O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Bruno Serra, afirmou nesta segunda-feira (16) que os efeitos do aumento do juro, que chegou 12,75% ao ano, devem ser sentidos na economia a partir do segundo semestre. Segundo ele, mesmo com a elevação da Selic, o país deve crescer pelo menos 1% em 2022. As declarações foram feitas em transmissão online durante o evento "Annual Brazil Macro Conference", organizado pelo banco Goldman Sachs.
— Com a melhora das contas externas, o desemprego caindo e o mercado de capitais consistente, podemos imaginar perspectivas melhores — disse Serra.
O diretor do BC ainda afirmou que parte do crescimento econômico deve ocorrer com base na recuperação do setor de serviços.
— Ainda tem coisa para acontecer na retomada dos serviços. Se tivesse que apostar, o crescimento do PIB em 2022 seria mais de 1%. O investimento surpreende e cresce bem desde a retomada pós-pandemia.
Comparação com outros países
Bruno Serra citou o maciço estímulo fiscal feito pelo governo brasileiro na pandemia, superior ao de seus pares, entre os motivos que obrigaram a autarquia a subir os juros mais cedo do que a maioria dos países emergentes.
Mencionou ainda a depreciação do real frente ao dólar, a crise hídrica, que teve impacto pesado nas tarifas de energia, e a indexação "mais enraizada" do que a de pares, ampliando assim os efeitos inerciais da inflação, ao explicar por que o Brasil começou o combate à alta de preços em situação pior do que a de outros emergentes.
— O desafio foi mais duro — declarou Serra ao lembrar, como num desabafo, que o choque inflacionário global atingiu o Brasil após o país despejar mais de R$ 600 bilhões no enfrentamento da pandemia.
— O Brasil estava em situação mais difícil do que a de pares até recentemente.
Ao falar sobre o futuro, ele traçou, no entanto, um cenário desinflacionário, apontando a tendência de normalização das variáveis que influenciam os preços. Entre elas, observou que o câmbio, um importante amortecedor do impacto da escalada inflacionária mundial, voltou a "performar" melhor, levando em conta o desempenho do real frente ao dólar se comparado ao desempenho de outras moedas de economias emergentes.
Apesar das avaliações no mercado de que o governo, com medidas de incentivo ao consumo, isolou o BC no enfrentamento da inflação, Serra julgou que a política fiscal não tem mais atrapalhado a condução da política monetária.
— Daqui para frente, a gente começa a normalizar — assinalou o diretor do BC.
Diferenças entre previsões
O diretor de Política Monetária do Banco Central afirmou que as diferenças entre as previsões do mercado e da autoridade monetária para a inflação estão concentradas nos preços industriais e de alimentos. Segundo ele, o mercado prevê que a normalização das cadeias de produção deve demorar mais do que o BC estima.
— A preferência da maioria é por menos flutuação da taxa básica. Se a taxa Selic puder flutuar menos, é melhor. A taxa de juros parada por mais tempo é melhor, mas nem sempre é possível — disse ele.
Serra ainda declarou que o objetivo do BC é perseguir a meta de inflação. Para 2022, a meta de inflação é de 3,5%, com intervalo de tolerância de 1,5%.
— A gente não se amarra em um cenário específico. O objetivo é perseguir meta. Conceitualmente, em regime de metas de inflação, não há limite para a taxa de juros. Estamos sendo cobrados para entregar nosso mandato, não temos que ter receio de persegui-lo — disse.
O diretor do BC também afirmou que as estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentadas no Focus são melhores para prever a inflação futura do que as taxas implícitas.
— O Focus é melhor do que inflação implícita para prever inflação futura. O descolamento da inflação implícita da meta é generalizado no mundo. Isso não influencia decisões — declarou.
Dólar
O diretor de Política Monetária do Banco Central afirmou ainda que o cenário para o câmbio no Brasil, atualmente, é "mais saudável", mas fez ressalvas.
— O cenário para câmbio hoje é mais saudável, mas lockdowns na China e política monetária dos Estados Unidos pegaram aqui. O dólar novamente acima de R$ 5 parece estar mais ligado à China do que aos juros dos Estados Unidos — comentou Serra.