Enquanto os supermercados vão aos poucos retomando o movimento normal de pessoas, sem as extensas filas que tomaram as lojas quando começaram as enchentes no Rio Grande do Sul, na semana passada, as revendas e distribuidoras de água mineral concentravam a maior corrida de consumidores nesta segunda-feira (6), na Capital. Além do abastecimento interrompido na grande maioria dos bairros, o calor de mais de 30ºC piora o quadro na cidade.
No Centro Histórico de Porto Alegre, em área onde a água do Guaíba ainda não chegou, as filas também eram grandes. A busca maior era por bombonas de 20 litros, mas qualquer embalagem tinha saída. O maior supermercado da região tinha apenas embalagens de água com gás disponíveis aos consumidores.
Desde que a enchente se alastrou, a Capital enfrenta racionamento de água. A cidade iniciou a semana com 70% da população sem abastecimento.
Na fila de espera das bombonas, muitos clientes aguardavam a sua vez já imaginando voltar sem nada:
— Nem sei se quando chegar a nossa vez ainda vai ter — dizia uma senhora a uma companheira de fila, que também aguardava.
Eliane Muniz e Leandro Greff, proprietários da Água Saudável, relataram que a empresa estava recorrendo a estoques de outros atacadistas para dar conta da demanda. Um carregamento de cem bombonas de 20 litros, fornecido por empresa de água mineral da zona sul da Capital, era aguardado pelos proprietários para as próximas horas, mas já cientes de que não seria suficiente para atender todas as pessoas.
O local decidiu limitar a quantidade vendida a uma bombona por pessoa.
— Nossa única política foi limitar para ser o mais justo possível com as pessoas. Não houve qualquer alteração de preço — reforçou Eliane.
Em outra distribuidora no bairro Cidade Baixa, o movimento dos telefones tocando e de clientes buscando por água era frenético. A empresa estava garantindo fornecimento de embalagens de 20 litros apenas aos clientes que possuíam o casco. A previsão do estabelecimento para conseguir normalizar a distribuição é de, pelo menos, 20 dias.
Supermercados começam a se reabastecer
Água, papel higiênico e itens de higiene pessoal são os mais escassos nas prateleiras dos supermercados. Muitas das lojas visitadas pela reportagem na manhã desta segunda-feira contavam com trabalho intenso de funcionários repondo produtos. Ovos, pães e congelados estavam entre eles.
Apesar da chegada dos fornecedores, muitos caminhões seguem presos nas estradas, sem conseguirem acessar os estoques. Ivan Cardoso Cunha, gerente em uma das lojas da rede Asun no bairro Santana, disse que a maior dificuldade é em relação à logística do abastecimento. Além dos itens essenciais, também há dificuldade de reposição de alimentos perecíveis, como frutas e hortifrutis em geral.
Em bairro próximo, na região da avenida Ipiranga, o gerente de uma das lojas da rede Nacional, Ademir Correa, tentava fazer um pedido de carga extra de águas da Fruki. A fabricante de bebidas fica no Vale do Taquari, umas das regiões mais castigadas pela força das enchentes. O pedido encomendado já havia deixado a fábrica antes de a enchente se espalhar e sairia de Canoas. Ainda assim, a previsão era de que a carga levasse um dia para chegar ao supermercado, por conta do colapso na Região Metropolitana.
Postos de gasolina têm filas para encher o tanque
Nos postos de combustíveis de Porto Alegre, motoristas formavam filas em algumas unidades mais movimentas no início da manhã de segunda-feira. A maioria deles já tinha combustível no veículo e procurava os locais apenas para completar o tanque.
O Sulpetro, sindicato das revendedoras dos postos de combustíveis do Rio Grande do Sul, pediu compreensão aos motoristas e reforçou que não há falta de produto, e sim dificuldade para eles chegarem às bombas dos postos. Ainda assim, unidades visitadas pela reportagem na região central da cidade disseram não ter tido problemas de abastecimento.
— O produto tem, a dificuldade é tirar as bases. Então, é um abastecimento dentro do possível, que não tem falta de produto, mas que tem que ser distribuído. Isso é importante a gente falar — disse o presidente do Sulpreto, João Carlos Dal’Aqua.
Em São Leopoldo e Eldorado do Sul, além de cidades do Vale do Taquari, o abastecimento já tem sido prejudicado desde o fim de semana. Devido a alagamentos e destruição de estradas, os caminhões têm dificuldade de acesso aos municípios.