Em um ambiente de recuperação pós-enchente, a construção civil foi um dos impulsionadores das contratações no Rio Grande do Sul em julho. Segundo ramo com maior número de vagas com carteira assinada e responsável por quase um terço dos empregos gerados em julho, o setor anotou o melhor desempenho para esse mês nos últimos cinco anos no Estado. Necessidade de recompor imóveis, estradas e demais itens de infraestrutura ajuda a explicar esse movimento, segundo especialistas. Para os próximos meses, enxergam espaços para novos saltos nas contratações diante do avanço em obras estruturais.
A construção abriu 2.090 vagas de emprego formal no Estado em julho, segundo dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Esse é o maior montante para o setor em um mês de julho dentro da série histórica do Novo Caged, atualizado desde 2020. No mesmo mês do ano passado, esse segmento fechou 422 vagas no Estado.
Abrindo o saldo de contratações do setor, os ramos de serviços especializados, que contempla instalações elétricas, hidráulicas e acabamento, e obras de infraestrutura, que reúne atividades como intervenções em rodovias, ferrovias e pontes, representam 77% das carteiras assinadas em julho.
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem do Rio Grande do Sul (Sicepot-RS), Rafael Sacchi, afirma que o avanço nas contratações do setor passa pela recuperação da estrutura danificada pela enchente:
— A gente tem muita coisa que precisou ser reparada nos municípios, em termos de estradas, de vias municipais que ficaram intrafegáveis, em termos de buracos que abriram nas rodovias, vias importantes dentro dos municípios.
Na parte da construção de imóveis, o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), Claudio Teitelbaum, afirma que o fôlego nas contratações ocorre diante de uma conjunção de fatores:
— Eventualmente, teve uma postergação do início de determinadas obras, que gerou uma necessidade de contratação em nível superior à média. Outro movimento é uma reconstrução, e quando eu falo reconstrução é tanto refazer o que estragou, quanto a construção de novas habitações e moradias. A gente vê também recontratações de pessoas após eventuais demissões. É uma combinação desses três pontos que podem ajudar essa alta mais expressiva.
O professor Moisés Waismann, coordenador do Observatório Unilasalle: Trabalho, Gestão e Políticas Públicas, também atribui o aquecimento do mercado de trabalho na construção à necessidade de reforma em infraestrutura viária e dos imóveis atingidos pela enxurrada. O docente explica que esse estágio de recuperação ainda não é capaz de criar um ambiente mais sólido para as contratações:
— O que nós estamos vendo ainda são casas, o comércio, algumas indústrias sendo reconstruídas. Quando nós começarmos a ver pontes, viadutos, estradas, aí eu acho que nós teremos um crescimento mais sustentável por um tempo.
Reconstrução espraiada
Em julho, a construção ficou atrás apenas do setor de serviços, que abriu 2.249 vagas com carteira. O economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Oscar Frank, afirma que, como o estoque de vagas da construção é menor, o montante de postos criados tem mais peso no período:
— O crescimento do emprego formal na construção civil equivaleu a um ganho de 1,54% do estoque de mão de obra no setor. É um valor muito significativo. Esses mesmos 2 mil empregos para o setor de serviços não tem uma representatividade tão grande, porque o peso dos serviços na ocupação total é muito mais elevado. Então, a parte de construção foi a que teve o maior destaque em julho, inclusive no varejo de materiais.
Reforçando a análise de Frank, os dados do Caged mostram que a venda de materiais de construção foi responsável por 30% das 827 vagas abertas no ramo do comércio varejista em julho.
Próximos meses
O presidente do Sicepot-RS afirma que a aprovação do projeto de lei que flexibiliza regras das licitações públicas para agilizar a contratação de obras em casos de calamidade pública na Câmara deve impulsionar as contratações no setor nos próximos meses. A medida permite celeridade nos processos envolvendo obras estruturais, segundo o dirigente. Essas obras já devem ocorrem pensando em prevenção contra novos eventos climáticos, segundo Sacchi:
— Estamos falando de obras de diques, de casas de bombas, de alteamento de rodovias que funcionam como diques e de recuperação de infraestruturas já acertadas como diques, muros. Então, para isso tudo tem que acontecer rapidamente as contratações para que a gente lá na frente consiga finalizar essas obras mais rápido. Então, esse movimento deve acontecer de setembro a dezembro.
Sacchi afirma que além da oferta, que está retornando ao setor, é necessário preços justos e segurança jurídica para recuperação das empresas da área de construção civil.
O presidente do Sinduscon também estima crescimento nas contratações nos próximos meses. No entanto, reforça que avanço mais robusto do setor passa por algumas medidas estruturais como investimento do governo federal na reconstrução da infraestrutura e em verbas do Minha Casa Minha Vida e redução da taxa de juro.