
Especialistas frisam que a retomada econômica depende do comportamento da pandemia nos próximos meses. Neste momento, não há clareza sobre a duração do coronavírus no país. Enquanto o Rio Grande do Sul inicia reabertura gradual da economia, outras regiões brasileiras sofrem mais para conter o avanço da covid-19. Com as incertezas no radar, parte dos empresários tende a aguardar antes de fazer investimentos.
– O país vive três crises combinadas: a de saúde, a econômica e a política. Além disso, antes da pandemia de coronavírus, a economia já vinha em ritmo lento – define Adalmir Marquetti, professor da Escola de Negócios da PUCRS.
No primeiro trimestre, a formação bruta de capital fixo subiu 3,1% no país, em relação ao intervalo de outubro a dezembro de 2019. O indicador mede aportes feitos por empresas para ampliação da capacidade produtiva. Apesar da alta, o resultado não sinaliza, necessariamente, melhora econômica, já que foi puxado pelo setor de óleo e gás, que passou por recentes mudanças contábeis, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
– Ainda não sabemos quanto tempo a pandemia vai levar. A única certeza que temos no momento é de que o golpe na economia será forte – sublinha o economista Marcelo Azevedo, da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Antes do coronavírus, o Brasil ainda tentava afastar a herança da recessão de 2015 e 2016. Penúria fiscal e baixo crescimento já causavam preocupação à época, ao contrário do que era visto em países desenvolvidos. Por causa das peculiaridades brasileiras, economistas evitam comparar o desafio local de atrair investimentos com o de outras nações.
– Não havia um país com a mesma situação em que estávamos antes da crise. Tínhamos 12 milhões de desempregados, e a economia vinha andando de lado – aponta Claudio Considera, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
Superintendente de pesquisa econômica do Itaú Unibanco, Fernando Gonçalves ressalta que o país vive estágio diferente da covid-19 em relação a outras nações. Na Europa, por exemplo, há locais em que a curva de contaminação caiu, e a reabertura de negócios ganhou velocidade, situação oposta à registrada na maior parte do Brasil.
– Outras economias vão cometer erros e acertos na retomada daqui para frente. A partir de agora, podemos aprender um pouco com essas regiões – menciona Gonçalves.
Propostas retidas à espera de maior clareza
A chegada do coronavírus provocou nos últimos meses uma revisão em planos de investimentos de empresas. Em razão das incertezas que surgiram com a pandemia, tanto grandes companhias quanto marcas de menor porte resolveram adiar desembolsos.
Nascida no Estado, a Gerdau, ao anunciar o balanço do primeiro trimestre, confirmou que reduzirá em R$ 1 bilhão os investimentos previstos para 2020. Com isso, os aportes devem cair de R$ 2,6 bilhões para R$ 1,6 bilhão até o fim do ano. "A Gerdau revisou seu plano de investimentos, uma vez que paralisou obras em andamento, e passará a ser mais conservadora na aprovação de projetos em virtude das incertezas de mercado", relatou a companhia.
Com fábrica em Gravataí, na Região Metropolitana, a General Motors (GM) também resolveu postergar desembolsos. Em nota, a montadora afirma que o "adiamento de investimentos" foi uma das medidas adotadas para preservar empregos no país. A companhia não detalha se a decisão impacta a unidade gaúcha.
A espera por maior clareza no cenário vai além da indústria. Criada há 21 anos em Porto Alegre, a agência We Can BR iniciava plano de expansão quando a pandemia chegou ao país. Especializada em processos de seleção para vagas de trabalho temporário, a empresa inaugurou em fevereiro sua primeira operação em São Paulo. Com o avanço da covid-19, percebeu o aumento nas incertezas e resolveu paralisar aportes previstos para a unidade paulistana e a capital gaúcha. Em Porto Alegre, a ideia era reestruturar a sede. O pacote de investimentos somava cerca de R$ 500 mil nos dois municípios.
– Optamos por ficar com o caixa reforçado neste momento de incertezas. Não sabemos até quando vai a pandemia. Pretendemos rediscutir o plano de investimentos a partir de agosto – conta o diretor-executivo da We Can BR, Flávio Nascente dos Santos.