Desde que a sigla ESG foi ganhando espaço na mídia e no meio corporativo, passou também a se questionar se o lucro e a sustentabilidade são capazes de andar juntos. O assunto foi tema do debate que abriu o segundo dia de painéis do Fórum da Liberdade, em Porto Alegre.
Provocados pela pergunta do painel “Lucro e Sustentabilidade são compatíveis?”, os debatedores falaram da importância de organizações que se posicionam como empresas de impacto e como práticas de ESG, por exemplo, podem maximizar a produção e reduzir os efeitos no meio ambiente.
Tobias Chanan, cofundador e co-CEO da Urban Farmcy, disse não ter dúvida de que é possível conciliar ambos os conceitos. Mas defendeu que, para isso ser viável, o alinhamento das diretrizes deve fazer parte do núcleo do negócio. Do contrário, a adoção de posturas responsáveis vira “apenas ações reparatórias para minimizar danos”, criticou.
Aproveitando o mote central da 35ª edição do evento, “Você é livre para discordar?”, Chanan acrescentou outra provocação, questionando se as pessoas são livres para escolher. Trazendo exemplos que envolvem a alimentação, citou o caso das indústrias de alimentos ultraprocessados, que fabricam produtos "engenhosamente elaborados", segundo ele, “para gerarem dependência de consumo até o fim do pacote". Para o CEO, é preciso trazer à tona a importância de a oferta estar comprometida com o consumo:
— O problema não é o produto, mas a falta de informações para se decidir sobre o que está consumindo.
O jornalista e escritor Leandro Narloch iniciou sua fala citando as evoluções cotidianas que têm se estabelecido com o passar dos anos, capazes de aumentar a lucratividade. Segundo o jornalista, assim como a revolução verde levou a um aumento de produtividade a partir da década de 1980, a tecnologia e a inovação desenvolvidas nos dias de hoje elevam os ganhos para patamares ainda mais disruptivos.
A mecanização do campo, que permitiu um uso de herbicidas mais assertivo, com economia de produto e menor dano ao ambiente, e evoluções como as alternativas energéticas são alguns exemplos desses avanços.
Narloch citou três fatores como aliados para prospectar um progresso que respeite a natureza. São eles a inovação para produzir mais usando menos matéria do meio ambiente, o lucro para orientar a sociedade conforme os seus interesses e a conscientização como forma de apresentar produtos melhores para as pessoas.
— Quem inova processos tem vantagem, usando menos recursos e lucrando mais — defendeu.
Alexander McCobin, CEO de associação que reúne empresas com propósito de entenderem a natureza dentro dos seus negócios, a Conscious Capitalism, somou-se ao debate afirmando que a sustentabilidade faz parte do futuro capitalista.
Para explicar o ponto, o pesquisador usou a analogia de que os lucros estão para os negócios assim como as células vermelhas estão para o ser humano. Mas que os lucros são, também, meios para as empresas fazerem algo maior.
— Quando as empresas adotam um propósito maior, como atentar para o meio ambiente, elas são capazes de ser mais lucrativas e de ter mais sucesso — afirmou McCobin.
Os debatedores ainda trouxeram à tona a discussão de que as práticas de ESG demandam uma governança mais ordenada, e, portanto, tendem a se concentrar nas grandes empresas, nem sempre chegando nos pequenos empreendedores. Para enfrentar isso, defenderam a adoção das práticas já no início dos negócios, criando a cultura desde cedo nas organizações e facilitando a implantação entre os colaboradores.