SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Para voltar a funcionar durante a pandemia, academias que já começaram o processo de reabertura tiveram que mudar tudo, desde a grade de aulas até a organização dos espaços.
É o que mostra uma pesquisa realizada pela Les Mills Brasil, empresa neozelandesa de aulas coletivas de ginástica que atua em mais de mil estabelecimentos de todo o país.
Entre as mudanças, estão: redução no quadro de aulas em grupo, distanciamento de até quatro metros entre os alunos com demarcações de espaços no chão, restrição ao uso de vestiários, horários de treino específicos para grupos de risco e obrigatoriedade de utilização de máscaras.
Os estabelecimentos estão seguindo orientações de saúde estabelecidas pelos governos locais. Em Santa Catarina, por exemplo, onde as academias começaram a reabrir no final de abril, a recomendação é que os espaços recebam até 30% da ocupação máxima. A permanência de cada aluno no ambiente deve ser de no máximo 60 minutos, com distanciamento de 1,5 metro entre cada pessoa durante o treino.
Além de mapear as novas práticas das academias, a pesquisa da Les Mills Brasil também ouviu mil frequentadores dos espaços, entre os dias 27 de maio e 7 de junho.
Os dados mostram que 56,3% dos alunos mantiveram uma rotina de prática de exercícios em casa na quarentena e 87,2% afirmaram que suas academias disponibilizaram treinos online.
O retorno às aulas presenciais, porém, ainda é tímido: para 57,1% dos frequentadores, o receio de contágio do novo coronavírus os impede de voltar à academia.
Mesmo com os cuidados, os negócios só devem recuperar o público e a receita de antes da Covid-19 em um ano, estima Pedro Badur, diretor de marketing e experiência do cliente da Les Mills Brasil.
Entre os espaços da empresa que já reabriram e oferecem aulas, que incluem 13 modalidades, a frequência média atual é de 25% dos alunos.
"Mesmo quando a pandemia estiver superada, é esperado que uma parte dos alunos continue treinando em casa, utilizando plataformas digitais alguns dias", diz Badur.
Segundo ele, o coronavírus acelerou o uso da tecnologia nos treinos, movimento que já vinha se desenhando no mercado fitness, especialmente entre o público mais jovem.
Outra pesquisa realizada pela empresa em 2019, com alunos de academias de 22 países, mostrou que 89% das pessoas que fazem exercícios remotamente pertencem às gerações Z (nascidos entre 1995 e 2010) e millennials (nascidos entre o início dos anos 1980 até meados dos anos 1990).
O impacto da pandemia sobre as redes ainda não foi dimensionado, mas dados da ABF (Associação Brasileira de Franchising) para os segmentos de saúde, beleza e bem-estar apontam para uma retração de 0,5% no primeiro trimestre de 2020, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Para Beto Filho, presidente da ABF Rio, a retomada do segmento não deverá ocorrer antes de seis meses.
"Os serviços terão que se moldar às expectativas e aos receios do consumidor. Ter uma estratégia digital é fundamental", diz. As aulas online foram a arma de sobrevivência adotada por 89% dos associados da ABF na quarentena.
Além de maior cuidado com a higiene dos espaços, a pandemia vai trazer novos paradigmas para o mercado fitness. Academias menores ou direcionadas para públicos específicos (terceira idade, por exemplo) deverão ter a preferência dos consumidores.
Também serão mais procurados os estabelecimentos que oferecem programas para promover o bem-estar --aulas voltadas para saúde mental, como ioga e mindfulness, devem ganhar espaço.
"As pessoas vão valorizar a necessidade de cuidar do corpo e da mente. As academias deixarão de ser espaços para o culto à forma física", diz Filho.
Dona de um espaço voltado para a reabilitação e fortalecimento da musculatura, Ana Luisa Marçal Sampaio fez algumas mudanças para a reabertura de sua franquia do Instituto Pilates em Guarulhos (Grande São Paulo).
O estúdio voltou a funcionar no final de maio --como oferece fisioterapia, é considerado serviço essencial.
Além de aumentar os cuidados com a limpeza de aparelhos e tatames e tornar obrigatório o uso de máscaras por alunos e equipe, ela alterou a metodologia dos atendimentos: se antes cada fisioterapeuta atendia até dois alunos por aula, agora o máximo permitido é um profissional por aluno, com maior espaçamento entre os atendimentos.
Por enquanto, apenas 30% dos alunos voltaram às aulas. "Muitos estão receosos por serem parte de grupos de risco ou por terem se adaptado aos treinos online", diz Sampaio.
Ela diz não ter perdido alunos na quarentena. "Estamos até com matrículas novas agora na retomada", afirma.