Um pequeno município do interior do Rio Grande do Sul aguarda com ansiedade o anúncio, nesta quarta-feira (12), do plano estratégico da Eletrobras para os próximos anos. Com a economia dependente da usina termelétrica Candiota 3, os moradores de Candiota, na região da Campanha, temem pelo futuro do empreendimento, que pode ser vendido ou desativado.
Batizado de Eletrobras Day, o evento vai reunir executivos e acionistas da empresa em um teatro de São Paulo. A companhia não antecipa o teor dos anúncios, mas no mês passado o presidente Wilson Ferreira Jr admitiu a intenção de se desfazer das usinas térmicas como estratégia para atrair investidores.
— Até o fim do contrato, se houver algum interessado, podemos passar para frente. Mas não vamos continuar — comentou.
Maior geradora de energia do país, a Eletrobras mira se tornar líder global em baixa emissão de carbono. Na semana passada, já havia anunciado a preparação da venda de sete termelétricas a gás. A expectativa agora recai sobre Candiota 3, única térmica a carvão no portfólio da empresa. Com capacidade de gerar 350 megawatts, a usina pode abastecer 8% da população gaúcha.
Como o carvão é uma matriz mais poluidora do que o gás e Candiota 3 tem contratos de venda de energia somente até dezembro de 2024, são escassas as chances de a usina permanecer operando. Ferreira já vinha alertando para essa situação, sobretudo pelas dificuldades na obtenção de novos contratos e pela busca do mercado por negócios ambientalmente sustentáveis.
Com 10,7 mil habitantes e a segunda maior média salarial do Rio Grande do Sul, Candiota tem na usina sua principal base econômica. Quase metade dos trabalhadores formais atua na cadeia do carvão e da energia elétrica, cujas receitas respondem por 40% do orçamento municipal.
— O fechamento da usina é como se a gente pegasse uma perna da pessoa e amputasse. É mais que isso, como se amputasse um braço, metade do corpo de uma pessoa. É metade da receita, do emprego, vai afetar as crianças que estão na escola, a saúde, tudo — afirma o prefeito Luiz Carlos Folador (MDB).
Investimentos podem ser afetados
A eventual descontinuidade da usina coloca em risco também a privatização da Companhia Riograndense de Mineração (CRM), dona de jazidas que somam 2,5 bilhões de toneladas de carvão em Candiota. O governo do Estado trabalha no edital de leilão, mas sem Candiota 3 a estatal perderia seu principal cliente, a Eletrobras, responsável por 90% da demanda, e, consequentemente, valor de mercado.
Sem Candiota 3, outro empreendimento ameaçado é a instalação de um polo carboquímico na região. Sediado no Espírito Santo, o Grupo Vamtec busca parceiros comerciais e apoio governamental para investir R$ 1,7 bilhão em uma planta de gaseificação de carvão no município. O objetivo é usar a tecnologia — menos poluidora do que a queima do minério na termelétrica — para produção de metanol, fertilizantes e fosfato.
— O projeto está maduro, mas se a Eletrobras anunciar o fechamento da usina, possivelmente iremos abortar — diz o CEO da Vamtec, José Varella.
Alternativa
Políticos, empresários e trabalhadores da região tentam sensibilizar o governo federal a deflagrar um processo de transição energética em Candiota. O primeiro passo seria manter a usina operando após 2024 como reserva emergencial de energia no sistema elétrico nacional. Ao mesmo tempo, a queima do carvão seria paulatinamente substituída por sua gaseificação, até o abandono completo do minério como matriz energética.