De acordo com a pesquisa, 76,2% dos formados nos últimos dois anos em faculdades privadas recebem um salário inferior a R$ 3 mil. Entre os formados há mais tempo, esse porcentual cai para 45,7%.
— Estamos vivendo um momento grave da história econômica do Brasil, mas a tendência é que haja uma recuperação — diz Capelato. — Uma maior oferta de emprego deve elevar os salários, levando a uma diminuição desse porcentual de comprometimento da renda dos recém-formados — conclui.
A maioria dos formados relata ter recebido aumentos de salário ao concluir o curso, mas Capelato chama atenção para o fato de que isso não é uma realidade para todas as carreiras.
Considerando apenas os respondentes que já trabalhavam durante a graduação, 53,9% dos egressos disse ter recebido proposta de emprego ou promoção após a conclusão do curso. Em cursos do tipo tecnólogo ou em cursos de licenciatura (voltados para a formação de professores), essa promoção com aumento de salário não é tão frequente após a formatura, diz o diretor do Semesp.
Um total de 48,6% dos egressos de cursos presenciais de bacharelado está trabalhando em sua área de formação. No caso dos egressos de cursos de licenciatura, esse porcentual é menor: de 39,5%. Entre os concluintes de cursos de graduação tecnológica, apenas um a cada três trabalha em sua área de formação.