Na contramão da alta de 0,8% registrada no Brasil, o volume de vendas no comércio varejista gaúcho caiu 0,2% em janeiro na comparação com o mês imediatamente anterior. Na série com ajuste sazonal, essa representa a terceira queda consecutiva do Rio Grande do Sul no indicador mensal, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quinta-feira (10).
Já na comparação com janeiro do ano passado, entretanto, o Estado cresce 5% e o país despencou 1,9%. O mesmo é válido na análise do volume acumulado nos últimos 12 meses, quando o desempenho gaúcho exibe alta mais expressiva, de 4%, enquanto no país o avanço é mais contido: 1,3%.
De acordo com o IBGE, o descolamento da leve alta registrada em janeiro no país se repete em 12 das 27 unidades da federação. As outras 15 acompanharam o movimento nacional, com destaque para Rio de Janeiro (3,0%), Alagoas (2,8%) e Pernambuco (2,5%).
No Rio Grande do Sul, conforme explica o economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank, a performance em descompasso com a nacional é explicada pela base de comparação. Segundo ele, ao longo de 2021, o Estado apresentou retomada mais consistente do que no país.
– Em janela mais longa, é natural que aconteça, porque pegamos um ano em que o RS performou melhor do que o Brasil e isso se reflete na comparação entre os volumes acumulados em 12 meses – comenta.
Estiagem
Por outro lado, agora, aponta Oscar Frank, os dados verificados, por aqui, começam a demonstrar os primeiros efeitos da estiagem para a economia e o consumo dos gaúchos. Ele explica que a quebra da safra, com prejuízos já estimados acima de R$ 30 bilhões, tem conexões imediatas com a renda e, por consequência, também reduzem a atividade no varejo.
– Possivelmente, já estejamos vendo os impactos da seca e da quebra da safra dos grãos. Os dados mensais não deixam uma margem muito extensa para se falar em termos de conjuntura, mas me parece que esse descolamento do RS com o Brasil tem relação com isso – argumenta.
Por essa razão, Frank antecipa que as perspectivas e tendências para o futuro podem indicar novas performances no campo negativo. Para o economista, somam-se à estiagem para moldar panorama atual gargalos como a inflação, o ciclo de alta na taxa de juros, as incertezas com as eleições e o choque de preços provocados pela guerra.
– É muito complicado imaginar que, em meio a isso tudo, vamos conseguir gerar crescimento sólido e sustentável para o consumo nos próximos meses, por conta de uma série de fatores conjunturais que permanecem limitando as expectativas – pontua.