O novo responsável pela área de privatizações do governo Bolsonaro terá poder para indicar cerca de 300 cargos em conselhos de administração e direção de estatais. Esse é o número de vagas que o Ministério da Economia tem direito a preencher em 197 empresas. Nas maiores, o salário pode chegar a R$ 120 mil mensais.
O ministério, por exemplo, é "dono" de 20 e indica a maioria dos conselheiros dessas empresas — entre elas os bancos públicos Banco do Brasil, Caixa, BNDES, BNB e Banco da Amazônia, além de Casa da Moeda, Dataprev (que processa a folha do INSS), Emgea (gestora de ativos) e Serpro (de processamento de dados). Nesse caso, todos os assentos da União nos conselhos de administração são da secretaria de Desestatização, Desinvestimento e Mercado, cargo quer era ocupado por Salim Mattar.
No Banco do Brasil, por exemplo, das oito vagas, o ministério indica cinco: o presidente e quatro assentos. Os três restantes são dos empregados e dos de acionistas minoritários. A pasta também tem direito — embora nem sempre exerça — de indicar todos os membros dos conselhos de administração de estatais incluídas por decreto no Programa Nacional de Desestatização (PND).
Embora cobiçadas por políticos interessados em apadrinhar indicados e por servidores públicos, as vagas em conselhos nem sempre rendem retornos elevados. Um conselheiro de uma empresa como a Imbel ganha R$ 2 mil mensais. Na Petrobras, o valor é maior e chega a R$ 12 mil. O ministério tem direito a indicar cerca de 150 pessoas para essa função, que normalmente paga 10% do salário dos diretores das mesmas companhias.
O poder do Ministério da Economia também é relevante na indicação de diretores executivos de empresas públicas. A pasta tem direito a indicar cerca de 150 pessoas. Mas, nesse caso, o salário é bem mais atrativo.
Um diretor da Petrobras pode ganhar até R$ 120 mil mensais. Nas estatais de menor porte, o rendimento gira em torno de R$ 25 mil a R$ 30 mil mensais. Para aquelas que possuem política de remuneração variável, quem bate as metas pode obter até 24 salários por ano.
Substituição
Depois que o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou que o empresário Salim Mattar havia pedido demissão, o nome mais cotado para ocupar a área é o da secretária especial do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Martha Seillier. A chefe da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos do ministério, Daniella Marques Consentino, também é cogitada para o cargo.
Martha é servidora pública federal de carreira, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental. Formada em Direito e Economia, ela é considerada braço direito do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. Já foi presidente da Infraero, assessora-chefe da Casa Civil e diretora da Secretaria de Aviação Civil.
A Martha é atribuído o sucesso no programa de concessões de infraestrutura do governo, que já leiloou 30 ativos em rodovias, ferrovias, aeroportos e portos. Até o fim do ano, a previsão é licitar 12 terminais portuários e duas rodovias, além de renovar os contratos de duas ferrovias, um compromisso associado a investimentos cruzados. A fusão entre o PPI e a Secretaria de Privatizações seria considerada natural nesse cenário.
Daniella é considerada os olhos e ouvidos de Guedes. Ela participa de todas as reuniões do ministro, seja com o setor produtivo, seja com parlamentares — com quem negocia os termos da reforma tributária. Embora atue nos bastidores, é considerada uma boa articuladora política, tendo inclusive sido cotada para substituir o general Luiz Eduardo Ramos na Secretaria de Governo.
Ao contrário de Martha, Daniella não é funcionária pública. Sua escolha reforçaria a "guerra" que ocorre nos bastidores do Ministério da Economia entre servidores e nomes do mercado.