A pobreza e a extrema pobreza atingiram níveis recordes em 2021 no Brasil, impactadas sobretudo pelos efeitos da pandemia de covid-19 na renda da população. A deterioração das condições de vida dos brasileiros ganhou contornos ainda mais desiguais quando comparadas as regiões do país, com extremos sociais entre uma ponta e outra.
Enquanto Norte (44,9%) e Nordeste (48,7%) tinham as maiores proporções de pessoas pobres, a região Sul concentrava o menor percentual de habitantes nessa condição (14,2%), conforme dados da Síntese dos Indicadores Sociais, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (2).
Isso não significa, porém, que o quadro não seja preocupante por aqui. No Rio Grande do Sul, 13,5% da população (1,54 milhão de pessoas) vivia com menos de U$S 5,50 (cerca de R$ 28,5) por dia, régua definida pelo Banco Mundial e adotada na pesquisa do IBGE para definir o limite de pobreza.
Mesmo que inferior ao restante do país, o índice gaúcho é supreendentemente alto, observa o professor e sociólogo André Salata, coordenador do PUCRS Data Social.
Em 2021, 320.404 mil gaúchos (2,8% da população) estavam vivendo em situação de extrema pobreza, ou seja, com menos U$S 1,90 (cerca de R$ 10) por dia, conforme a linha do Banco Mundial. É o maior percentual no Rio Grande do Sul desde que a série de pesquisa foi iniciada, em 2012. Foram 46,7 mil pessoas a mais na miséria do que em 2020.
O agravamento da condição social retratado pelos índices é reflexo da pandemia e dos seus efeitos no decorrer do tempo, segundo especialistas. Em 2020, o estouro da crise sanitária reduziu a renda e o trabalho das famílias. O quadro foi parcialmente estancado com os programas de transferência de renda, como o Auxílio Brasil, que garantia pagamentos de R$ 600 para os mais afetados.
Mas, em 2021, a interrupção do socorro financeiro por três meses e a posterior redução dos valores pagos voltou a assolar os mais vulneráveis — fatos que agora se refletem nos dados sociais divulgados pelo IBGE.
— Para essa faixa que está na extrema pobreza, a transferência de renda tem um impacto muito grande — diz Walter Rodrigues, pesquisador do IBGE e coordenador da Pnad Contínua no Estado.
— O Auxílio mais do que compensou essas perdas. Em 2020, no ápice da pandemia, você tem uma queda da desigualdade e da pobreza, mas, em 2021, o cenário muda muito. Todo esse efeito que estamos vendo, de aumento da desigualdade e da pobreza, são efeitos da pandemia sobre a atividade econômica junto com a redução e interrupção do Auxílio Emergencial em 2021 — avalia Salata.
Apesar das gradações geográficas, o aumento da desigualdade é geral no país. Em 2021, o Índice de Gini, que mede o descompasso da concentração de renda, foi de 0,544. O índice varia de zero a um, e quanto mais próximo de zero, menor é a desigualdade.
Em termos regionais, a região Nordeste possuía em 2021 o Gini mais elevado (0,556) e a região Sul, o menor (0,462). A discrepância entre o maior (Roraima) e o menor (Santa Catarina) chega a 40%. O Rio Grande do Sul fica entre os menores índices, com 0,468.
— É esperado. A região Sul tende a ser mais rica, com um volume de recursos maior e estrutura econômica mais robusta que a região Norte e Nordeste. Então os indicadores sociais, em geral, também tendem a ser melhores no Sul — explica o pesquisador da PUCRS.