A oferta de ações da Eletrobras abriu a possibilidade para que os trabalhadores invistam parte do saldo no Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS) para comprar ações da estatal. O prazo para solicitar o investimento começa nesta sexta-feira (3). Segundo especialistas, a operação tende a ser promissora, levando-se em conta o baixo rendimento atual do fundo de garantia. Mas é preciso estar atento a alguns riscos.
Gustavo Pazos, analista do time de research da Warren, avalia que o uso do FGTS para adquirir as ações é vantajoso, considerando que a privatização deve agregar valor à Eletrobras. O analista compara o caso a uma oferta semelhante, quando a Vale foi privatizada e o governo disponibilizou a venda de papeis na mesma modalidade utilizando recursos do fundo de garantia.
– É uma diferença grotesca o quanto que a ação da Vale rendeu desde esse momento até hoje em relação ao FGTS. A ação da Vale já passou de 2.000% de valorização desde então. E é justamente isso que o mercado quer ver de novo – diz Pazos.
Outro ponto a ser considerado é a baixa rentabilidade do FGTS. O fundo de garantia rende a uma Taxa Referencial, mais 3% ao ano. Ou seja, menos do que a poupança ou a Selic atualmente, e menos ainda que a inflação de hoje, comenta Valter Bianchi Filho, sócio-diretor da Fundamenta Investimentos.
– Ao invés de ficar recebendo pouco mais de 3% ao ano, quem compra ações da Eletrobras está comprando ações de uma empresa consolidada – diz Bianchi.
Inácio Recena, professor da Escola de Negócios da PUCRS, destaca ainda outro ponto de vantagem. Após seis meses de carência, o investidor pode transferir o recurso para outro fundo mútuo de participação que tenha outro ativo no seu portfólio, como os da Vale ou da Petrobras.
Riscos a considerar
Antes de decidir usar os recursos do fundo de garantia para aplicar, o trabalhador precisa ter em mente que o mercado de ações trata de ativos voláteis, ou seja, sujeitos a oscilações do mercado.
Para Gustavo Pazos, um dos principais riscos que precisa ser avaliado é o da privatização da Eletrobras não sair do papel. Isso faria o preço da ação despencar, por exemplo. Outro ponto de atenção apontado por Pazos vem da própria dinâmica do mercado de ações:
– Estamos falando de um investidor que vai tirar dinheiro do FGTS, que é o seu maior colchão de segurança, e que vai investir em um ativo de risco. Por mais que seja uma ação do setor elétrico, uma empresa resiliente, as ações são extremamente sensíveis a fatores macroeconômicos.
– É o risco de ser acionista de uma empresa de capital aberto, que sofre diversos riscos de mercado. Riscos a exemplo do que vivemos no início da pandemia, quando os mercados caíram de maneira muito intensa simplesmente pela imprevisibilidade do que estava acontecendo – lembra Inácio Recena.
O investidor que for alocar recursos precisa lembrar que só poderá se desfazer das ações um ano depois da compra. Esse resgate ficará na conta do FGTS, o que significa que o saque ficará sujeito às regras estabelecidas para o fundo.
Além disso, o horizonte de retorno do investimento nas ações não é imediato. Por isso, Valter Bianchi Filho diz que o segredo é ter paciência.
– No curto prazo, de dois ou três anos, talvez a experiência não seja positiva. Em cinco ou 10 anos, a alternativa é bem interessante. Quem comprar e tiver paciência, provavelmente terá resultados melhores que o rendimento atual do FGTS – recomenda o gestor.
– A grande vantagem é poder comprar com o FGTS, visando o longo prazo e tendo como horizonte um investimento superior a três anos, para evitar qualquer tipo de estresse que o mercado pode passar a qualquer momento – acrescenta Pazos.