Pesquisa encomendada pela Serasa e realizada em parceria com o Banco Pan, entre os dias 12 e 22 de abril, avaliou o nível de conhecimento e da relação dos trabalhadores com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Bastante em voga nos últimos tempos, seja pelas modalidades de saques aniversário e emergencial, ou pela possibilidade de investimento em ações da Eletrobrás, quatro em cada 10 brasileiros dizem não saber o saldo atual que possuem nas contas e um terço desconhece as maneiras para acessar os recursos.
No universo dos 62% que afirmam ter ciência dos valores, mais da metade (51%) revela contar com recursos entre R$ 500 e R$ 2,5 mil. E, quando se trata das formas disponíveis para a utilização, o distanciamento é ainda maior, comenta o COO do instituto contratado para a coletar os dados, o Opinion Box, Felipe Schepers: 36% ignoram a possibilidade de saque para empréstimos com juros mais baratos do que os de mercado, em novas modalidades disponibilizadas recentemente por bancos.
Segundo Schepers, ao comparar o comportamento do Sul, é possível identificar melhor relação, pois 71% dizem saber quais são as formas de utilizar o dinheiro do fundo, ante 67% na média nacional. Além disso, um terço dos trabalhadores da região não sabe qual é o seu saldo do FGTS, enquanto no país a proporção é de 38%.
Ele destaca ainda que a pesquisa testou oito alternativas diferentes de saques do FGTS. Nesse aspecto, a grande maioria diz saber que é possível quando a demissão ocorre sem justa causa, na compra da casa própria e no mês de aniversário. Duas formas, entretanto, tem elevado desconhecimento: depois de completar 70 anos e para fazer empréstimos.
Opção
Os dados revelam que, se pudessem escolher, os brasileiros usariam o dinheiro para a compra da casa própria (o que já é permitido), para montar o próprio negócio ou cuidar mais da própria saúde. Há ainda itens como pagar todas as dívidas e viajar para fora do país.
Para Schepers, o levantamento evidencia que o FGTS seria usado para diferentes desejos, seja para planos pessoais, de patrimônio ou de lazer. Por isso, ele questiona se “o acesso não deveria respeitar a vontade dos trabalhadores”, considerando que 36% dos entrevistados revelaram ter alguma conta em atraso, em valores que oscilam entre R$ 1 mil e R$ 2,5 mil.
– Ou seja, a média dos saldos poderia eliminar essas dívidas. Seria importante fazer essa conta e fechar o quebra-cabeças com pagamentos de juros menores e recursos de um saldo que quatro em cada 10 brasileiros sequer sabe o quanto tem – pontua.
Tendência de flexibilização
Criado em 1966, para dar garantias ao trabalhador demitido sem justa causa, o FGTS passou por algumas flexibilizações ao longo do tempo. É o caso da permissão do acesso em razão de doenças graves, aposentadorias e desastres naturais.
A partir de 2017, também entrou na conta a rescisão de contratos por comum acordo. Em 2019 e 2020, vieram os saques aniversário e emergencial. Essa é ainda uma das principais fontes de financiamento habitacional no país.
O problema, afirma a economista Dirlene Silva, é que, como esses recursos são pagos pelo empregador por meio de contas vinculadas, quando retidos, rendem somente 3% ao ano, mais a Taxa Referencial (TR). Atualmente, comenta ela, remuneram menos do que a poupança e outros investimentos conservadores como os títulos do Tesouro.
– Deixá-lo parado não é um bom investimento. Até a metade do ano passado, quando a taxa Selic estava baixa, sim, rendia um pouco mais. Hoje estamos falando em Selic de 12,75% ante 3% ao ano do FGTS. As pessoas poderiam muito bem sacar para colocar no Tesouro Selic, que é conservador e renderia mais. Ou seja, trabalhar com a mágica dos juros a seu favor – resume.
A empresária e orientadora financeira Nath Finanças acrescenta que é preciso entender que o modo de trabalho e a estabilidade mudaram com o passar do tempo. De acordo com Nath, as pessoas que utilizarem o FGTS para o pagamento de dívida, por exemplo, trocariam uma dívida com juro maior por outra com juro menor.
– É uma das formas de educação financeira que deveria ser ensinada, pois quando a pessoa começa ter acesso a informações sobre juros, muitas vezes, é porque já está endividada. Só aí começa a entender sobre o dinheiro e a perguntar se vale a pena deixar no FGTS, até porque a tendência é que daqui a alguns anos não exista esse FGTS como o conhecemos, mas sim uma opção mais flexível para que as pessoas tenham a alternativa de retirá-lo no momento em que quiserem – argumenta.
A Relação do Brasileiro com o FGTS
- Sabem o que é o FGTS
No país: 82%
Na Região Sul: 95% - Sabem que é possível consultar o saldo
No país: 84%
Na Região Sul: 95% - Conhecem o saldo atual
No país: 62%
Na Região Sul: 67% - Possuem saldo entre R$ 500 e R$ 2,5 mil
No país: 51%
Na Região Sul: 53% - Afirmam saber as formas de sacar
No país: 67%
Na Região Sul: 71%
Modalidades de acesso ao FGTS mais conhecidas:
- Demissão por justa causa
No país: 75%
Na Região Sul: 76% - Compra da casa própria
No país: 71%
Na Região Sul: 75% - Mês do aniversário
No país: 61%
Na Região Sul: 59%
Modalidades de acesso ao FGTS menos conhecidas
- Para fazer empréstimos
No país: 36%
Na Região Sul: 31% - Ao completar 70 anos ou mais
No país: 42%
Na Região Sul: 42% - Com o fim do contrato determinado
No país: 58%
Na Região Sul: 59%
Se pudessem escolher, o que os brasileiros fariam
- Comprar a casa própria
45% - Montar um negócio
33% - Cuidar mais da saúde
20% - Pagar todas as dívidas
17% - Viajar para fora do país
17% - Comprar um carro
14%
Fonte: Serasa/ Pesquisa Opinion Box