Depois de desabar na fase inicial da pandemia, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro apresentou melhora no terceiro trimestre. De julho a setembro, teve alta de 7,7% em relação aos três meses imediatamente anteriores. O resultado reforça os sinais de alívio na economia nacional, mas ainda não elimina todas as incertezas geradas pela crise do coronavírus.
O desempenho foi divulgado na manhã desta quinta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O PIB é conhecido como a soma dos bens e serviços. Na prática, serve como termômetro da atividade econômica.
Analistas do mercado financeiro esperavam avanço até maior, acima de 8%. Mesmo assim, a alta de 7,7% é a maior da série histórica do IBGE, com dados desde 1996.
Em parte, está relacionada à base fraca de comparação. É que, no segundo trimestre, o PIB havia despencado 9,6%, em meio ao distanciamento social para frear a covid-19. Trata-se do maior tombo da série.
Conforme analistas, a reabertura da economia e a adoção de medidas de estímulo aos negócios, incluindo o auxílio emergencial, também ajudam a explicar o crescimento entre julho e setembro.
A elevação, entretanto, ainda não zera todos os prejuízos da pandemia. Prova disso é que, frente a igual trimestre de 2019, o PIB caiu 3,9%. No acumulado de 2020, até setembro, a retração chegou a 5%. Em 12 meses, a baixa foi menor, de 3,4%.
– O crescimento de 7,7% reflete medidas de relaxamento do distanciamento social. A situação acabou permitindo a volta da economia. O segundo fator que impulsionou o PIB foi o conjunto de medidas de incentivo que o governo adotou – aponta o economista Fábio Astrauskas, professor do Insper e CEO da Siegen Consultoria.
Indústria e serviços em alta
O cálculo do PIB também traz dados por setores. Pelo lado da oferta, aquele com melhor desempenho no terceiro trimestre foi a indústria. Frente aos três meses anteriores, houve alta de 14,8%.
Dentro do setor, a atividade de destaque foi a indústria de transformação (23,7%), seguida por eletricidade, gás, água, esgoto e gestão de resíduos (8,5%). A construção (5,6%) e o ramo extrativo (2,5%) também ficaram no azul.
Depois da indústria, veio o setor de serviços. Motor do PIB, o segmento avançou 6,3%. Houve melhora em todas as atividades. Comércio (15,9%) e transporte, armazenagem e correio (12,5%) puxaram a fila.
Por fim, o terceiro grande setor pelo lado da oferta, a agropecuária, teve variação negativa de 0,5%. É que o auge da safra no país ocorre no início do ano.
Investimentos sobem 11%
Pelo lado da demanda, o crescimento de 11% na formação bruta de capital fixo (FBCF) chamou atenção. Esse indicador mede investimentos de empresas para aumento da capacidade produtiva. Aportes em máquinas e equipamentos entram no cálculo. Entre abril e junho, haviam desabado 16,5%.
Beneficiado pelo auxílio emergencial, o consumo das famílias também teve expansão, de 7,6%, frente ao segundo trimestre. Enquanto isso, os gastos do governo cresceram 3,5%.
No setor externo, a pandemia continuou freando os negócios. As exportações caíram 2,1%. Já as importações desabaram 9,6%.
Com os resultados do terceiro trimestre, o PIB brasileiro totalizou, em valores correntes, R$ 1,891 trilhão. Conforme o IBGE, o indicador está no mesmo nível do primeiro trimestre de 2017. Ou seja, está 7,3% abaixo do ponto mais alto da série, registrado no início de 2014.
– Houve uma melhora importante do PIB no terceiro trimestre. É uma recuperação de parte das perdas. Durante a pandemia, os países tiveram de gastar dinheiro. A questão é que o Brasil tem problemas no campo fiscal – pontua Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating.
Nesta quinta-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, reconheceu que o PIB veio abaixo das expectativas do mercado, mas voltou a dizer que o país está se recuperando em formato de V. Ou seja, na visão do ministro, há uma reação rápida e consistente dos negócios após a queda intensa na fase inicial da pandemia.
Cenário de incertezas
Após o avanço de 7,7% do PIB no terceiro trimestre, o cenário para a economia brasileira carrega incertezas entre o final de 2020 e o começo de 2021. Parte das dúvidas sobre o comportamento dos negócios está relacionada ao possível término de medidas de estímulo, como o auxílio emergencial, no próximo ano. Além disso, o novo aumento de casos de coronavírus também aparece como ameaça à retomada econômica.
– Houve uma recuperação no terceiro trimestre, mas ainda não conseguimos reverter todas as perdas da pandemia – frisa Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos. – Existem pontos de incerteza. O vírus voltou a ganhar força, e o Brasil tem dificuldades fiscais. Por outro lado, há notícias de que vacinas estão saindo – acrescenta.
Analistas do mercado consultados pelo Banco Central (BC) projetam queda de 4,5% no PIB no acumulado de 2020. A estimativa integra a edição mais recente do boletim Focus, divulgada na segunda-feira (30).
Apesar de intensa, a retração prevista está em patamar inferior ao recuo imaginado no início da pandemia. À época, projeções indicavam tombo perto de 9%. De lá para cá, a queda foi amenizada por medidas como o auxílio emergencial.
Economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, Alex Agostini avalia que a confiança dos agentes econômicos passou a subir com notícias relacionadas a vacinas contra o coronavírus. Entretanto, sublinha que, em 2021, o Brasil terá de enfrentar a penúria das contas públicas. Com a crise da covid-19, o governo foi forçado a incrementar os gastos.
– A pandemia arrebentou os cofres dos países. Se o Brasil não colocar a casa em ordem, vai deixar passar mais uma oportunidade – relata.
No terceiro trimestre, o país ficou em 25º lugar em ranking que mede o desempenho do PIB em 51 nações, aponta a Austin Rating. O avanço de 7,7% ficou abaixo da média geral das nações pesquisadas (8,4%).
Por outro lado, foi superior à média dos Brics (5,2%). O grupo reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
O país com maior alta no PIB foi a Tunísia: 19,8%. Depois, aparecem França (18,7%), Malásia (18,2%), Espanha (16,7%) e Itália (15,9%).