A inflação na região metropolitana de Porto Alegre avançou em maio deste ano. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 1,04% no último mês, acelerando na comparação com abril, quando havia fechado em 0,19%. Esse é o maior resultado para um mês de maio desde 1996, quando o indicador marcou 1,10%.
No acumulado dos últimos 12 meses, o índice está em 8,20% na região. Já no ano, o IPCA subiu para 3,32% na Grande Porto Alegre, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (9).
Em maio, todos os nove grupos pesquisados pelo IBGE apresentaram elevação. O destaque ficou por conta do setor de transportes, que cresceu 2,19% no mês e teve impacto de 0,46 ponto percentual — o maior entre os segmentos. Dentro desse grupo, os combustíveis puxaram a alta, com destaque para o óleo diesel (8,44%) e para a gasolina (6,45%).
O economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank, afirma que é difícil mensurar e quantificar a diferença na variação dos preços dos combustíveis. A diferença nas estruturas de concorrências entre as regiões e os custos relacionados à logística dificultam essa análise, segundo o especialista.
Frank chama atenção para o grupo de vestuário, que ocupa a segunda posição (veja mais abaixo) na variação mensal de preço. Segundo o economista, a reabertura das atividades econômicas na região diante das flexibilizações pode ter um peso nesse movimento.
— Alguns lojistas aproveitam para recuperar um pouco das margens, que foram perdidas ao longo dos últimos meses em virtude dessa situação mais complicada em termos de crise — explica Frank.
Já no âmbito de participação, o grupo de alimentação e bebidas teve a segunda maior contribuição dentro do IPCA na Grande Porto Alegre, com 0,16 ponto percentual. O segmento apresentou variação mensal de 0,77% nos preços em maio.
A aceleração no IPCA na Grande Porto Alegre acompanha o movimento nacional. No Brasil, o índice fechou maio em 0,83% — maior resultado para o mês desde 1996 (quando chegou a 1,22%). Em maio de 2020, a taxa havia sido de -0,38%.
O grupo de habitação carrega a maior variação no período. Segundo o IBGE, a alta no segmento ocorre, principalmente, em razão do resultado da energia elétrica (5,37%), que também teve o maior impacto individual no índice do mês (0,23 ponto percentual).
O IPCA no país acumula alta de 3,22% no ano e de 8,06% nos últimos 12 meses — acima dos 6,76% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. Com isso, a inflação segue acima do teto da meta estabelecida pelo Banco Central para 2021: 5,25%.
Pouco otimismo para os próximos meses
O professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Marcelo Portugal projeta a continuidade de inflação elevada para os próximos meses tanto no país quanto na região metropolitana de Porto Alegre. A crise hídrica é um dos elementos que ajudam a compor esse cenário menos otimista, pois deve encarecer o custo da energia elétrica, segundo o economista:
— Energia elétrica é um insumo que serve para praticamente tudo. Não é só na casa da gente. É no shopping, supermercado, lojas, usinas, indústrias. Energia elétrica cara residencial e comercial acaba sendo um choque no custo das empresas e isso acaba senso repassado de uma forma ou de outra para o preço dos produtos.
O economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank, também projeta um cenário com dificuldades para os próximos meses, projetando uma desaceleração na inflação apenas no último trimestre do ano. Em geral, o economista afirma que o país pode fechar o ano acima do teto estabelecido, o que gera preocupação para 2022:
— A gente sabe que quanto maior a inflação em um ano, mais difícil é realizar o controle da mesma no ano seguinte, porque existem uma série de preços na economia que são indexados. Ocorrem reajustes automáticos estabelecidos por contratos.
Frank também destaca o projeto que veda o reajuste de medicamentos em 2021, aprovado no Senado no mês passado. Segundo o especialista, caso essa medida entre em vigor, tem impacto positivo nos números em 2021, mas tende a pressionar a inflação em 2022.
O técnico do IBGE Vladimir Lautert afirma que os últimos resultados projetam uma tendência de crescimento menor no grupo da alimentação e maior no da habitação para os próximos meses.