Apenas metade dos alunos matriculados no 3º ano do Ensino Fundamental de escolas públicas do Rio Grande do Sul tem um desempenho considerado suficiente em leitura e matemática. Na escrita, a performance das crianças é melhor: 71% delas conseguiram obter resultado suficiente, que sinaliza condições favoráveis para a continuidade regular naquela série. Os números da Avaliação Nacional da Alfabetização (Ana) referentes a 2016 foram divulgados nesta quarta-feira (25) pelo Ministério da Educação (MEC).
Na comparação com os exames anteriores, aplicados em 2014, os alunos gaúchos apresentaram melhora muito discreta, oscilando entre um e dois pontos percentuais. O Estado alcançou resultados acima da média nacional, mas o desempenho do país como um todo, entre uma edição e outra da prova, revela uma melhora um pouco mais significativa.
As provas envolveram mais de 2 milhões de alunos de 48 mil escolas de todo o Brasil. Na habilidade de leitura, é desejado que o estudante consiga inferir o sentido de uma palavra em um texto e reconhecer os participantes de um diálogo, entre outras competências. Exemplo de uma questão proposta foi a que mostrava o desenho de um saco de pipocas, pedindo que a criança assinalasse a alternativa correta para o nome da figura: pijama, piloto, pipoca ou pirata. Neste teste, a taxa de alunos gaúchos que chegou ao nível suficiente em 2016 foi de 51,06% — ante 50% em 2014 —, o que deixou o Estado em oitavo lugar na comparação com os demais. A média brasileira ficou bem abaixo: 45,27%, contra 43,83% na edição anterior.
Na matemática, o Rio Grande do Sul subiu de 49% para 51,24%, aparecendo outra vez em oitavo lugar em relação aos demais Estados. O esperado, nesses exercícios, é que o estudante consiga, por exemplo, reconhecer medidas de tempo em relógios analógicos, calcular subtração de números naturais com até três algarismos e resolver problemas de multiplicação e divisão. No Brasil como um todo, o índice suficiente passou de 42,93% (2014) para 45,53% (2016).
No teste de escrita, no qual se requer que o estudante possa escrever palavras com diferentes estruturas silábicas e dar continuidade a uma narrativa, surgiram questões como a que solicitava que se desenrolasse a história que começava com "Era uma vez uma bruxa que gostava de fazer coisas boas" _ era necessário prosseguir a narrativa, determinando o local onde isso aconteceu e quem participou da ação. O melhor resultado dos gaúchos entre as três provas (71,03% de desempenho suficiente) foi, novamente, apenas o oitavo melhor no ranking de todas as unidades da federação. Quase 29% dos alunos gaúchos teve performance considerada insuficiente neste exame, enquanto a média nacional ficou em 34%. Como houve mudanças metodológicas nos testes de escrita entre as edições de 2014 e 2016, o MEC salienta que não é possível comparar os dados de ambas.
Quando metade não é alfabetizada da forma adequada, é preciso repensar a metodologia que tem sido aplicada.
Cristiane Vieira
Doutora em Educação e professora do curso de Pedagogia da Feevale
Conforme Cristiane Vieira, doutora em Educação e professora do Curso de Pedagogia da Feevale, os dados do RS nas áreas de leitura e matemática são preocupantes, ao passo que indicam que o processo de alfabetização tem falhado com um grupo grande de alunos.
— Fossem alguns estudantes com dificuldade em compreender o conteúdo, poderia se atribuir à diferença nos ritmos de aprendizagem, mas quando metade não é alfabetizada da forma adequada, é preciso repensar a metodologia que tem sido aplicada — avalia a especialista, que atribui o resultado à falta de investimentos na estrutura de escolas, na valorização e na formação dos professores.
Cristiane alerta que as consequências de um ensino falho nos primeiros anos escolares vão além da dificuldade que surgirá para compreender lições mais complexas ao longo da formação:
— O risco é haver dificuldade em todo o processo de aprendizagem, pois o aluno começa a não acompanhar da mesma forma o ritmo dos outros da mesma idade. Isso pode acarretar problemas de autoestima e autonomia, que podem se prolongar por toda a vida.