Os fenômenos climáticos registrados no Rio Grande do Sul em setembro, sobretudo o excesso de chuva e as enchentes no Vale do Taquari, Serra, Região Norte e Fronteira Oeste, trouxeram reflexos para a diminuição do ritmo de criação de vagas no mercado de trabalho gaúcho. Em outubro, o saldo entre novas contratações e demissões ocorridos no Estado foi positivo em 10.766. O resultado é 22,6% inferior ao saldo de 13.910 vagas apurado em igual período do ano passado.
Em 10 meses de 2023, as 64.662 admissões a mais do que os desligamentos também são inferiores, desta vez, em 21,5% na comparação com as 82.404 acumuladas entre janeiro e outubro de 2022. Isso representa a pior variação (2,44%) entre os estoques das 27 unidades da federação em idêntico recorte temporal.
Em meio à polêmica sobre o veto presidencial à continuidade do benefício da desoneração da folha salarial nos 17 setores mais intensivos em mão de obra do país, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) antecipou em um dia, para esta terça-feira (28), a data prevista para a divulgação dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
— Nunca tive nada contra a desoneração, mas sim pelo fato de ser setorial. É preciso pensar no peso da carga na produção, no consumo e na folha de pagamentos, mas também na receita do Estado para manter políticas públicas existentes e iniciar as necessárias. Isso se faz não com a desoneração de setores específicos da economia, mas com a reforma tributária — declarou o titular da pasta, Luiz Marinho, durante a apresentação, ao se esquivar de uma série de perguntas sobre eventuais efeitos da interrupção da medida nos próximos resultados.
No Brasil, os números oficiais do emprego formal em outubro revelaram saldo positivo entre novas admissões e desligamentos em 190.633 vagas, o que eleva a abertura de novos postos ao patamar de 1.784.695 no acumulado do ano e representa avanço de 5,85% sobre o total de 1,6 milhão de postos gerados em igual período do ano passado. Para a economista e professora da Feevale Lisiane Fonseca da Silva, o descolamento dos dados nacionais dos gaúchos está vinculado à sobreposição de intempéries que afetam em cheio o Estado.
— São problemas severos que carregam consequências para a atividade econômica do rural ao comércio e aos serviços. É o que gera essa diferença, uma vez que as variáveis macro que influenciam o mercado nacional também ocorreram por aqui — explica, referindo-se ao processo de redução da taxa de juros e aos índices de inflação mais baixos.
Os dois vetores citados pela economista ajudam a liberar crédito e a diminuir a corrosão do poder de compra das famílias, o que tende a impulsionar o mercado de consumo, um dos elementos capazes de aquecer as novas contratações.
Tempestade perfeita em formação
Economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank percebe a formação de uma chamada “tempestade perfeita” (junção de fatores negativos na economia) que reúne os efeitos da crise climática, que começa com uma estiagem no início do ano e culmina no excesso de chuva nos meses finais. Não bastasse esse cenário, comenta Frank, a indústria gaúcha opera no vermelho, enquanto comércio e serviços dão sinais de desaceleração e a agropecuária não entrega 100% de seu potencial à economia gaúcha.
Com base no cenário, o economista destaca que a variação relativa aos estoques (usado para mensurar a expansão ou não dos mercados de trabalho regionais) teve a pior evolução no acumulado do ano até outubro registrada, justamente, no RS, com 2,44%. No Brasil, o mesmo indicador avança 4,20% e no segundo Estado com menor crescimento, a Paraíba, chega a 3,81%.
— Foi um início de ano ruim que impactou toda a safra. E, agora, essas questões relacionadas às enchentes tendem a aparecer de maneira mais visível nos últimos dois meses do ano, pois atividade econômica e geração de empregos andam lado a lado — avalia Frank.