Aspectos sazonais e desaceleração da economia ajudam a impulsionar o desemprego no Brasil no primeiro trimestre. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o país fechou o primeiro trimestre com 9,4 milhões de desempregados, avanço de 10% ante o trimestre anterior. Com a atualização, a taxa de desocupação no país subiu para 8,8% no período, o menor resultado para o período desde 2015 (8,0%). A pesquisa também mostra queda na ocupação (veja mais abaixo). Efeitos de inflação, juro elevado, incertezas diante da troca de governo e volta a patamares normais no mercado de trabalho ajudam a explicar o cenário, segundo especialistas. Para os próximos meses, projetam manutenção da geração de emprego lenta na espera de reformas.
O economista e professor da Universidade Feevale José Antônio Ribeiro de Moura afirma que a falta de tração do emprego no primeiro trimestre costuma ser sazonal nessa época do ano diante de alguns fatores, como o fim de contratos temporários. No entanto, nos últimos dois anos, mudanças no mercado de trabalho em meio à pandemia bagunçaram os dados sobre o emprego no país, segundo o especialista. Agora, o movimento mostra uma certa volta à normalidade:
— O primeiro trimestre é sempre um pouco mais preocupante. O efeito sazonalidade é bem importante e mostra que talvez, daqui para frente, tenhamos um mercado de trabalho mais previsível.
A análise de Moura ocorre na mesma linha da explicação da coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy:
— Esse movimento de retração da ocupação e expansão da procura por trabalho é observado em todos os primeiros trimestres da pesquisa, com exceção do ano de 2022, que foi marcado pela recuperação pós-pandemia.
Pesquisador sênior da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), Fernando de Holanda Barbosa afirma que o aumento da taxa de desocupação também é reflexo do cenário econômico do país. Inflação alta e juro elevado para tentar conter a demanda freiam a atividade, respingando no ritmo do emprego no país, segundo o especialista:
— Além do aspecto sazonal, a gente observa uma desaceleração da economia e a tendência é de que esse processo continue, visto que o Banco Central está tentando justamente combater a inflação. De certa forma, isso era esperado.
Primeiro trimestre ainda não reflete as ações do novo Executivo federal
Essa é a primeira PNAD que mostra um dado fechado de trimestre no terceiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tanto o professor da Feevale quanto o pesquisador do FGV Ibre avaliam que o extrato do mercado de trabalho no primeiro trimestre ainda não reflete as ações do novo Executivo federal.
Moura avalia que a retração segue a lentidão da atividade econômica no país, que ainda sofre com alguns fatores, como inflação alta e incertezas por parte do setor produtivo com a troca no comando do Planalto. Avanço de pautas, como a reforma tributária e novo marco fiscal, podem destravar esse processo, segundo o professor.
O pesquisador do FGV Ibre entende que a desaceleração do emprego é a continuação de um ciclo econômico marcado pelo combate à inflação e por juros elevados. Barbosa estima manutenção da volta da normalidade do emprego no país nos próximos meses:
— Estamos voltando a um funcionamento normal da economia, onde aquelas elasticidades gigantes de emprego em relação ao PIB acabaram. A gente vai voltar a ter uma relação mais normal em que a geração de emprego vai ocorrer num ritmo mais lento do que a gente viu ao longo dos últimos dois anos.
Os dados da PNAD também mostram que o rendimento real habitual (R$ 2.880) ficou estável frente ao trimestre anterior e cresceu 7,4% no ano. O pesquisador do FGV Ibre afirma que, na melhor das hipóteses, o rendimento deverá seguir estável, com possibilidade de queda diante de eventuais novas altas na taxa de desemprego.