Aos 4 anos de idade, depois do divórcio dos pais, Taciana Barcello Rosa, começou uma verdadeira peregrinação, de casa em casa, até fixar paradeiro com a mãe, no bairro Estância Velha, de Canoas. À época, viu a situação familiar e financeira se deteriorar, muito nova para entender aquela mudança, lembra.
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Mais tarde, em 2006, depois do nascimento das duas irmãs, fruto de outra relação de sua de mãe, teve o primeiro contato com o Bolsa Família. Ainda pequena, recorda das avaliações de frequência na escola e do acompanhamento nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), dois fatores preponderantes para que o benefício chegasse ao seu núcleo familiar.
— Todo o entorno dos programas sociais e do bolsa família, que eram as condicionalidades, me fizeram chegar nesses espaços. Mas foram esses espaços que me fizeram refletir —resume a jovem de 29 anos, que, atualmente, está a um passo de se tornar doutora em Políticas Públicas, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Taciana sempre soube se fazer exceção. Dependente de beneficiária do Bolsa Família no RS quando era pequena, integra, hoje, um reduzido universo que abrange somente 3,4% das crianças dependentes do programa, em 2005, que chegaram à universidade, segundo um estudo do Instituto de Mobilidade Social (IMDS). Ela também é a primeira em todo o seu ciclo de convívio a conseguir o feito, em 2012.
Aliás, até a oitava série, em 2008, ela e os colegas da Escola Margot Terezinha Noal Giacomazzi, no bairro Guajuviras, sequer tinham conhecimento de que existiam universidades públicas no Estado, o que naquela ocasião significava uma possibilidade, “porque não precisava pagar”, ironiza a jovem.
E não foi por acaso a escolha do curso (Políticas Públicas) e do objeto de pesquisa, no trabalho de conclusão (TCC), na dissertação de mestrado e na tese de doutorado: o Sistema Único de Assistência Social (Suas). Ela resume: é uma tentativa de entender a própria história.
— Inicialmente, se criou um sentimento meritocrático de um esforço infinito, como se eu me esforçasse muito conseguiria. Mas, quando cheguei ao doutorado percebi que não adiantava o meu esforço individual, eu não mudaria a realidade da minha mãe (que tem até o sexto ano do fundamental, assim como mais de um terço dos titulares do benefício do RS) e das outras pessoas. Não, não era algo individual, por mais que houvesse o meu esforço é uma questão geracional — pontua.