O novo ciclo de alta do juro básico do Brasil, iniciado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) nesta quarta-feira (18), gera efeitos no ambiente econômico do país. O colegiado aumentou a Selic de 10,5% para 10,75% ao ano. De um lado, o crédito fica mais caro e restrito. Nos investimentos, o juro em patamar mais elevado reforça a atratividade dos investimentos em renda fixa.
Investimentos
Vinicius Romano, especialista de Renda Fixa na Suno Research, afirma que a Selic em alta aumenta a atratividade de produtos de renda fixa pós-fixados, aqueles atrelados a algum índice. Itens como LFTs (Tesouro Selic), CDBs, e letras de crédito (LCIs/LCAs) atreladas ao CDI oferecem rentabilidade superior, segundo Romano:
— Isso ocorre porque esses ativos acompanham diretamente a taxa de juros, garantindo ao investidor ganhos maiores à medida que a Selic sobe.
Curadoria
Thomas Gibertoni, especialista em investimentos da Portofino Multi Family Office, alerta para a importância de buscar ajuda especializada na hora de escolher qual papel de renda fixa é o mais adequado no momento:
— Tem que ter um cuidado com quem vai estar escolhendo aqueles ativos de renda fixa para não acabar levando ativos que, às vezes, parecem atrativos, mas que têm um risco de crédito ali muito alto.
Poupança
Como a Selic segue na casa dos dois dígitos, a poupança ainda é menos atrativa na comparação com os fundos de investimentos. A regra atual prevê que quando a Selic está acima de 8,5% ao ano a remuneração da poupança é de 6,17% ao ano mais a variação da Taxa Referencial (TR). Se o juro básico estiver em 8,5% ao ano ou menos, a poupança rende 70% da Selic mais a TR.
No entanto, Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), lembra o fato de a poupança seguir sendo uma boa opção aos investidores com menos dinheiro em razão de taxas:
— Para baixos valores, a poupança é imbatível. Porque aquele cara que tem pouco dinheiro para aplicar, se for para um fundo de renda fixa, vai ter taxa de administração muito alta e vai ter imposto de renda, o que acaba provocando um rendimento menor do que ele teria na poupança, já que a poupança é livre de tudo isso.
Crédito
O diretor-executivo da Anefac afirma que essa elevação isolada não tem grande efeito no ambiente de crédito. No entanto, o efeito acumulado diante de tendência de novas altas nos próximos meses vai pesar nos financiamentos, segundo o diretor:
— No financiamento de curto prazo, de baixo valor, tem pouco impacto. Já no financiamento de longo prazo, vai ter um impacto maior, principalmente naquelas linhas que já são caras, cheque especial, cartão de crédito, ou no financiamento de veículos, que normalmente tem valores e prazos elevados.
Wendy Haddad Carraro, educadora financeira e professora do curso de Ciências Contábeis da UFRGS, alerta para a necessidade de maior gestão das dívidas e de repensar novos empréstimos em um ambiente com juro em elevação.
— Cuidar para não fazer o pagamento parcelado da fatura. Por quê? Porque vai ficar uma dívida e essa dívida tem um juro muito alto. Já é um juro alto no cartão de crédito. Com um juro maior ainda definido pelo mercado financeiro, essa pendência fica um pouco maior — recomenda.
Simulações do efeito da Selic mais alta no crédito:
Cheque especial
Uso por 20 dias de R$ 1 mil
Com Selic de 10,50%
- Taxa mensal: 7,86%
- Valor do juro: R$ 51,20
Com Selic de 10,75%
- Taxa mensal: 7,70%
- Valor do juro: R$ 51,33
Elevação de R$ 0,13
Cartão de crédito rotativo
Utilização do rotativo por 30 dias de R$ 3 mil
Com Selic de 10,50%
- Taxa mensal: 14,58%
- Valor do juro: R$ 437,40
Com Selic de 10,75%
- Taxa mensal: 14,60%
- Valor do juro: R$ 438,00
Elevação de R$ 0,60
Juros do comércio
Compra de uma geladeira de R$ 1,5 mil em financiamento de 12 meses
Com Selic de 10,50%
- Taxa mensal: 5,14%
- Valor da parcela: R$ 170,58
- Valor total: R$ 2.046,92
Com Selic de 10,75%
- Taxa mensal: 5,16%
- Valor da parcela: R$ 170,77
- Valor total: R$ 2.049,22
Elevação no mês: R$ 0,19
Elevação total: R$ 2,30