A iminente prorrogação da bandeira preta no Rio Grande do Sul e a suspensão da cogestão no sistema de distanciamento controlado por mais uma semana, acarretando o fechamento de estabelecimentos considerados não essenciais, deverá ampliar prejuízos, gerar demissões e dificultar a sobrevivência de pequenos e médios negócios. Essa é a avaliação comum entre lideranças de entidades empresariais gaúchas nas áreas de comércio e serviços, as mais afetadas pelas restrições.
Dirigentes dos dois setores defendem a flexibilização de regras para abertura durante a vigência da cor preta e adoção de medidas compensatórias aos negócios impedidos de abrir em razão do agravamento da pandemia de coronavírus no Estado.
Presidente da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), Anderson Cardoso alega que os estabelecimentos não são vetores de transmissão do vírus e que a crise sanitária avançou principalmente pelas aglomerações nos últimos meses.
- O momento da pandemia é grave, temos ciência disso. Mas pedimos um ajuste na bandeira preta de modo a permitir que o comércio tido como não essencial possa abrir com restrições, respeitando os mesmos protocolos daqueles considerados essenciais - diz Cardoso.
A sugestão é para que se atenda um cliente a cada oito metros quadrados de área útil, com uso de máscara, monitoramento de temperatura e testagem de trabalhadores. Outros pleitos são a possibilidade de atendimento por drive-thru e a suspensão do pagamento do ICMS dos serviços e do comércio varejista e atacadista de itens considerados não essenciais enquanto perdurarem as medidas restritivas na bandeira preta.
A Federasul, a Federação do Comércio de Bens e Serviços do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS) e a Federação das Indústrias do Estado (Fiergs) formalizaram, na tarde desta quinta-feira (4), os pedidos em documento entregue ao governador Eduardo Leite.
O presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn, acredita que manter os estabelecimentos fechados não conterá a disseminação da doença no Estado. Paralelamente, a situação deverá, segundo Bohn, resultar em demissões e, mais adiante, no fechamento definitivo dos negócios.
- Estamos em uma situação crítica na área da saúde, mas insistimos na abertura (do comércio) porque entendemos que ela não piorará o quadro. As empresas não suportarão e o custo-benefício será o pior possível - aponta, defendendo que as empresas possam atuar mesmo com capacidade operacional limitada.
O dirigente ressalta que a restrição também gera desequilíbrio concorrencial. Isso porque parte do varejo essencial, caso de supermercados e lojas de materiais de construção, vende produtos encontrados em estabelecimentos considerados não essenciais que hoje estão fechados. Na avaliação de Bohn, a situação prejudica principalmente os pequenos empreendimentos.
Para o presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha), Henry Chmelnitsky, o cenário atual dificulta o planejamento das empresas.
- Não existe planejamento possível. Se comunica sete dias de fechamento, e aí depois virão mais sete e mais outros sete - diz.
Chmelnitsky acredita que, em meio à adoção de medidas mais restritivas para conter a pandemia, município, Estado e governo federal deveriam auxiliar os setores, que estão com o faturamento afetado pela crise sanitária desde o ano passado. Neste sentido, ele defende medidas voltadas ao refinanciamento de dívidas e que ajudem as empresas nos custos fixos, como energia elétrica.
Na indústria, durante a vigência da bandeira preta, há permissão para as empresas operarem com até 75% dos trabalhadores no mesmo turno, respeitando o teto de ocupação do espaço físico. Ainda assim, a Fiergs, em posicionamento enviado à reportagem, defende que o comércio possa abrir com, pelo menos, 25% da capacidade. "A Fiergs compreende a gravidade do momento que o Estado atravessa, e salienta que não se trata da questão saúde versus economia, mas de ambas terem o mesmo olhar que passa pelo comprometimento de todos para chegar a um denominador comum, ou seja, a sobrevivência das pessoas e empregos", manifestou a entidade em nota.