A necessidade de reformas, os problemas do patrimonialismo e a dificuldade de manter sequência de crescimentos no país dominaram o debate de ideias em uma das primeiras palestras no Fórum da Liberdade, que começou nesta quinta-feira (4), no Centro de Eventos da PUCRS. Com a temática “Eterno país do futuro?”, o painel contou com a presença do ex-presidente do Banco Central (BC), Gustavo Franco, do economista e ex-presidente do Insper Marcos Lisboa e da economista Zeina Latif, sócia-diretora da Gibraltar Consulting.
Na abertura de sua fala, Franco citou as mudanças promovidas na economia do país por meio do Plano Real, que combateu a hiperinflação. Na avaliação de Franco, esse movimento foi a “reforma das reformas” porque conseguiu desvendar os truques e os inimigos desse tipo de intervenção, abrindo caminho para outras reformas e desenvolvimento no Brasil. Lembrando que o PT inicialmente foi contra o plano, mas governou com esse modelo durante muitos anos, Franco citou a importância de fazer uma reforma forte e que aguente mudanças sucessivas de grupos políticos no poder:
— O nosso sistema tem de ser robusto o suficiente para que o pessoal do carro de som (críticos) vá à mesa do Banco Central e a coisa se aguentar. E está aguentando. Eles continuam reclamando, mas segue aguentando.
Franco também defendeu atualizações nas diretrizes nas regras de orçamento público que precisam ser revisadas para combater distorções e atualizar e organizar as instituições no país em prol do crescimento.
Já Marcos Lisboa afirmou que, nos últimos 40 anos, o Brasil oscilou entre períodos bons e ruins. No entanto, as quedas foram muito robustas e severas. Além disso, nos momentos de melhora, “a tentação toma conta” e os gastos públicos aumentam, prejudicando o equilíbrio fiscal. Com isso, não é possível promover desenvolvimento sustentável no país, segundo o economista.
— Nesses 40 anos, a gente tem 26 anos bons, onde a gente cresce bem, nada espetacular, mas bem. Temos 14 anos ruins, que são mais graves. O resultado é uma economia medíocre.
Lisboa também afirmou que o sistema político do país passou por uma mudança nos últimos 10 anos, que deu mais poder para o Congresso e enfraqueceu o Executivo. Segundo o economista, o Legislativo é “tão gastador quanto a presidência”. A única coisa que muda é onde o gasto será efetivado.
Patrimonialismo
Já a economista Zeina Latif afirmou que o país ainda sofre com o patrimonialismo, que sobrevive no país, passando por diversas épocas e formas de governo. Zeina afirma que esse modelo gera um Estado mais pesado, com carga tributária elevada e marcos jurídicos prejudicados. Isso cria um cenário de desequilíbrio e de desigualdade, segundo a especialista:
— Esse patrimonialismo acaba gerando injustiças. Como resultado também criamos muitas políticas públicas, muitas intervenções estatais que tem cunho paternalista.
Zeina afirma que existe uma esperança nas novas lideranças políticas que vêm se formando nos últimos anos. No entanto, afirma que é preciso avançar na capacidade técnica, na educação e na formação de capital humano. Isso permite futuro com gestão baseada em novos líderes que poderão contar com as melhores matérias-primas, segundo a economista.