Uma nota técnica divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que 334,4 mil trabalhadores de 22,5 mil empresas gaúchas foram impactados pelas enchentes ou por deslizamentos de terra verificados no Estado em maio. Esses trabalhadores ficaram impedidos de ir trabalhar em função da chuva, e as empresas pararam temporariamente.
Ao contrário de outros estudos disponíveis sobre o tema, o material publicado na quarta-feira (3) não é uma projeção, mas sim elaborado a partir de dados concretos extraídos dos registros administrativos do Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial).
De acordo com os resultados, cerca de 10% dos estabelecimentos privados e 12% dos empregos formais sentiram diretamente os reflexos da tragédia climática em maior ou menor proporção (veja no mapa). Os efeitos foram observados, conforme lembra o chefe de gabinete da Presidência e técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, Alexandre Cunha, em 418 municípios localizados em área de 16.126 quilômetros quadrados.
Há casos, como Eldorado Do Sul, Muçum, Roca Sales e Sinimbu em que mais de 90% dos empregos com carteira assinada foram prejudicados durante o mês de maio. Em 16 cidades gaúchas, mais da metade dos CNPJs registrados ficou comprometida pela intempérie.
Segundo Cunha, em outra situação recorrente, em locais com mais concentração de pessoas e empresas, portanto com um peso econômico maior, a suspensão das atividades em decorrência dos alagamentos foi realidade para um terço das pessoas ativas no mercado de trabalho. Foi o que aconteceu, por exemplo, em Porto Alegre, onde 184.125 profissionais (38%) de 10.647 empresas (27,4%) sofreram os impactos.
— O agravante, eu diria, é que essas são regiões onde existe um impacto, um dano ambiental muito maior. Você tem uma área na qual você tem uma ocupação intensiva do solo, sem ter o adequado respeito aos padrões de proteção ambiental, de encosta, de cabeceira, de beira de rio, o que faz com que os impactos se multipliquem nas cidades mais populosas — comenta.
Estudo embasou programa de auxílio ao emprego
Antes de ser divulgada ao público na quarta-feira (3), conforme explica o técnico de planejamento e pesquisa do Ipea Alexandre Cunha, os dados foram repassados aos governos do Estado e Federal. No último caso, serviram de base para estabelecer os critérios de adesão ao programa de manutenção ao emprego, cuja meta é custear um salário mínimo por dois meses às empresas afetadas pela crise climática.
O auxílio foi lançado em 19 de junho, em uma das visitas do presidente Luz Inácio Lula da Silva ao Rio Grande do Sul. De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), 17,48 mil empresas solicitaram a adesão até 26 de junho. Até essa sexta-feira (5), a Dataprev deve terminar a análise dessas adesões.
— O que a gente sabe é a quantidade de empregos, de pessoas que foram impedidas de ir ao trabalho porque o lugar onde elas trabalhavam estava alagado, foi destruído por um deslizamento de terra. Esse é o limite da informação que a gente tem, porque sabemos a geolocalização pelo CNPJ, pelo endereço declarado, de todas as empresas e nós sabemos onde a água chegou. Portanto, a nota não é uma projeção, mas sim um dado consolidado — comenta.