O dólar à vista encerrou a sessão desta segunda-feira (19) em baixa de 0,91%, cotado a R$ 4,7755 — abaixo de R$ 4,80 pela primeira vez desde 6 de junho de 2022 e no menor valor de fechamento desde 31 de maio do ano passado (R$ 4,7516). Com queda em 10 dos 12 pregões de junho, a moeda já acumula desvalorização de 5,86% no mês. Tirando uma alta pontual e bem limitada na abertura, quando tocou máxima a R$ 4,8299, o dólar operou com sinal negativo ao longo do dia e registrou mínima a R$ 4,7600 à tarde.
A apreciação do real se deu na contramão da onda de fortalecimento do dólar no Exterior, tanto em relação a moedas fortes quanto divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Houve frustração com a ausência de estímulos à economia na reunião do Conselho Estatal da China encerrada na sexta-feira (16). As expectativas se voltam agora para possível corte de taxas longas pelo Banco do Povo da China (PBoC, o BC chinês) nesta noite.
Operadores atribuíram a baixa firme do dólar à entrada de fluxo estrangeiro para bolsa e desmonte parcial de posições defensivas no mercado futuro, que tiveram seu efeito exacerbado pela liquidez bem reduzida, dada a ausência da referência das bolsas em Nova York, fechadas em razão de feriado nos EUA. Termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para julho movimentou menos de US$ 8 bilhões.
— A liquidez é reduzida e as divisas emergentes estão perdendo com commodities para baixo. Parece que temos um movimento de tesourarias descarregando posições compradas (em dólar). A alta das ações da Petrobras, mesmo com a queda do petróleo, sugere que existe um fluxo estrangeiro mais forte para a bolsa, o que joga o dólar para baixo — afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni.
O pano de fundo para a valorização do real é a melhora das expectativas para a economia brasileira, às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que anuncia sua decisão no início da noite desta quarta-feira (21). É consenso no mercado que o colegiado vai manter a taxa Selic em 13,75% ao ano. As atenções se voltam para o comunicado do Copom, que pode trazer pistas sobre o tão esperado início de ciclo de cortes.
Pela manhã, o boletim Focus trouxe nova rodada de redução das expectativas de inflação. Houve revisão para baixo da mediana das projeções para taxa Selic no fim deste ano (de 12,50% para 12,25%) e para o próximo (de 10% para 9,50%). Mais: a maioria dos economistas já prevê queda da taxa Selic de 13,75% para 13,50% em agosto, segundo o Sistema de Expectativas de Mercado, base de dados do Boletim Focus. Para a taxa de câmbio no fim de 2023, a estimativa caiu de R$ 5,10 para R$ 5,00.
Para o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, o Copom deve promover "mudanças importantes" em seu comunicado, retirando referência a eventual retomada de ciclo de alta dos juros e "sinalizando que o cenário macroeconômico sugere afrouxamento monetário para breve", tendo em vista a inflação corrente e a melhora das expectativas. Oliveira acredita em início de ciclo de cortes em agosto com redução de 0,50 ponto percentual e taxa Selic em 11,75% no fim do ano.
— Se o BC for muito tímido no início do ciclo de corte da Selic, como sugerem algumas análises, o real deverá valorizar moderadamente ainda, dado que o juro real ainda permanecerá excessivamente alto — afirma o economista-chefe do Banco Pine.
Entre os indicadores, a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) informou à tarde que a balança comercial brasileira teve superávit comercial de US$ 2,544 bilhões na terceira semana de junho (dias 12 a 18). No mês, o superávit acumulado é de US$ 7,244 bilhões e no ano, de US$ 42,166 bilhões.