Três em cada 10 famílias enfrentam algum nível de falta de alimentos ou passam fome no país, segundo estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan) divulgado nesta quarta-feira (14). Em números absolutos, são 125,2 milhões em insegurança alimentar — leve, moderada ou grave (veja a classificação abaixo).
O levantamento mostra que Estados do Norte e do Nordeste têm, proporcionalmente, os mais graves índices de insegurança alimentar do país. A situação é pior quando são considerados os domicílios com crianças de até 10 anos ou aqueles com renda familiar per capita inferior a meio salário mínimo.
No Maranhão, por exemplo, quase dois terços (63,3%) das residências com crianças até 10 anos apresentam insegurança alimentar moderada ou grave. Na sequência, aparecem Amapá (60,1%), Alagoas (59,9%), Sergipe (54,6%), Amazonas (54,4%), Pará (53,4%), Ceará (51,6%) e Roraima (49,3%).
Os números integram o 2º Inquérito Nacional da Insegurança Alimentar no Brasil no Contexto da Covid-19 (II Vigisan). Os dados que embasam a pesquisa foram colhidos a partir de entrevistas em 12.745 domicílios, em áreas urbanas e rurais, entre abril de 2021 e abril deste ano.
Os novos dados apontam que Alagoas registra a maior proporção de pessoas que passam fome — pelo menos 36,7% delas se encontram em insegurança alimentar grave no Estado. Já em números absolutos, a maior concentração de pessoas em situação de insegurança alimentar está em São Paulo (6,8 milhões) e no Rio de Janeiro (2,7 milhões).
Endividamento
O trabalho sugere que é possível fazer uma associação entre o endividamento e a fome. O motivo é que a frequência de famílias endividadas nos Estados do Norte e do Nordeste é maior.
Em Alagoas, estão nessa situação 57,5% das famílias, número que chega a 52,6% no Amazonas. O Distrito Federal, com 55,6%, também se destaca negativamente nesse quesito.
— Mesmo as famílias que recebem o Auxílio Brasil, por estarem endividadas, não conseguem utilizá-lo somente para a compra de alimentos. O recurso precisa ser utilizado para pagar outras necessidades básicas, como aluguel, transporte, luz e água — explica Ana Maria Segall, pesquisadora da Penssan e da Fiocruz.
Classificação:
- Segurança alimentar: a família/domicílio tem acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais
- Insegurança alimentar leve: preocupação ou incerteza em relação ao acesso aos alimentos no futuro; qualidade inadequada dos alimentos resultante de estratégias que visam não comprometer a quantidade de alimentos
- Insegurança alimentar moderada: redução quantitativa de alimentos e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante de falta de alimentos
- Insegurança alimentar grave: fome (sentir fome e não comer por falta de dinheiro para comprar alimentos; fazer apenas uma refeição ao dia, ou ficar o dia inteiro sem comer)