Os pedidos de demissão de dois secretários do Ministério da Economia reforçam as dificuldades para a aprovação de reformas defendidas por Paulo Guedes, titular da pasta. Mais do que isso, podem ameaçar os rumos do ministro no governo Jair Bolsonaro. Essa é a avaliação de analistas do mercado financeiro.
Na noite desta terça-feira (11), Guedes afirmou em entrevista que houve uma "debandada" de integrantes do Ministério da Economia. A fala se refere aos secretários especiais Salim Mattar, de Desestatização, e Paulo Uebel, de Desburocratização, Gestão e Governo Digital.
Conforme Guedes, ambos pediram demissão nesta terça. Dificuldades de avanço na agenda de privatizações e na reforma administrativa teriam motivado as solicitações.
— O Salim me disse hoje o seguinte: "A privatização não está andando. Prefiro sair". E o Uebel me disse o seguinte: "A reforma administrativa não está sendo enviada. Prefiro sair". Esse é o fato. Essa é a verdade. Não escondo — disse Guedes. — Se você fala "hoje houve uma debandada", hoje houve — emendou, durante a entrevista.
O anúncio provoca "clima de apreensão" no mercado financeiro, aponta em relatório o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito. "A saída de Salim Mattar e Paulo Uebel deixa claro que não está sendo possível avançar na agenda econômica de Guedes na velocidade em que ele e sua equipe entendem como adequada", diz Perfeito.
Na visão do analista, o cenário "já estava muito ruim" em relação ao andamento de reformas. Sem avanço na agenda, o clima para o ministro dentro do governo "pode se tornar pesado de vez", avalia Perfeito. "As reformas não irão trazer alívio econômico de curto prazo, e isto tem consequências políticas, mas é absolutamente necessário para Guedes e equipe manter acesa a bandeira das reformas, caso contrário sua presença pode se tornar inoportuna ao presidente (Bolsonaro)", acrescenta.
Economista-chefe da Geral Asset, Denilson Alencastro também observa que a saída dos secretários pode abalar ainda mais o andamento de projetos almejados pelo ministro.
— Não é um sinal muito positivo. Obviamente, em termos de agenda, a saída dos secretários acaba travando as propostas — pontua Alencastro.