O mundo dos negócios não ficou imune à pandemia de coronavírus. Além de ter causado uma profunda crise econômica, a covid-19 forçou intensas mudanças no modo de operação das empresas. Como forma de encarar os desafios do problema sanitário, companhias tiveram de acelerar a digitalização, criar mecanismos para preservar o caixa e buscar novas estratégias de vendas.
Para entender essas e outras transformações, GZH pediu a líderes empresariais do Rio Grande do Sul que respondessem a seguinte pergunta: "Qual foi a maior lição, na área de negócios, deixada pelo ano de pandemia?". A seguir, confira as respostas.
Adriano Miolo
Diretor-superintendente da vinícola Miolo
"Com um mundo totalmente diferente, a capacidade de reinvenção e criatividade é determinante para enfrentar o novo cenário. Cada novo desafio foi encarado com muita energia. E, para isso, é preciso ter muita flexibilidade e agilidade da empresa para entender esse novo momento e se adaptar rapidamente ao que se apresenta.
Cada atitude é vista como exemplo, e isso amplia ainda mais nossa responsabilidade junto ao coletivo. Esta pandemia nos tirou da cadeira, nos fez refletir e agir de maneiras muito diferentes do que estávamos acostumados. Adotamos atitudes ainda mais práticas, colaborativas, inteligentes. Avançamos no meio digital, um caminho irreversível. Mas, acima de tudo, aprendemos que liderança é vital."
Alfredo Pessi
Diretor do Grupo Pessi Incorporações e coordenador regional do Sinduscon-RS no Litoral Norte
"No início da pandemia, o medo tomou conta do mercado imobiliário. Porém, o segmento, especialmente aqui no Litoral Norte, manteve-se unido, forte e capaz de reverter perdas e gerar ganhos acima das expectativas. Esta situação nos mostrou que precisamos estar preparados para qualquer adversidade e deixou claro que aquilo que antes víamos como distante, uma crise sanitária na China, nos afeta em todos os aspectos.
Novos formatos de negócios surgiram, e a qualidade de vida, que já norteava parte das decisões de compra de ativos imobiliários, tornou-se o fator principal. Isso nos levou a enxergar novas oportunidades. Durante a pandemia, a praia se tornou refúgio, e o ‘viver agora’ se tornou lei para quem decidiu comprar ou investir em imóveis."
Andrea Kohlrausch
Presidente da Calçados Bibi
"Mesmo diante de um grande desafio com o fechamento do comércio, quando colocamos o foco na solução, o propósito do negócio e um olhar colaborativo, sustentável e de cuidado com todos os públicos com os quais a empresa se relaciona, é possível encontrar saídas, acelerar o intraempreendedorismo e fazer muitos projetos nascerem e acontecerem. Sem clientes, sem mercado, uma empresa não é nada. Por isso, o cliente sempre tem de estar no centro das nossas ações."
André Luiz Backes
Presidente do Grupo Mor, que produz itens para casa, camping e lazer
"O aprendizado é focar no caixa da empresa, auxiliar os clientes e não se desesperar. Cerca de 80% dos nossos clientes não conseguiram pagar as duplicatas no começo da pandemia. Então, aumentamos os prazos para as vendas.
Já vivemos outros momentos difíceis, outras crises econômicas, mas sempre mantivemos a tranquilidade. Fomos recuperando os negócios semana após semana. Vamos fechar o ano com crescimento de cerca de 30% no faturamento."
Carla Tellini
CEO do Grupo Press Gastronomia
"É um conjunto de aprendizados, tanto do ponto de vista de negócios quanto no lado pessoal, em um momento tão dramático. O mais importante talvez tenha sido a rapidez para reagir à situação e sentir menos os impactos. Tivemos de montar toda a estrutura de delivery em 10 dias.
Foi preciso tomar decisões imediatamente. Entre elas, demitir ou não. Tivemos de fazer uma redução de 50% no quadro de empregados. Foi muito dolorido, mas também muito acertado, porque todas as operações estão funcionando perfeitamente com a metade da equipe. A rapidez na tomada de decisões foi muito importante."
Carlos Henrique Schmidt
Diretor da Rede Plaza de Hotéis e presidente do Sindicato de Hotéis de Porto Alegre
"A grande lição para a área de negócios é: o caixa da empresa tem de ser preservado a todo custo. Essa é a questão mais importante. É o resumo."
Carlos Souto
CEO do escritório Souto Correa Advogados
"Há várias lições relevantes, mas, em uma frase, destaco a importância das pessoas e da cultura: pessoas certas, unidas por uma cultura vencedora, são capazes de feitos muito maiores do que se possa imaginar."
Claudio Bier
Presidente da Masal e do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no RS (Simers)
"No primeiro momento, levamos susto grande, ninguém sabia muito bem o que fazer. Fábricas fecharam. Aos poucos, o medo foi passando, e as empresas começaram a se recuperar. Quando os negócios voltaram, houve falta de componentes. Então, a história de trabalhar com estoque mínimo parece que vai ter de mudar.
A coisa boa é que aquelas viagens para reuniões de uma hora, em Brasília, São Paulo ou Rio de Janeiro, foram substituídas pela via digital. No setor de máquinas agrícolas, tivemos grande aprendizado com a Expointer Digital. Teve empresas que venderam mais do que na feira presencial."
Clovis Tramontina
Presidente do Conselho de Administração da Tramontina
"A maior lição que fica é de que precisamos agir rapidamente em momentos de desafios e incertezas. Este ano serviu de reflexão para todos, tanto na área pessoal, quanto na profissional. No segundo aspecto, foi possível avaliar oportunidades de evolução e expansão.
A Tramontina vai fechar 2020 com crescimento em relação ao ano passado, porque as pessoas ficaram mais tempo em casa e se tornaram mais atentas aos seus espaços: trocaram utensílios, renovaram os espaços para torná-los mais confortáveis."
Daniel Randon
CEO das Empresas Randon
"Costumo dizer que em 2020 vivemos três anos em um. Passamos por cenários muito distintos, com um início de ano promissor e depois a chegada da pandemia, que mudou todas as rotas. No segundo semestre, um sinal de retomada, com recuperação de alguns setores. Logo após, inflação e escassez de matéria-prima. Ou seja, movimentos que costumamos observar em três ou cinco anos, mas não em 12 meses.
Essas mudanças nos fizeram acelerar processos e projetos, principalmente envolvendo a transformação digital, mas também nos fizeram enxergar a necessidade de atuar de forma colaborativa, unindo esforços com outras empresas, entidades e setor público. Não apenas para a busca do crescimento, mas como forma de sobrevivência.
Neste momento, em que precisamos nos organizar com planos e políticas para o pós-pandemia, precisamos pluralizar as boas ideias e as soluções efetivas. Deixar de lado o individualismo e nos alicerçarmos no conceito de conexões, pois não teremos forças para seguir de forma isolada. Esse é o principal legado que tivemos ao longo de 2020, e um ensinamento que devemos levar não apenas na condução dos nossos negócios, mas para a nossa vida em sociedade."
Eliana Azeredo
Diretora da Capacità Eventos
"Dentro da área de eventos, o grande aprendizado é que conseguimos trabalhar em grupo para ajudar o setor. Como empresária, a maior lição foi a da tecnologia. Da noite para o dia, tivemos de reaprender a trabalhar.
Tirando o horror das mortes e das perdas que vimos na pandemia, conseguimos tirar um aprendizado incrível deste ano. Quem aprendeu vai conseguir fazer melhores negócios quando o mundo voltar ao normal."
Gilmar Borscheid
Diretor da fabricante de produtos de limpeza Girando Sol
"Antes da pandemia, fazíamos uma correria no atendimento a eventos, fornecedores ou atividades que exigissem muito esforço e tempo. Neste ano, as coisas também andaram, mas de uma forma mais objetiva.
Lives, por exemplo, serviram para aproximar. Conseguimos nos voltar para dentro do negócio e ver como o mercado estava reagindo."
Guilherme Rizzotto
Diretor comercial e de marketing da Vipal Borrachas
"A Vipal Borrachas aproveitou o momento de distanciamento para aperfeiçoar conhecimentos e preparar ainda mais seus profissionais para atenderem às novas demandas do mercado. Assim, a empresa realizou diversos cursos.
Aproveitamos também para compreender melhor como trabalhar com as tecnologias disponíveis e testar as possibilidades das ferramentas online em nosso mercado, o que é uma tendência mundial."
James Bellini
CEO da montadora de ônibus Marcopolo
"Este ano atípico nos trouxe grandes desafios por conta da queda do mercado mundial. Por atuarmos em cerca de 40 países, com unidades próprias e em exportações, tivemos de rever a estratégia global para mantermos o equilíbrio das operações, procurando reduzir custos, proteger o caixa e preservar ao máximo os empregos. Por outro lado, a pandemia impulsionou nosso movimento de inovação.
Conseguimos concretizar em tempo recorde a plataforma BioSafe, voltada para a biossegurança dos passageiros do transporte coletivo. Avançamos na diversificação da atuação da empresa. As grandes lições deste ano foram a reação rápida ao cenário adverso e o investimento em inovação como instrumentos preciosos para enfrentarmos esse mar turbulento. Acreditamos na recuperação do mercado em 2021."
José Galló
Presidente do Conselho de Administração da Lojas Renner
"A principal conclusão é: as empresas e as pessoas descobriram que podem fazer muito mais e melhor, com transformações e inovações. A necessidade de reação nos obrigou a eliminar ineficiências, a tomar decisões mais rápidas. Houve aceleração de planos.
Projetos que antes demorariam um ano acabaram levando um mês. Enfim, a situação mostra que, certamente, podemos fazer muito mais de forma mais eficiente. Isso é bom porque aumenta a autoconfiança. Faz as pessoas e as empresas se redescobrirem em termos de potencial."
José Renato Hopf
CEO da 4all, que atua na área de tecnologia
"A pandemia nos obrigou a rever muitos conceitos. Está fazendo surgir uma nova sociedade, com novo jeito de viver, de fazer negócios, de se relacionar. Está nos obrigando a ‘fazer um reset’, uma oportunidade de reaprender. Sobre os negócios, precisamos mais do que nunca de uma agenda positiva. Uma crise é sempre um momento de profundo aprendizado.
Precisamos nos dedicar a entender e estudar o comportamento do cliente no novo contexto. Não podemos ficar aflitos, mas, sim, concentrar energia para entender o que acontece com a sociedade. Sei que é frase batida, mas nunca foi tão verdadeira a expressão que diz que 'na crise há oportunidades'. Claro, com a consciência de que há problemas sérios. A grande lição que fica é de otimismo."
Juliano Melnick
CEO da incorporadora Melnick
"O que marcou durante a pandemia foi a resiliência, foi a capacidade de adaptação. Pequenos negócios se reinventaram, restaurantes foram transformados para continuar funcionando. As empresas estão rodando mesmo com as dificuldades.
Aquilo que parecia impossível se tornou possível. A capacidade de se reinventar é o que fica. É a lição que a crise deixa. Certamente, outras virão no futuro, mas é importante saber que, quando o bicho pega, temos capacidade de não congelar e fazer o novo."
Julio Mottin Neto
Presidente da rede de farmácias Panvel
"A maior lição foi a importância de ter propósito. Nunca vivemos tão intensamente nosso propósito de proporcionar saúde e bem estar às pessoas. O engajamento do nosso time foi maravilhoso."
Maria Fernanda Tartoni
Proprietária do Tartoni Ristorante e presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no RS (Abrasel-RS)
"Muitas lições – e muito duras. Por meio da Abrasel, conseguimos gerar sentimento coletivo, além de trocar informações e compartilhar dores. Tivemos de trabalhar com a imprevisibilidade. Aprender a dar respostas rápidas é fundamental, além de estar com a empresa saudável em termos financeiros. Quando chega momento como este, é preciso ter uma gordurinha para queimar."
Mauricio Harger
Diretor-geral da CMPC no Brasil
"A maior lição é de que cada vez mais é necessário cuidar das pessoas. Implementamos um rígido protocolo com mais de 20 medidas voltadas à prevenção e ao cuidado de colaboradores, algo que foi prontamente adotado por todos. Com base nessas orientações, conseguimos manter nossas operações em funcionamento, sem deixar faltar celulose no mercado – matéria-prima de itens essenciais no dia a dia, como produtos de higiene e limpeza, embalagens de alimentos e de medicamentos.
Também foi possível manter ativos nossos mais de 6,5 mil postos de trabalho. Acredito que, após as experiências vividas em 2020, a capacidade de rápida adaptação e o engajamento de equipes a novos hábitos e culturas se tornaram fatores-chave para sobrevivência e perenidade dos negócios."
Nelson Eggers
Presidente do Conselho Consultivo da Bebidas Fruki
"Este período de pandemia reforçou que as pessoas são o centro de tudo e fazem a diferença. Uma equipe engajada supera desafios e conquista resultados na adversidade. Nosso time mostrou o quanto está alinhado com nossa cultura e comprometido ao máximo em atender nossos clientes. O maior uso de ferramentas para encontros virtuais também veio para ficar."
Rodrigo Putinato
Diretor-geral da incorporadora Cyrela
"O ano de pandemia foi de reflexões em diversos sentidos. Muitos setores, assim como o da construção civil, estão repensando a forma de as pessoas viverem e alterando seus projetos e conceitos para que sejam mais voltados às necessidades.
Com a pandemia, é preciso morar e trabalhar em espaços próximos a áreas verdes, nem que seja uma pequena floreira em casa, espaços com mais luz, mais circulação de ar e melhor convivência com a própria família, ou espaços maiores. Este ano foi de reflexão pela vida."