Depois de registrar alta de 2,3% — acima da nacional, de 0,9% — no segundo trimestre deste ano, na comparação com os três meses iniciais, o Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul tende a enfrentar novas dificuldades no segundo trimestre de 2023.
O desempenho do período reflete altas consistentes de 4,1% na agropecuária e 3,3% na indústria. Ainda que tenha sido afetado por nova estiagem no início de 2023, o impacto da falta de chuva nas lavouras do Estado foi menor do que o registrado em 2022.
Com isso, a agropecuária apresentou a maior expansão (44% contra 17% no Brasil) entre os segmentos da economia no segundo trimestre em relação ao mesmo período de 2022. A recuperação na produção de soja (36%) e milho (31,8%) impulsionou a alta nos números.
Ainda não há dados consolidados sobre os efeitos econômicos das enchentes no Estado. Mas sabe-se, por exemplo, que os 36 municípios que formam o Vale do Taquari, a região mais atingida, representam 3,5% do PIB gaúcho. Quando a base de comparação é a indústria alimentícia, um dos pilares da indústria de transformação, a participação sobe para 11,5% e chega a 20% no processamento das carnes de suínos e de frangos.
Economista e pesquisador do Departamento de Economia e Estatística (DEE), Martinho Lazzari também lembra que a região tem peso relevante nos calçados, no couro e na indústria química. Da mesma forma, comércio e serviços foram afetados.
O consumo das famílias é outro fator que preocupa, uma vez que nos locais a soma dos empregos industriais supera os demais, o que é incomum, e reforça os impactos elevados para os municípios, com reflexos para a atividade no RS.
Culturas agrícolas do próximo período em risco
Como as enchentes acontecem no período de plantio de fumo, milho, feijão e arroz, o processo ocorrerá em meio a muita umidade, o que diminui a janela de semeadura e afetará a fase de colheita do trigo de inverno, a principal cultura captada nas divulgações do PIB no terceiro trimestre.
Nesse caso, as condições climáticas incentivam a proliferação de fungos e pragas, que tendem a alterar não só a produtividade, mas a qualidade dos produtos colhidos.
— São vários os efeitos que vão se sobrepondo — comenta Martinho Lazzari, economista e pesquisador da DEE.
Ele lembra que, em geral, os números positivos da economia gaúcha neste primeiro semestre foram puxados pela recuperação, ainda que parcial, da agropecuária e uma parcela relacionada com o bom desempenho agregado dos serviços.
Embora tenha tido alguma recuperação na margem, no segundo trimestre em relação ao primeiro, indústria tem apresentado dificuldades ao longo de 2023. E o destaque negativo, argumenta o economista é, justamente, a indústria de transformação, cujos efeitos do agronegócio apresentam reflexos correlatos.
Novo viés negativo para a produção industrial
Na comparação do trimestre com iguais meses de 2022, a indústria já havia sido o único entre os grandes segmentos a apresentar queda no PIB no RS (-5% contra +1,5% no país). A queda mais expressiva em termos percentuais foi nas indústrias da área de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (-12,6%), no entanto a principal influência na taxa final do segmento foi a da indústria de transformação, a mais representativa do setor no Estado, com queda de 4,8%.
Economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Giovani Baggio, percebe novos fatores de preocupação setorial e afirma que a alta desse período pode ser explicada muito mais por uma base deteriorada de comparação.
— Diversas indústrias foram afetadas. Isso vai entrar na conta da produção e do PIB do terceiro trimestre. Essa chuva em excesso, ao contrário do que ocorreu no início do ano, atrapalha a produtividade agrícola, o que é captado pela indústria de transformação. Sabemos que o trigo, a principal cultura do terceiro trimestre já contabiliza perdas de 12,6%, segundo a Emater-RS e será bastante afetada em sua produtividade — comenta.
O cenário negativo, pontua Baggio, recebe o complemento de problemas logísticos. As vias de acesso e pontes destruídas vão acrescentar custos no processo de escoamento da produção e também de recebimento de novos insumos, que já andam em falta no mercado, explica.