O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) define nesta quarta-feira (28) o nível da taxa básica de juro em meio ao cenário de crise gerada pela pandemia e pelo avanço de preços no país. Analistas do mercado financeiro esperam que o colegiado mantenha a Selic inalterada em 2% ao ano, o menor patamar histórico, em tentativa de estímulo à economia. Contudo, reconhecem que a alta da inflação nos últimos meses pressiona o Copom e deve resultar em aumento no juro em um futuro próximo.
Diante da situação, há grande expectativa pelo tom do comunicado a ser divulgado pelo comitê após o encontro. Ou seja, espera-se que o Copom sinalize até quando pode ir o ciclo de juro na mínima histórica. Até o final de 2020, há mais uma reunião agendada para dezembro.
A Selic em nível baixo é considerada uma forma de estímulo à economia por ser referência para linhas de crédito no país.
Ao mantê-la na mínima, Copom buscaria diminuir o custo de empréstimos mais à frente, incentivando a produção e o consumo de bens e serviços.
Se a taxa subir, o colegiado tentará conter a inflação, freando a demanda que pressiona os preços para cima.
Com a reabertura da economia, valores de insumos diversos têm subido nos últimos meses. Alimentos, por exemplo, vêm em trajetória de alta em razão da procura turbinada pelo auxílio emergencial e pelo apetite internacional.
O dólar acima de R$ 5,60 incentiva exportações, o que reduz a quantidade de produtos no mercado interno. A combinação desses fatores resulta em valores mais salgados para os consumidores nas gôndolas dos supermercados.
Em setembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, acelerou para 0,64%. É maior alta para o mês desde 2003.
Com o resultado, o IPCA acumulou avanço de 3,14% em 12 meses. Embora indique elevação, a marca ainda está abaixo do centro da meta de inflação perseguida pelo BC, de 4%, em 2020.
– O Copom não deve aumentar o juro agora. A inflação impacta o bolso de quem vai ao supermercado, mas o setor de serviços, com menor demanda, tem ajudado a manter os preços, no geral, sob controle. Fala-se em aumento na Selic no próximo ano – pontua Denilson Alencastro, economista-chefe da gestora Geral Asset.
Analistas do mercado financeiro consultados pelo boletim Focus, do Banco Central, projetam o IPCA em 2,99% no acumulado de 12 meses, ao final de 2020, indica estimativa divulgada na segunda-feira (26). A previsão da semana anterior era menor, de 2,65%.
Já a expectativa para a Selic permaneceu em 2% neste ano. Em 2021, a projeção é de alta no juro, para 2,75%.
"Beco sem saída"
Especialista no setor financeiro, João Augusto Salles também aposta na manutenção da taxa em 2% na reunião desta quarta. Entretanto, o economista avalia que uma elevação na Selic virá ainda em 2020, mais cedo do que apontam previsões do mercado.
– Não tem mais como segurar (o juro na mínima) por muito tempo. O Banco Central está em um beco sem saída. Deve mexer na Selic, mas não deve fazer isso agora para não criar ruído na atividade econômica, que vem se recuperando da crise – argumenta.
Para Salles, embora o IPCA esteja sob controle no momento, o avanço dos preços acende alerta:
– Há pressão do dólar em alta, tivemos desencontro entre oferta e demanda na pandemia. A inflação chega a preocupar, mas ainda não descarrilou. Não saiu dos trilhos.
De acordo com Alencastro, a incerteza em relação ao quadro fiscal do país é um dos fatores que devem pesar para o Copom manter a Selic inalterada nesta quarta. Com a chegada do coronavírus, o governo federal teve de lançar pacote de estímulos à economia, incluindo o auxílio emergencial para trabalhadores informais.
O efeito colateral foi a disparada do endividamento, e ainda não há clareza sobre as medidas de contenção de gastos em 2021. Até agora, a agenda de reformas e privatizações esbarrou em dificuldades políticas e na pandemia.
Taxa Selic e inflação
- A crise do coronavírus derrubou a economia brasileira, forçando pacote de estímulos à atividade produtiva. Um dos incentivos veio dos cortes em sequência na taxa básica de juro
- Nesta quarta, encerra-se a penúltima reunião do comitê em 2020
- A expectativa é de o juro permaneça no nível atual, enquanto a economia ensaia reação
- Por outro lado, o aumento na inflação deve resultar em alta no juro em reuniões posteriores. O mercado financeiro projeta que isso ocorrerá em 2021, mas há analistas que não descartam uma elevação ainda em 2020. O próximo encontro do Copom está agendado para dezembro
- A eventual alta representaria uma tentativa de frear o aumento nos valores cobrados por mercadorias diversas, incluindo alimentos. Durante a pandemia, esses itens passaram a subir com o dólar em disparada e o auxílio emergencial, que turbinou a demanda interna