Na mesma data em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou mais uma aceleração da inflação, que fechou o mês de fevereiro em alta de 1,01%, entraram em vigor os novos valores dos combustíveis nas refinarias, após reajuste de 18,77% para a gasolina e 24,93% no diesel.
Com isso, economistas apontam que, a partir do próximo mês, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) sofrerá impacto total e adicional entre 0,72 e 1,3 ponto percentual, com os alimentos duplamente impactos em razão da utilização de diesel nos fretes e também nas máquinas agrícolas.
Conforme explica o economista Matheus Peçanha, do Instituto Brasileiro de Economia, unidade da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), além da gasolina, que responde por 6% da composição do índice oficial da inflação, o diesel é responsável pelo chamado impacto de difusão, ou seja, puxa para o alto o valor agregado em todas as cadeias.
Nesse caso, a instituição projeta acréscimo de 1,3 ponto percentual, com 0,42%, no primeiro mês e de 0,88% na sequência. O economista da UFRGS Marcelo Portugal tem projeção idêntica para o primeiro mês, 0,42%, entretanto, estima que o teto do que será absorvido inicialmente no IPCA em razão dos combustíveis fique em 0,72 ponto percentual a mais (0,32% em abril).
Segundo ele, o impacto dessa elevação dos combustíveis na refinaria depende muito da hipótese de quanto será repassado para a bomba. Por isso, cerca de 90% dessa alta inicial dever vir da gasolina (um dos grupos pesquisados no IPCA), com o diesel gerando um efeito escalonado e prolongado nos preços ao longo das cadeias.
— O diesel afeta quase tudo que é transportado e age duplamente sobre os alimentos, em função de seu uso nos fretes, mas também nos tratores e colheitadeiras — revela.
Por essa razão, alimentos comuns na mesa dos brasileiros e que já acumulam altas expressivas em 12 meses, caso do açúcar refinado (43,77%), do frango em pedaços (25,16%), dos legumes (22,12%) e das carnes (8,61%), dificilmente terão seus preços freados nas prateleiras. É o que explica o presidente Associação Gaúcha dos Supermercados (AGS), Antônio Cesa Longo.
Segundo ele, com base nas planilhas do setor, o frete representa, em média, 2% do custo dos alimentos. Com a previsão do Conselho Nacional de Estudos em Transporte, Custos, Tarifas e Mercado da NTC&Logística de reajuste adicional mínimo de 8,75% para os transportes, Longo aponta para acréscimo imediato generalizado na ordem de 0,5 ponto percentual.
— Mas o pior impacto é na percepção do consumidor, que já altera seu perfil de compras desde já. É o efeito psicológico de quem sabe que vai faltar renda no final do mês e retrai o bolso — comenta.
De acordo com o dirigente, em médio prazo, a situação deve desencadear mais impactos. E lembra que o custo de alimentação fora de casa também será duplamente impactado, pela alta dos alimentos e do gás de cozinha.