A demora dos carregadores veiculares de corrente alternada (CAs), mais lentos, e a dificuldade de instalação residencial (pois precisam de rede trifásica entre outras alterações no que é oferecido pelas concessionárias aos consumidores pessoa física, além do alto custo), faz emergir na iniciativa privada novas oportunidades de negócios.
O engenheiro e proprietário da Garage Gigante, no Centro de Porto Alegre, Alessandro Ponzio, percebeu o movimento em outubro de 2020. Desde então, já instalou 24 carregadores no local que, antes, disponibilizava apenas vagas de estacionamento.
A maioria é ultrarrápida (demora cerca de 30 minutos). A cobrança é feita por kilowatt/hora (KWh) e sai por R$ 2. Significa que, dependendo do município, uma carga de bateria chega a ser três vezes mais em conta do que encher um tanque de gasolina. Na comparação com o uso de uma rede residencial (R$0,80 por KWh, na CEEE Equatorial, por exemplo), a diferença é cinco vezes inferior para cada quilômetro rodado de quem opta pela recarga rápida.
— Somos entusiastas do veículo elétrico, eu mesmo tenho dois e abri mão do híbrido. O argumento de que é preciso ter um carregador rápido em casa não se sustenta. Muitas vezes criam-se problemas para vender soluções que não precisamos — comenta, ao lembrar que em seu estabelecimento está fixado um dos eletropostos da Rota Centro (desenvolvida pela UFSM e pela CEEE Equatorial).
Com isso, o movimento é constante. E existe muita procura, diz Ponzio, por parte de motoristas de aplicativos, proprietários de carros em deslocamento do interior gaúcho, de outros estados e, até mesmo, de frotas de carros elétricos que prestam serviço de transfer para passageiros.
Redução de 85,7% de custos na comparação com combustíveis fósseis
É o caso de Bruno Monteiro, dono da única empresa desse tipo formada apenas por carros 100% elétricos no Estado. E ele afirma não fazer queixas quando o assunto é a infraestrutura nos trajetos percorridos: do aeroporto de Porto Alegre a Caxias do Sul, Gramado, Bento Gonçalves e outros locais turísticos da Serra.
Atualmente, a empresa faz, em média, 30 viagens por dia. O custo mensal com gasolina, explica Monteiro, seria de R$ 7 mil por carro e totalizaria R$ 91 mil para os 13 veículos. Com a frota 100% elétrica, a despesa fica em somente R$ 13 mil mensais, ou uma redução de 85,7%. Monteiro recorda de vantagem responsável, desta vez, por uma economia superior a R$ 50 mil, por ano, no seu caso. É que os veículos elétricos em alguns Estados – e o Rio Grande do Sul é um deles – são isentos do pagamento de IPVA.
As vantagens e as dificuldades para quem depende de um elétrico nas estradas
Em dezembro, o taxista Fabiano Collasiol resolveu dar uma guinada radical na atividade exercida por ele há seis anos, ao investir R$ 250 mil – à vista – para adquirir o seu primeiro veículo 100% elétrico. Antes de desembolsar a quantia, o motorista profissional que vive em Arroio do Sal, no Litoral Norte, colocou na ponta do lápis o consumo de combustível do modelo que utilizava, um de motor 1.4 à gasolina e desconsiderou o desgaste de pneus e pastilhas de freio (em razão do atrito com a areia, uma das características da região).
A partir de então, identificou custo mensal de R$ 2 mil, na baixa temporada, e de R$ 2,5 mil, no verão, por causa do aumento da demanda por deslocamentos de passageiros entre as principais praias gaúchas. Ao acrescentar a despesa média da conta de luz da residência, concluiu que gastaria de R$ 45 a R$ 50 para realizar uma recarga no novo veículo, que lhe daria autonomia de 300 quilômetros para rodar nas estradas. São quase dez viagens até Torres, um dos destinos mais procurados pelos turistas, e que fica a cerca de 35 quilômetros de Arroio do Sal.
A equação aplicada por Collasiol considera um carregador de média potência (mais ou menos 8 horas para preencher as baterias), idêntico ao que recebeu no momento da compra do carro. Por essa razão resolveu considerar um horizonte ampliado e optou por, ao mesmo tempo, financiar a instalação de placas solares para garantir a totalidade da geração de eletricidade de que necessita, seja para o automóvel ou para a casa.
Hoje, paga R$ 1.330 a cada trinta dias, para arcar com as parcelas do projeto fotovoltaíco. Ou seja, quitar o crédito adquirido para gerar a própria energia passou a ser a principal despesa do taxista que, agora, comemora uma economia de 46,8% nos gastos mensais. Ele resume:
— Na prática, percorro a mesma quilometragem do que quando o custo era de R$ 2,5 mil ao mês, mas, atualmente, todo o gasto está concentrado nos R$ 1.330 do financiamento. Sobra R$ 1,2 mil e ainda não preciso mais me preocupar com a conta de luz.
Por outro lado, Collasiol sabe que para percorrer distâncias mais longas não pode depender do tempo de carregadores de baixa ou média potência. É preciso, sim, contar com os mais rápidos e, com alguns avanços na infraestrutura, ele já consegue aceitar corridas para destinos da Serra Gaúcha, como Caxias do Sul, Gramado e Canela. E, se não identificasse um problema que torna o padrão chinês do plug de seu veículo (é como se fossem as diferentes entradas de cada modelo e marca de celular) poderia avançar até Vacaria, por exemplo.
— Em Porto Alegre, nas recargas superpotentes leva-se uma hora. Você está falando com o cara que comprou um carro muito bom, mas com um plug chinês fora do padrão (o Brasil adotou o CCS2, considerado mais eficiente). E esse mesmo cara teria de gastar mais R$ 15 mil em um adaptador — relata ao corroborar com a fala de muitos analistas do setor que apontam para a necessidade de ampliar o novel de informações sobre os veículos elétricos.
A solução encontrada, comenta o taxista, vai ser aguentar por mais um tempo a situação para, em curto prazo, comprar um carro com padrões de recarga mais dominantes no atual mercado nacional.
Enquanto isso, acrescenta, não foram poucas as vezes em que teve de recusar algum destino por conta do risco de ficar sem mobilidade em alguma rodovia. Na terça-feira (25), por exemplo, ele atendeu à reportagem de GZH no momento em que teve de parar no distrito de Tainhas, em São Francisco de Paula, a 67 quilômetros de Caxias do Sul, para uma recarga imprevista em seu taxi 100% elétrico.
Na ocasião, ele puxava um reboque mais pesado do que o previsto. Isso alterou o desempenho e reduziu a autonomia do veículo, o que também pode acontecer em situações de muito relevo ou más condições das rodovias, relata.
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