Separar fatos de opiniões, sobretudo quando a arena de ideias se dá no domínio da internet, é um dos maiores desafios para se manter os debates saudáveis nos dias de hoje. A dicotomia foi tema de painel no Fórum da Liberdade nesta terça-feira (12).
No palco do Centro de Eventos da PUCRS, a jornalista Madeleine Lacsko, o filósofo e escritor Francisco Bosco e o autor e documentarista sueco Johan Norberg refletiram sobre a dificuldade de promover uma troca construtiva de visões de mundo atualmente.
O consenso sobre o tema, pelo menos entre os convidados, é de que há uma necessidade de se resgatar o debate público sem a pressão do julgamento de determinados grupos que se fecham em suas opiniões.
Para Bosco, a polarização tal qual conhecemos hoje remonta há milhares de anos. Segundo ele, parece haver uma necessidade humana de construir uma identidade própria que seja em oposição a algo. Isso leva a uma estruturação da sociedade baseada em grupos de identificação moral. Assim, as opiniões se consolidam nesses nichos e se fecham ao outro.
A consequência para o debate público, diz, é o afastamento de “uma interpretação realista da realidade”. Ou seja, as pessoas passam a acreditar naquilo que elas querem que a realidade seja.
— O compromisso fica cada vez menos com uma interpretação honesta da realidade — criticou Bosco.
Madeleine trouxe para o debate a questão da conformidade, que identifica os grupos em um só pensamento possível. Para a jornalista, o julgamento moralista e o bullying que se faz aos posicionamentos contrários acabam substituindo o diálogo e afastando a objetividade. Os outros passam a ser vistos quase como vilões, validando posturas agressivos e violentas contra o que se discorda.
— Ninguém quer ser xingado ou estar de mal com os outros e entramos em conformidade — disse a jornalista.
Johan Norberg abordou o tema citando o que levou ao conflito entre Rússia e Ucrânia. Para o conferencista, se o presidente russo, Vladimir Putin, tivesse sido mais aberto em suas posições políticas e ideológicas, não estaria havendo guerra, por exemplo. Segundo ele, a falta de liberdade de expressão no país também contribui para que o conflito não esteja sendo amplamente questionado ou impedido pela população russa.
— Os ditadores se cercam de pessoas que pensam o mundo da maneira como um déspota quer — alertou Norberg.
Em concordância aos demais painelistas, o estudioso insistiu no ponto de que é preciso se abrir aos posicionamentos contrários para enriquecer os debates. E acrescentou que, quando se dá boas-vindas a ideias novas, tem-se um progresso.
— Você pode ser a pessoa mais inteligente da sala, mas a sala é sempre pequena e, para ter acesso a outras ideias, você precisa olhar para outros lugares — defendeu.