A abertura de empresas no Rio Grande do Sul apresentou sinais de desaceleração na largada de 2022. O total de empreendimentos constituídos nos três primeiros meses deste ano recuou 3% ante janeiro a março do ano passado, marcado por retomada após um dos períodos mais severos da pandemia de coronavírus. A estabilização dos registros após um ano com intensificação da recuperação é vista como normal por especialistas.
De janeiro a março, o Estado anotou a abertura de 62.178 empresas. Essa soma representa 2.024 negócios a menos em relação aos registrados no mesmo período do ano passado, segundo dados da Junta Comercial, Industrial e Serviços do Rio Grande do Sul (JucisRS). Mesmo com o pequeno recuo ante 2021, o montante do primeiro trimestre deste ano segue acima dos acumulados apontados em anos anteriores (veja mais abaixo).
Os microempreendedores individuais (MEIs), que contam com o processo de abertura de empresa centralizado pelo governo federal, têm destaque nessa retração, levando em conta o volume de constituição de negócios. A criação de MEIs, que são responsáveis por 82% das novas empresas, caiu de 52.940 para 51.032 na comparação entre os dois períodos. Excluindo os MEIs da conta, a queda na abertura de empresas no Estado seria de 1%.
A influência dos MEIs no movimento de abertura de empresas no Estado não é novidade. Esse fenômeno é percebido desde que esse tipo de empresa começou a operar, em meados de 2009, e vem ganhando força nos últimos anos. Os MEIs costumam ter participação importante tanto em altas quanto em quedas do indicador.
O professor de economia do trabalho da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Cássio Calvete avalia que esse recuo em relação ao ano passado é normal, visto que o salto maior em 2021 ocorreu na largada da retomada da economia:
— É uma flutuação normal. Este ano, a economia também não promete muito crescimento. Não vejo como uma surpresa ter um número parecido com o do ano passado, puxado pelos MEIs, que estão ligados à desregulamentação do mercado de trabalho.
O professor da UFRGS destaca que a pequena retomada do mercado de trabalho também pode ter impacto no menor número de abertura de MEIs, que respinga no indicador.
A economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e especialista em mercado de trabalho Lúcia Garcia destaca que essa retração está ligada ao momento da atividade econômica no país. Após intensificação em 2021, a retomada começa a perder força, diminuindo espaço para a atividade empreendedora, segundo a especialista do Dieese:
— Acho que o principal fator que explica esse movimento é o PIB nacional. Passamos por um período muito negativo diante da covid e uma recuperação gradual, principalmente durante o segundo semestre de 2021, mas isso apresentou um esgotamento.
O Estado também apresentou aumento no fechamento de empresas no primeiro trimestre, mas o saldo entre abertura e extinção segue positivo. De janeiro a março, 26.741 negócios fecharam — número 18,70% maior em relação ao mesmo recorte de tempo do ano passado.
Previsões para o ano
O professor Cássio Calvete, da UFRGS, estima que o ritmo de abertura de empresas no Estado em 2022 deverá ser parecido com o observado no ano passado, com possibilidade de pequenas alterações tanto para baixo quanto para cima. Eventual extensão dos impactos da guerra na Ucrânia para outros países e desdobramentos políticos em ano eleitoral são alguns dos fatores que podem mudar essa projeção, segundo o professor.
— Em termos de movimentos econômicos puxados pela economia, não deveremos ter uma surpresa. A surpresa pode aparecer em resposta da economia às expectativas políticas — explica Calvete.
A economista do Dieese Lúcia Garcia afirma que a falta de estímulos para avanço da economia do país também reflete em menos crescimento no emprego e em ambiente menos favorável para empreender, tanto por necessidade quanto por oportunidade.