A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) apresentou, nesta terça-feira (21), uma projeção dos desempenhos do Produto Interno Bruto (PIB) na região diante do impacto da pandemia do coronavírus. Na apresentação, Alicia Bárcena, secretária-executiva da entidade, afirmou que a região deve ter uma contração de 5,3% em 2020. Já o Brasil poderia sofrer uma queda de 5,2%.
— Para encontrar uma contração de magnitude comparável, é preciso voltar até a Grande Depressão de 1930, quando houve um encolhimento de 5%, ou mesmo em 1914, de 4,9%. A situação atual é a mais grave da história da região — afirmou.
Entre os setores de maior impacto, apontou que seriam o do comércio internacional e o do turismo, o que afeta principalmente os países do Caribe, mas também, em níveis diferentes, a quase todas as outras nações da região:
— Estimamos que a taxa média de desemprego na região será de 11,5%, o que significa um aumento de 3,4 pontos percentuais com relação ao nível de 2019, que foi de 8,1%. Assim, o número de desempregados chegaria a 37,7 milhões de latino-americanos.
A Cepal afirmou que a maioria dos países tomou medidas como "restrições de viagem, educação a distância — com enormes assimetrias em termos de conectividade —, distanciamento social, fortalecimento do sistema de saúde". Do ponto de vista da proteção do trabalho, a Cepal vê com bons olhos as negociações de tratados e acordos.
— Mas que os governos têm de proteger as populações mais vulneráveis e o todo o setor informal, que é muito grande na região, tendo em mente que os efeitos da pandemia vão durar até bem depois de ela ter passado — disse Bárcena.
A secretária-executiva aconselhou os governos a seguirem com as políticas de apoio a empresas, principalmente as pequenas e médias, para que tenham possibilidade de se recuperar depois da pandemia. Entre as ferramentas possíveis, além das injeções de ajuda, estão as linhas de crédito a baixo custo:
— É preciso que se faça um acompanhamento do dinheiro investido para garantir o trabalho quando a pandemia passar, que ninguém sabe quando será, mas os países devem se preparar para um período especial de três a seis meses. É uma crise de enorme magnitude, sem precedente, não haverá progresso se não houver solidariedade. A economia mundial não vai voltar à normalidade depois da pandemia. As consequências serão sentidas por muito tempo.
A Cepal prevê uma queda nas exportações da região em "cerca de 15%", e que os maiores impactos se dariam na América do Sul, onde os países se especializaram em exportação de bens primários e que, por isso "são mais vulneráveis à diminuição de seus preços". A Cepal ainda crê que haverá um redesenho da globalização no mundo pós-covid-19, e que este se voltará a mais à cooperação entre países da própria região.
— É preciso repensar o modelo de inserção da região e as alternativas de reativação à luz das mudanças estruturais que ocorrerão depois da pandemia — apontou.
Bárcena mencionou a lei de emergência chilena como uma das melhores na região com relação à ajuda ao trabalho informal. E que o México também tem um bom plano para proteger suas empresas, "além de uma linha de crédito com o FMI a que pode acudir".
Sobre a Argentina, Bárcena disse que a inflação preocupa, por ser alta (55% ao ano). Mas não está fora de controle por conta da quarentena e da restrição cambiária que está sendo aplicada. Além disso, a prioridade do país, na economia, é reestruturar de modo sustentável sua dívida externa. E acrescentou que a proposta de retomar os pagamentos da dívida em três anos "é audaz e merece apoio. O país que não cresce, não pode pagar".