No segundo dia do vestibular 2017 da UFRGS, os candidatos tinham de fazer uma dissertação, além de responder a 25 questões de português. O tema da redação desafiou os candidatos a dissertarem sobre o que é ter um estilo.
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A partir de citações do escritor moçambicano Mia Couto e da cantora brasileira Eis Regina, a prova de Redação do Vestibular da UFRGS abordou a questão sobre a imitação e a produção de um estilo próprio. Os trechos transcritos revelam o entendimento dos dois artistas sobre suas singularidades construídas a partir de modelos de outros. O enunciado trouxe ainda uma reflexão do filósofo francês Robert Dufour, para o qual "estilo no mundo atual é não ter estilo". Os candidatos tiveram de dissertar sobre o que é ter um estilo.
Segundo o enunciado, o candidato deveria apresentar o seu entendimento sobre o que é ter um estilo, exemplificar com fatos ou acontecimentos ou com situações da vida cotidiana e desenvolver argumentos que evidenciam que o exemplo permite identificar um estilo único.
Essa intenção de pedir realmente a opinião do aluno, sem sugerir um lado certo ou errado, é típica da UFRGS – e claramente exposta no enunciado, que pergunta "e você, o que pensa sobre essa questão".
– Em uma prova assim, não existe resposta errada. A UFRGS aposta muito no investimento autoral, algo previsto inclusive na pontuação. Abre-se um leque bastante grande de possibilidades, o que talvez tenha assustado quem não estava preparado – avalia Maria Tereza Faria, professora do Universitário.
Para a professora do Unificado Luísa Canella, o tema da redação pode ter sido leve até demais. Ela cita muitas diferenças na comparação com a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), sempre marcada por assuntos sociais e, muitas vezes, polêmicos. Enquanto a UFRGS perguntou sobre estilo, o Enem, na última edição, pediu aos alunos que se posicionassem sobre a intolerância religiosa no Brasil.
– Mesmo dentro da linha do vestibular, o tema surpreende. Foi escolhido um assunto comportamental que não tem nada de polêmico. Uma oportunidade perdida, talvez – diz Luísa.
O risco, para os alunos, foi de recair muito na descrição, explicando o que o candidato considera que é ter um estilo, em vez de focar na argumentação, própria de uma dissertação, como pede a prova da UFRGS. Isso pode contar preciosos pontos na hora da avaliação.
Entre os candidatos que conversaram com ZH duas horas após o início do segundo dia de concurso – o tempo mínimo de permanência no local de prova – era unânime a sensação de que o tema permitia uma ampla gama de argumentações.
– Eu achei meio complicado. Achei que seria algo mais relacionado à política. O texto de apoio falava de estilo musical, estilo de escrita, era muito amplo: "o que é ter um estilo?". Mas eu consegui fazer uma redação boa. Eu citei mais o estilo da roupa. O estilo nada mais é que uma customização, algo que está na moda, que é pegar algo de fora e dar a sua cara – diz Jean Godoy, 17, vestibulando de Ciências Sociais.
De acordo com o vestibulando Nicolas Ribas Pires, 21 anos, que está concorrendo a uma vaga no curso de Administração, o enunciado citava frases da cantora Elis Regina e do escritor moçambicano Mia Couto sobre o que eles pensavam sobre o tema. A proposta era que os candidatos dissertassem sobre o significado de estilo.
– Achei o tema bem interessante. Hoje em dia vivemos um estilo só, ninguém procura outros. Achei até que seria mais difícil, porque sempre se compara com a redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) – opina o estudante.
A estudante Natalia Silva Sessegolo, de 17 anos, quer cursar fisioterapia. Para passar, ela apostou em mencionar a cantora britânica Amy Winehouse, que morreu em 2011, na sua dissertação.
– Podia escolher sobre quem tu querias falar. O texto de ajuda falava sobre Elis Regina e outra escritora. Eu falei sobre a Amy, que ela tinha um estilo bem próprio, os cabelos, a roupa, ela colocava o estilo dela nas músicas. Eu consegui fazer com tranquilidade, achei que ia ser pior – afirma.
Yanka Dobrecovic, de 19 anos, que quer cursar Teatro, também citou personalidades da música, mas citou seu poder de inspirar o estilo dos mais jovens.
– O tema era sobre estilo que tomamos para nós no dia a dia. Tipo o pessoal que se inspira em bandas de rock, que gosta de sair mais metaleiro, ou os guris que gostam de se inspirar no Justin Bieber. Na redação tinha que justificar, se você achava que havia uma criação de estilo ou se era tudo uma cópia – conta a estudante.
Este é o único dia que ambas as provas têm peso três (os valores vão de um a três dependendo do curso) para todos os candidatos, por isso é considerado um dos mais importantes. O gabarito será divulgado às 17h.